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Jornal Olho nu - edição N°191 - Outubro de 2016 - Ano XVII |
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Surf nu e correlatos por Pedro Ribeiro*
O projeto SURF NU organizará no próximo ano a décima edição do Tambaba Open de Surf Naturista, a única competição oficial do gênero no mundo. Muitos receiam que será o último evento, porque seu idealizador desde a primeira edição, Carlos Santiago, já declarou que sua meta foi atingida e por conta disso não ficará mais à frente da famosa competição. Ele explica que "está na hora de haver renovação para que novos ares possam ser respirados e novas ideias e estilos possam eclodir". Mas ele acredita que o Tambaba Open já virou tradição, tanto no calendário oficial do Naturismo brasileiro, quanto no calendário oficial da competição de surf no estado da Paraíba. "Não há motivos para ele deixar de existir e estará com certeza sempre crescente". Carlos aposta que no futuro haverá um circuito nacional e até mesmo mundial de surf nu. Ele vai pedir a inclusão da décima edição no calendário oficial de eventos da Federão Internacional de Naturismo (INF) do próximo ano.
O tema desta Nona edição que ocorreu agora em setembro foi focado em "O Lixo Marinho", encontrado nas praias, que provoca danos tanto à fauna marinha quanto ao próprio homem. Através de parceria entre a organização do campeonato com a SONATA (Sociedade Naturista de Tambaba) foi realizado trabalho de reutilização através de uma pequena exposição de ideias e montada na praia mostrando à população a importância da reutilização e da reciclagem do lixo, antes de jogá-lo fora.
Apesar de toda visibilidade que o Tambaba Open de Surf tem na mídia, inclusive na não naturista, conseguir patrocínio de peso para a realização do evento é tarefa quase impossível. As grandes empresas ainda têm inexplicavelmente receio de associar sua marca ao Naturismo. Calos reconhece que é muito difícil de obter patrocínio até mesmo para eventos comuns, mas quando se fala de naturismo as dificuldades triplicam. A quase totalidade dos patrocinadores é de pequenas empresas, muitas das quais naturistas, que trocam a divulgação do seu nome por serviços. Dinheiro acaba vindo, com muita dificuldade, de órgãos ligados ao governo como Secretarias de Turismo. "O Tambaba Open é feito de coração, na raça, na coragem, sempre perseverando, sempre acreditando que vai dar certo", resigna-se Carlos.
Como sempre tem ocorrido a cada nova edição, a expectativa era de ser crescente o número de participantes também para o evento deste ano. Mas houve uma redução no número de inscritos, que não chegou a atingir 25, muito aquém do ano passado quando 40 surfistas competiram. Carlos atribui a redução à coincidência das datas de diversos outros campeonatos de surf na região, que também valem pontuação para o circuito estadual. No entanto houve uma quantidade maior de novatos participando do surf naturista pela primeira vez, graças à parceria com a Associação de Surf Costa do Conde no intuito de trazer mais atletas para participar, tanto que resolveram estabelecer nesta ano uma nova categoria, a de Iniciante, que pretende ser o início da renovação do quadro de atletas do Tambaba Open.
Nudismo inclusivo
Enquanto que, naquele mesmo final de semana, a cidade do Rio de Janeiro sediava os dois últimos dias das competições dos Jogos Paralímpicos, com enorme sucesso no seu objetivo maior de inclusão de todas as pessoas com deficiências físicas, tornando-as visíveis à sociedade e participativas, mostrando que o ser humano é capaz de superar muitos obstáculos, na Paraíba ocorria os dois dias de competição do 9º Tambaba Open de Surf Naturista. E foi no sábado que Eduardo Holanda, 36 anos, visitou a praia de Tambaba no lado naturista pela primeira vez. Pernambucano, mas morador de João Pessoa, tem uma prótese no lugar da perna esquerda, esta perdida em um grave acidente de motocicleta há exatamente 9 anos. Nadador e praticante de surf ele contou sua experiência ao Jornal OLHO NU.
"Antes de eu perder esta perna, dias antes de meu aniversário em 2007, eu era uma pessoa muito sedentária, nunca pratiquei esporte em toda minha vida. Após a amputação, 15 dias em coma e recuperação comecei a procurar atividades esportivas como forma de terapia pelo trauma. Comecei em basquete em cadeira de rodas, não me adaptei, então fui para natação, gostei. Fui para competição e até hoje consegui duas medalhas como campeão na modalidade no (Torneio) Norte-Nordeste de Natação, em Teresina, no Piauí. Foi então com a natação nas praias que eu descobri o surf. Eu sou conhecido como Capitão Gancho"
"Eu achava que com uma perna só eu não poderia surfar. Como é que eu poderia subir numa prancha sem uma perna? mas eu descobri que havia uma perna mecânica que é feita especial para água, com uma sucção bem forte, diferente desta daqui (apontou a perna) que é para passeio. Então decidi, vou experimentar o surf. Tenho um colega que não tem o braço nem a perna e ele surfa. Eu achava incrível. Foi Flávio quem me levou para um trecho da praia em Galo Branco, onde há uma barraca onde há trabalho de estímulo para a prática de esportes por pessoas deficientes. Me deram um pranchão e comecei a experimentar deitado na prancha. Mas eu queria ficar em pé. Flávio me incentivou e comecei a me arriscar. Foram muitos tombos e hoje já pego ondas pequenas. Acho que ainda não dá para ir para o Havaí."
"Quando eu tinha as duas pernas eu tinha baixa auto-estima. Hoje eu tenho auto-estima e amor próprio. Assim que eu perdi a perna eu entrei em depressão, chegando até a tentar me matar. Foi o esporte que me modificou e me abriu caminhos. Hoje em dia eu faço coisas com uma perna só que jamais pensei em fazer quando eu tinha duas. Inclusive entrar na parte naturista de Tambaba. Hoje é a minha estreia. Pensava que fosse ficar excitado, mas estou tranquilo e adaptado. Achei tão natural todo mundo nu, que não há excitação. Vim várias vezes lá do outro lado, mas não tinha coragem de entrar. Entrei com perna mecânica e tudo. E estou me sentindo muito bem."
O artista de Tambaba
Amós é o nome do artista plástico naturista que tem um pequeno negócio na parte não naturista da praia de Tambaba. Ele quem pintou os dois murais que ficam a uns 50 metros antes da entrada para o lado naturista. Os turistas mais "medrosos" adoram tiram fotos de sua obra interativa, para provar aos amigos que estiveram na famosa praia de nudismo.
Amós Antonio de Souza, 64 anos, já foi até segurança na praia de Tambaba há mais de dez anos. Mas resolveu se dedicar apenas a sua arte, que já teve várias fases na escolha do tema a ser retratado, figuras humanas, no entanto, é o que mais gosta de fazer. Nas duas primeiras edições do Tambaba Open foi ele quem elaborou as medalhas entregues aos campeões. Inspirado pela ideia dos Jogos Olímpicos que se realizavam naquele ano de 2008, como neste ano, resolveu fazer as três categorias de medalhas: a de ouro, prata e bronze, reutilizando latinhas de refrigerantes e cervejas, que foram customizadas para o evento. "As feitas de ferro foram as de bronze, receberam uma temperatura para ficarem bronzeadas, as de alumínio viraram as medalhas de prata e de ouro, estas também receberam um calorzinho para dourar" conta o segredo.
Trabalha na praia desde 2003, mas muitos anos antes antes já frequentava a praia como banhista naturista de vez em quando, mas depois que foi morar em Jacumã (um distrito de Conde), começou a trabalhar na praia. Antes de alugar suas pinturas para o turistas tirar fotos, ele vendia suas obras com paisagens da praia e motivos florais em telas menores na barraca de transição entre a praia não naturista e a naturista enquanto ficava no serviço de segurança.
"Alguns curiosos, que não tinham coragem de ir além da escada colocavam um jornal no chão, sentavam-se e pediam para que eu tirasse uma foto deles com a praia ao fundo para parecer que eles tinham entrado na parte naturista. Foi aí que me deu o estalo para ganhar um dinheirinho com essa ideia..." conta. "Teve um bom resultado. As telas eram bem mais difíceis de vender por causa do preço que eu pedia, aqui dá para todo mundo, é bem baratinho".
Aposentado das indústrias Klabin onde atuava como designer, hoje Amós completa sua pensão com o que arrecada com este comércio. "Há dias, parece, que as pessoas combinam para ninguém tirar fotos e em outras ocasiões fazem fila. Eu prefiro não trabalhar aos domingos que é o dia de maior movimento, mas de pouca procura. Acho que é o dia dos moradores locais virem á praia", conclui.
O SURF NU em Amor & Sexo: verdades secretas
Manoel de Souza, surfista potiguar de nascimento, é frequentador e competidor do surf de Tambaba. Ele foi um dos atletas convidados a participar do programa Amor & Sexo, da Rede Globo, exibido em fevereiro deste ano. Ele conta como foi a participação do grupo de maneira anedótica:
"Pra mim foi coisa de outro mundo, porque a galera que foi comigo ficou tudo nervoso. Quando a operadora de palco chegava no camarim para falar que havia 50 pessoas na plateia, a galera ficava tudo tranquila. Quando ela saía, eu abria a aporta do camarim, voltava, tirava o roupão e dizia: galera, não são 50 pessoas. São 350! Então a galera dizia que não iria entrar mais, porque o combinado havia sido combinado que o número de espectadores seria apenas de 50. Eu falei: meu irmão, brother, a gente já está aqui, a gente tem que enfrentar a parada. Então todo mundo querendo desistir. O Carlos Santiago dizendo não, cara, vamos fazer o que o Manoel está dizendo... Meu irmão, vamos fazer o seguinte, cara, eu vou ser o primeiro a entrar, vou puxar o trio. Aí foi que a galera se inspirou mesmo e... quando ela (Fernanda Lima) falou para a plateia: hoje tem novidade, vocês querem ver? O surf nu da praia de Tambaba? Podem entrar. - Eu já fui o primeiro a entrar, todo mundo gritando, fui levantando a mão pedindo para bater palmas. Pensei que a galera não vinha, quando olhei para trás eu vi uns querendo - Vambora galera, e foi irado."
Manoel disse que se os outros não tivessem entrado junto com ele o mico seria pros outros e não para ele, pois estava cumprindo seu papel. "Eu estou muito feliz por ter participado dessa história aí. Na verdade, eu nem queria ir. Foi minha mulher que me convenceu dizendo que era uma oportunidade que estava aparecendo na minha vida, que nem agora para este evento, que eu deixei de participar de uma competição em Natal para vir para cá. Afinal sou capa do Tambaba Open de Surf deste ano (Manoel é a o surfista que ilustra o cartaz de divulgação) e seria não profissional prestigiar aqui. E eu quero estar dentro sempre, em outras oportunidades.
Outro surfista que também participou do programa e que também competia nesta edição do campeonato, o paraibano João Emídio, revelou que o nervosismo lá na hora da gravação do programa era intenso, porque ficar nu diante de mais de 300 pessoas, todas vestidas, é diferente de ficar nu na praia com todo mundo nu igualmente. "Lá você é o centro das atenções, né? Parecia ser um grande ídolo, ainda mais pelado, pô! O que a gente foi fazer lá, foi a divulgação disto aqui, do Naturismo e do surf nu. Muita gente tem outra visão do que é isso aqui. Muita gente tem um tabu para entrar na praia de nudismo. Muitos quando entram não querem ficar sem roupas, outros acham que é uma bagunça. A gente quer é divulgar isto daqui, o que agente faz, o campeonato de surf, gente jogando bola, outros frescobol" pondera. "Creio que após a exibição do programa tenha aumentado a curiosidade do povo. Chega mais gente na portaria e agente dá uma visão do que pode ser aqui dentro. O povo cria uma coragem e acaba entrando... Tá mudando a visão, o povo está ficando com a mente mais aberta", conclui.
*Editor do jornal OLHONU
(enviado em 1/10/16 por Pedro Ribeiro)
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