Prosa
Mínima (1)
por Paulo Pereira
O
assunto pode até ser eventualmente considerado um tanto recorrente,
mas é indispensável perceber claramente, aí sim, que a recorrência
é, sobretudo, da velha ignorância, quase sempre aliada à repetida
desinformação, à superficialidade, aos preconceitos, ao culto
irracional do pudor hipócrita e ao vício do cômodo palpite...
Refiro-me novamente à questão do medo e da rejeição da nudez, do nu
afinal, até mesmo na escrita de alguns e nas conversas informais dos
afoitos. Os pudicos inveterados, ou por encomenda, esquecem a nossa
nudez natural, a nossa origem como seres da natureza soberana. O
chamado “macaco nu”, no dizer do Desmond Morris, elucubra sempre.
E,
para todos os companheiros e simpatizantes naturistas, parece-me
fundamental procurar lembrar, com seriedade, a verdade
histórico-filosófica do Movimento, que é conhecida e afirmada desde,
pelo menos, o início do século XX, com Richard Ungewitter, na
Alemanha, conforme saliento, inclusive, no meu ensaio “Da Identidade
Nua”, 2015, Jornal Olho Nu. E, ainda recentemente, em novembro de
2016, a Federação Brasileira de Naturismo (FBrN) esteve representada
no Congresso Internacional, realizado na Nova Zelândia, pelo ilustre
amigo Pedro Ribeiro, fato que destaco com ênfase. Seria, então,
oportuno, e muito importante, salientar, aqui e agora, que, pelo
menos oficialmente desde 2004 (Croácia), há uma decisão da INF –
Federação Naturista Internacional que estabelece concretamente a
completa igualdade, ou uso equivalente, dos termos “nudismo”,
“naturismo”, “nudista” e “naturista”, o que, afinal, faz justiça à
história e aos fundamentos consagrados do Movimento.
É
preciso anotar, diante dos fatos, que o referido congresso de
novembro de 2016 foi realizado, repito, na Nova Zelândia, membro
oficial da INF, que tem seu registro oficial, a exemplo da vizinha
Austrália, anotado da seguinte forma: “NZNF – New Zeland Nudist
Federation/ NZ – Auckland – NSMN”... É oficial. É histórico. É
inconteste. O termo “Nudist” está consagrado. Então, em vez de
palpite e de clichês tolos, prestigiemos a livre escolha, a verdade
histórica, o bom conhecimento, o não-preconceito ao nu.
A
propósito, das belas páginas da sabedoria árabe recolho palavras
nobres do famoso escritor libanês Khalil Gibran, em “The Prophet”,
um apelo lúcido a uma reflexão profunda e desarmada: “E um tecelão
disse: falamos das roupas... E ele respondeu: vossos trajes ocultam
muito da vossa beleza, porém não escondem o que não é belo... Embora
procureis nos trajes a proteção libertadora da vossa intimidade,
neles podeis encontrar arreios e cadeias. Pudésseis enfrentar o sol
e o vento com mais epiderme e menos roupa, pois o sopro da vida está
na luz do sol e a mão da vida está no vento”...
O texto e as
magníficas ilustrações de Gibran (mostrando com arte e pureza muitos
corpos nus irmanados) são um convite à alegria de viver livremente.
Ao nascer e depois da morte, sobretudo, estamos todos totalmente
desnudos ante a amplidão do existir.
(enviado em 27/11/16
por Paulo Pereira) |
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