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Jornal Olho nu - edição N°218 - Janeiro de 2019 - Ano XIX |
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Praia do Abricó, 54 anos de história
Paulo Pereira
Na feliz ocasião em que celebramos os quinze anos da oficialização da praia do Abricó (Grumari) na cidade do Rio de Janeiro, como espaço legal da atividade naturista, conforta-me a certeza do dever cumprido, da árdua tarefa bem realizada, especialmente ao lado do dinâmico amigo Pedro Ribeiro.
Eu, que venho de muito longe, tenho lutado duramente pelo reconhecimento e desenvolvimento do verdadeiro naturismo, da filosofia de vida livre, e pela liberação da Praia do Abricó desde 1964, mesmo durante os difíceis anos de chumbo da antiga ditadura militar, sem alarde ou surto de vaidades. Sinto, no corpo e na alma, uma alegria serena, que se faz atemporal, indelével, e percebo, aliviado, que vale a pena efetuar o bom combate, sempre sem rancores e sem questões pessoais mal concebidos. E não devo esquecer os nomes de, pelo menos, três ilustres companheiros, que estiveram desde cedo, ao meu lado, sem fazer julgamentos: Luz del Fuego, Daniel de Brito e Osmar Paranhos, saudosos guerreiros, nomes qualificados, irmãos de ideal, sinceros humanistas.
Em 1972, enfatizo o registro histórico, na bela cidade de Koversada, a nossa A.N.B. - Associação Naturista Brasileira, legítima sucessora da F.N.I.B., criada por Daniel de Brito, que recebeu seu nome por iniciativa minha, registrada oficialmente na I.N.F. desde 1969, se fez representar formalmente no Congresso Internacional de Naturismo, representando o Brasil, com a presença anotada de Daniel de Brito e Hans Frilman, como delegados, um fato irrefutável, pioneiro, que marcou fortemente nossa luta naturista, um trabalho plural, feito de serenidade e lucidez.
A bela Praia do Abricó é um recanto meio mágico, que tenho visitado regularmente nesses 54 anos de ação e companheirismo fraterno, um lugar de paz e de encantamento, onde vivi momentos inesquecíveis, libertos , "as nature intended", conforme a mãe natureza indomável... São passados longos anos, de luz e sombras, mas sinto, ainda hoje, mesmo aos 81 anos de idade, que tudo foi recompensado porque tenho conseguido perceber o crescimento dos amigos da natureza selvagem, nua, sem máscaras interesseiras. No Abricó, destaco, consegui sempre esquecer as ofensas gratuitas, os preconceitos agressivos, e o cansaço das lides diárias, ao sol que queima sem dor... A Praia do Abricó e a Prainha (APA) são testemunhas vivas das minhas buscas humanistas, desde 1964, sem lenço e sem documentos, e com um pouco de coragem que aprendi com meus mestres caiapós...
Rio de Janeiro, dezembro de 2018
Paulo Pereira é biólogo, naturista fundador da ANB (Associação naturista do Brasil), jornalista e escritor, estudioso do Naturismo. Contato: pereiranat37@gmail.com
(enviado em 18/12/18)
Nota do editor: Conheci a praia do Abricó em 1987, depois de ter ouvido falar, na praia de Copacabana, sobre a existência de uma praia onde as pessoas ficavam nuas. Minha curiosidade foi o motor para me fazer perseverar e descobrir onde ela ficava. Não foi fácil. A Zona Oeste do Rio de Janeiro, para mim, na época, era terra misteriosa, do tipo como acreditavam os descobridores do século XV, que o mundo acabava antes dali e eu iria cair num abismo. O bairro do Recreio dos Bandeirantes, onde a praia geograficamente está localizada, era um imenso areal, com poucas construções distantes umas das outras e de apenas um nível. Nunca tive carro, portanto chegar lá era uma aventura e tanto.
Paulo Pereira foi uma das poucas pessoas que conheci na praia do Abricó, neste tempo, que realmente tinha espírito naturista, pois a grande maioria, já nessa época ia para fazer "pegação". E eu nem sabia muito bem o que era ser naturista, mas já estava na minha alma. Peguei muitas caronas de volta da praia com o Paulo, nas ocasiões em que nos encontrávamos na areia do Abricó coincidentemente. Eu que sempre fui muito mais ouvinte do que tagarela, adorava ouvir as histórias de Paulo a respeito da praia e das aventuras, muito maiores do que as que vivi, que eram para se chegar lá, sem estrada, sem nenhuma infraestrutura, mas com muita força de vontade, desde a década de 60. os "causos" me deliciavam e começaram a me ensinar o que era naturismo. Lembro que nesta época ficar nu na praia do Abricó tinha seus momentos de total tranquilidade e outros de total opressão, dependendo dos humores dos policiais que faziam plantão naquele turno. Paulo foi meu companheiro tanto em bons momentos, quanto em maus momentos. Fomos nos tornando amigos por afinidade e tive como consequência conhecer a história do Naturismo no Brasil, a partir da pioneira Luz del Fuego e das instituições fundadas por ela e por vários outros pioneiros e desbravadores, entre eles o próprio Paulo Pereira.
Paulo é o mais antigo naturista vivo que frequentou a praia do Abricó, quiçá seja o mais antigo naturista vivo do Brasil e merece todo meu reconhecimento e aplausos por toda sua luta e vivência pró-naturismo e coerência.
Pedro Ribeiro Editor
(enviado em 20/12/18) |
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