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Jornal Olho nu - edição N°209 - Abril de 2018 - Ano XVIII |
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INVERSÃO (Performance teatral naturista) de Iran Lamego
Personagens: Diretor
Única cena
* Um diretor teatral em atividade dirigindo quatro atores em cena. Ao redor uma equipe técnica de 5 pessoas: assistente de palco; diretor auxiliar; iluminador; sonoplasta; cenógrafo. Todos envolvidos em suas atividades.
Diretor – Estamos atrasados. Alguém saberia me informar se o sonoplasta já chegou?
Sonoplasta – (chegando) Já estou aqui! Desculpem-me o atraso. Som, testando...
Diretor – Atores em cena. E os adereços?... Cadê o assistente de palco?
Cenógrafo – Você disse que ele fosse ver o que estava acontecendo lá fora... Lembra?
Diretor – (impaciente) Mas porque demora tanto...
Ator 2 – Já está vindo aí...
* Entra o assistente de palco, esbaforido.
Assist. de palco – Diretor temos um problema!
Diretor – Não me faltam problemas nesta produção, fale mais um...!
Assist. de palco – Está ocorrendo uma manifestação aí em frente ao teatro.
Diretor – Manifestação, logo hoje na véspera da estreia! (Tira um cigarro, diretor auxiliar tira-lhe da boca). Que isso?...
Diretor aux. – Por força de contrato não podemos fumar nas dependências do teatro, não temos mais recursos para pagar indenizações...!
Diretor – (ironizando) Não pode isso, não pode aquilo...
Assist. de palco – E os manifestantes diretor?
Diretor – Tudo ao mesmo tempo. (Faz o gesto que vai acender outro cigarro e o diretor auxiliar mostra o contrato) Porque eles não vão se manifestar lá em frente à sede do governo. Não temos culpa da crise em que o país passa...
Assist. de palco
– O protesto não é por causa do governo.
Assist. de palco – Venha ver aqui. (vão em direção a uma janela imaginária).
Diretor – O que é aquilo?... (Retornando ao lugar de origem) Ficaram loucos?
Assist. de palco – Eles querem uma peça teatral têxtil. (Alguns apreensivos, outros indiferentes, alguns ironizam...).
Diretor – Como
é que é?
Atriz 1 –
Interessante...
Ator 2 –
Diferente...
Diretor Aux. –
Inovador...
Assist. de palco
– Estão exigindo o direito de serem têxteis! Por isso querem uma
peça que expressem suas idéias e sem censura.
Diretor – São
loucos! (Vai novamente em direção a janela, outros acompanham).
Estão no meio do povo desse jeito, não respeitam nem as crianças.
Olha só todos vestidos...
Ator 1 –
Devemos admitir... são corajosos.
Atriz 2 – Não
vi nenhuma atitude amoral, embora não seja natural.
Assist. de palco
– Eles insistem em falar com o senhor!
Diretor –
Comigo? Eles têm que falar é com os políticos que elaboram as leis e
fazem o que bem entendem de nosso país. Com o judiciário que
sentenciam as leis contrárias aos seus direitos têxteis.
Assist. de palco
– Está ouvindo? Diretor está ouvindo? (Vozes fora de cena conclamam
o nome: Fábio! Fábio!).
Diretor – (Com
as mãos a cabeça) Com essa loucura acabou nosso ensaio! Não quero
ver um grupo de pessoas vestidas desfilando no local onde faremos
nossa estreia. (irônico) E por força de contrato não seria proibido
entrar no teatro com roupas...?
Diretor aux. –
Não diz nada sobre isso. Diz que não se podem cometer atentado ao
pudor, atos obscenos, erotização do corpo, desrespeitar a
naturalidade do corpo...
Diretor –
Então... Aí estão Vários motivos para não recebê-los...
Ator 2 - Embora
não ache natural como eles vivem, mas, eles não estão infringindo a
lei. Não tem nada de imoral, amoral, indecente, nem mesmo atentado
ao pudor só pelo fato de serem têxteis. Acho que deveríamos
recebê-los.
Atriz 1 –
Diretor desculpe-me a intromissão, mas, pesquisei nas redes e
descobri que são muito organizados, existe uma federação, estão em
quase todos os estados. Encontram-se regularmente, eles têm
organizações comerciais, turísticas, clubes...
Diretor – Como
pode isso, os têxteis tem uma Federação?
Atriz 1 –
Federação Brasileira de Têxteis! Aqueles que vivem mesmo esse
movimento seguem o Código de Ética Têxtil. Acredito que seria bom
recebê-los por causa da imprensa que está aí fora.
Diretor – Eles
poluem ainda mais nosso planeta com esse monte de tralha
desnecessária.
Atriz 2
– De fato, não entendo o porquê de se usar essas coisas o tempo
todo. Aprendemos desde sempre que as roupas são para as necessidades
naturais do corpo e não como troféu. Mas, assim como a gente, eles
também têm o direito de viver como acharem melhor.
Cenógrafo –
Imagine diretor o contraste: corpos naturais x corpos têxteis...
Diretor aux. –
Seria muito bom para divulgar nosso trabalho. Além de que nosso
próximo trabalho seria inovador: uma dramaturgia têxtil!
Cenógrafo – As
cores, as formas... Seria um outro olhar sobre o corpo.
Ator 1 – E
lembremos que amanhã será nossa estreia. Imagina esses manifestantes
com todo esse barulho na hora de nossa apresentação.
Diretor – Muito
bem, muito bem, vamos enfrentar esse problema. Uma vez que assumimos
essa situação, peço no mínimo respeito de todos. Deixem entrar! * Entra o grupo de manifestantes têxteis acompanhado pela policia e imprensa que estão ao natural.
FIM |
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