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Jornal Olho nu - edição N°228 - Novembro de 2019 - Ano XX |
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Cruzeiro pela Amazônia: sete dias de aventuras e experiências inéditas
Grupo de naturistas resolveu encarar o desafio, se juntou para participar do primeiro cruzeiro naturista realizado em rios do Brasil. E ainda mais, navegando pela Selva Amazônica, em condições que poderiam ser muito precárias e até perigosas.
Dezesseis naturistas vindos de várias partes do Brasil, mais uma equipe de tripulantes e de apoio, totalizaram 25 pessoas que lotaram a pequena, porém confortável embarcação de quatro andares, com cabines climatizadas e com banheiros privativos. Foram seis noites e sete dias navegando ou aportados nas águas tranquilas de rios que compõem a bacia amazônica: Rio Negro, Rio Solimões, Rio Amazonas e Rio Urubu. Os naturistas poderiam ficar sem roupas, circulando nas áreas externas do iate Iana I, em todo momento em que se estivesse navegando, bem como nas paradas programadas em praias desertas.
A aventura começou no dia 22 de outubro, no aeroporto internacional da capital amazonense, onde foram recebidos os naturistas oriundos do Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. A maioria nunca esteve na região amazônica antes e tinham expectativas diferentes do que iriam encontrar. O anfitrião Neucedir Valério, dono da Ecomar Turismo, que organizou a viagem, recebeu todos no local e providenciou o transfer para a marina onde estava ancorado o iate.
No iate, uma surpresa. Esperava-nos um almoço cortesia e foi-nos apresentado toda a tripulação e pessoal de apoio que nos serviria até o final do passeio. Essas pessoas teriam a primeira experiência em lidar com o Naturismo e com naturistas. A expectativa deles a respeito era enorme e não sabiam o que iriam encontrar. O comandante do navio foi o capitão Mirisson, ou somente Miro, que, com somente 37 anos de idade, já tem 29 anos de experiência em navegação. Sobre Naturismo Miro já tinha ouvido falar apenas em algumas reportagens de TV. Quando foi convidado para comandar a embarcação, comentou com a esposa Adilane "e aí, como é que vai ser?". Foi ela quem começou a pesquisar e tirar as dúvidas sobre o Movimento. Mas isto não o livrou de se sentir envergonhado quando viu o primeiro naturista nu diante dele, dentro do barco, sentimento que foi inteiramente superado na decorrência do evento.
A esposa de Miro, Adilane, acompanha o marido em seu trabalho por 15 anos, fazendo serviço de apoio nas embarcações. Cursa gastronomia para poder ajudar ainda mais, de forma especializada, nas viagens profissionais do esposo. Apesar de ter estudado e se informado muito a respeito do Naturismo antes do evento, ficou com vergonha ao avistar a primeira pessoa nua.
Após o almoço extra, os naturistas se instalaram em suas cabines e aguardaram a movimentação do Iana I, enquanto exploravam as instalações da embarcação: a sala de refeições, o salão de lazer, com jogos de salão e receptor de TV e o "terraço" com parte coberta, espreguiçadeiras, cadeiras e espaço para ouvir e dançar a música ao vivo, que estava sendo executada todo o tempo pelo músico Baiano, ou Lúcio Flávio para os íntimos, contratado especialmente para a ocasião.
A partida para finalmente iniciar o ansiado cruzeiro foi por volta das cinco da tarde, navegando pelo Rio Negro, um dos rios que banha Manaus. Quando já estávamos a uma certa distância das margens foi autorizada a circulação sem roupas. Rumávamos para a primeira atracação, onde passaríamos a noite e na manhã seguinte desfrutaríamos da primeira praia, enquanto apreciávamos a paisagem magnífica, o entardecer e a noite estrelada e a chuva moderada que vem do nada, típico da região. Logo foi servido o jantar, a primeira refeição incluída no pacote.
Atracamos na Ilha Furo da Luzia, em meio ao rio Negro. A noite transcorreu com jogos, TV e muito bate-papo com as pessoas interagindo e se conhecendo melhor.
Amanhecemos diante de um lindo cenário, com areia branca e pouca vegetação. Esta é uma ilha que somente aparece na época da baixa dos rios. Por causa disso é deserta e possível de praticar o naturismo. Suas águas mornas foram um convite para mergulhos demorados, após o café da manhã.
A saída do local estava marcada para 10 e meia, mas um injustificável atraso fez com que a embarcação somente voltasse a navegar para o próximo destino após o almoço. E isso causou insatisfação entre alguns passageiros.
O primeiro destino turístico foi uma estação flutuante com duas atrações: pescaria de pirarucu e o nadar com os botos cor de rosa, que trouxeram muito divertimento para os que quiseram experimentar as sensações.
Em seguida, nos dirigimos para a comunidade indígena Cipiá, da etnia Dessanos, onde assistimos e participamos de uma dança típica de boas vindas com os índios da aldeia, ouvimos as histórias do cacique e comemos alguns pratos típicos daquele povo, como formiga e peixe assados na brasa e conhecemos as instalações. Questionado porque não ficavam nus, como tipicamente eram as vestimentas dos índios, o Cacique informou que foram proibidos pela Secretaria estadual do Meio Ambiente e pelo Ministério do Turismo para não chocar os turistas.
Após a aldeia, de volta ao iate, nos dirigimos para a próxima atração, que seria ver o Encontro das águas do Rio Negro com o Rio Solimões. A saída com considerável atraso e uma parada inesperada da fiscalização da polícia fluvial, nos fez perder a chance de ver o fenômeno à luz do dia. Lógico que, com a escuridão, nada pode ser observado. A promessa foi então ver o fenômeno na volta para Manaus, no próximo sábado. Servido o jantar em movimento, nos dirigíamos para a próxima parada onde passaríamos a noite, na cidade de Itacoatiara, onde atracamos ás 3 e meia da manhã, em pleno Rio Amazonas.
Amanhecemos no píer da cidade, com quase 200 mil habitantes e de área imensa. A visão do barco não era a das mais agradáveis, pois o ancoradouro era muito precário, com esgoto correndo a céu aberto em vários pontos. Desleixo do município que pretende atrair turistas. A saída das pessoas do barco para a cidade, onde faríamos um city tour pela manhã, foi um pouco dificultada, causado por receio de queda por termos que caminhar sobre tábuas de madeiras colocadas umas sobre as outras, por onde deveríamos nos equilibrar até chegar à terra firme.
Na rua nos esperava um ônibus climatizado de turismo que começou seu roteiro pela cidade: visita ao Centro Cultural, visita à Academia Itacoatiarense de Letras, onde conhecemos o subsecretário de cultura do município, o sr, Frank Chaves, visitamos o pequeno museu, ouvimos palestra histórica sobre a cidade e declamações de poesias de artistas locais. Depois a pé seguimos pelas ruas vendo a avenida das árvores, a paróquia de São Francisco, a catedral, a pedra símbolo da cidade e andamos pela orla, com seus jardins e muitos pássaros. Em seguida, de ônibus, seguimos para uma fazenda de apicultura, onde conhecemos seu proprietário, o sr. Fernando Guimarães, que nos mostrou uma variedade de abelhas sem ferrão, que é a comum na região. Saboreamos o mel produzido, fizemos compras e retornamos para o barco para almoçar. Isto tudo sob um calor de derreter asfalto.
À tarde, somente quatro naturistas mais o guia Hernany, foram conhecer um balneário típico dos rios amazonenses, construídos flutuantes, com lojas, restaurante e uma piscina de água morna. Uma arara que estava no local roubou a cena.
Retornamos ao barco para o jantar. Após, mais uma vez estávamos de volta à cidade, no Centro Cultural visitado pela manhã, para prestigiar a exibição de danças típicas regionais realizadas pela senhoras dançarinas da terceira idade, causando uma grande confraternização entre todos dançando o carimbó. Compramos também muitos artesanatos oferecidos. Retornamos mais uma vez ao barco onde passamos a noite. Mas o local onde estávamos atracados estava causando insatisfação nos passageiros. Principalmente porque não podíamos ficar nus tranquilamente na área do barco.
No dia seguinte o ônibus veio nos buscar para visitar mais uma aldeia indígena. Mas desta vez o trajeto seria diferente, pois a aldeia somente é alcançada navegando pelo Rio Urubu. Fomos até um determinado ponto onde quatro pequenas lanchas nos esperavam para fazer a linda travessia, com paisagens selvagens e incríveis. No caminho pudemos observar prédios que eram escolas de ensino fundamental para crianças indígenas.
Paramos na aldeia dos índios Murás, menos turísticos que a primeira aldeia que visitamos, mas também vestidos à moda do homem branco. Primeira construção que observei foi mais uma escola municipal para educação indígenas. Nos dirigimos para a oca principal, caminhando em meio a muitos cajueiros e mangueiras, que estavam carregados de frutas. Lá assistimos uma exibição das crianças com dança escolar. Depois fomos conhecer o projeto de transformar a área em uma pequena atração turística, onde turistas poderão vivenciar a vida selvagem ficando hospedados no meio da selva em condições precárias. Uma espécie de vida selvagem.
De volta à oca fomos recebidos com vendas de frutas da região: cajus, mangas e ingás. Estes últimos são uma vagem enorme, por dentro uma massa branca parecida com algodão que cobre cada castanha. É esta massa saborosa que é consumida. Seguimos então para as lanchas que nos levariam para o almoço em um restaurante flutuante, o Parurus, no meio do rio Urubu.
Após o almoço fomos levados para mais uma praia deserta onde foi possível praticar Naturismo. Após uma rápida chuva, novamente as lanchas nos levaram para encontro do ônibus de turismo, que por sua vez nos levou ao píer de Itacoatiara, para o jantar e passar mais uma noite ancorado.
O dia seguinte começou tenso, pois o comandante Miro anunciou que não poderia prosseguir viagem para Manaus fazendo paradas em alguns pontos previstos, porque não havia combustível suficiente para completar o programa. Dificuldade resolvida o iate seguiu viagem e, depois do almoço, ancoramos em mais uma praia deserta a Ilha da Benta, onde praticamos naturismo ao ar livre, mais uma vez, e ficamos até o por do sol.
Após o jantar seguimos viagem para Manaus, onde alcançaríamos o Encontro das Águas ao amanhecer. E assim foi feito. Finalmente os naturistas puderam apreciar o famoso espetáculo natural da região amazônica.
Após o café da manhã seguimos para o píer em Manaus, onde encontraríamos ônibus de turismo para realizar city tour pela cidade na parte da manhã. Visitamos o Mercado Público, o Palácio Rio Negro e a parte externa do Teatro Municipal de Manaus. Em seguida prosseguimos viagem para visitar o único grupo naturista organizado em todo estado do Amazonas, o Graúna, em um sítio na periferia da cidade, onde iríamos almoçar.
Os componentes do Graúna já estavam roxos de fome quando chegamos e a ansiedade era grande. Fomos recebidos alegremente pelo grupo que é composto por muitos jovens, o que é exceção no Naturismo brasileiro. Imediatamente passamos para os serviços do almoço, com a comida típica do local, peixe e frango como pratos principais e sucos naturais das frutas. No Graúna não é permitida bebida alcoólica.
O entrosamento dos viajantes com os graunenses foi muito interativa, com muito bate papo, uso da piscina, jogo de vôlei e trilha pela floresta que faz parte da propriedade, juntamente com Ruan Octávio, botânico especialista em árvores da Amazônia, que fez várias intervenções super interessantes.
Por volta das 4 da tarde, retornamos ao ônibus que nos levaria de volta ao iate do cruzeiro para a última noite. Porém um temporal inesperado obrigou a embarcação retornar para seu porto seguro. Quando chegamos no local de encontro tivemos que esperar uns bons minutos pelo nosso resgate na praia de Ponta Negra.
Jantamos na embarcação e dormimos ancorados em pleno Rio Negro. No dia seguinte pela manhã os preparativos para a despedida da aventura. Novamente na marina do embarque inicial, aguardamos o ônibus que nos levaria para o aeroporto de onde partiríamos para nossas cidades ou outros destinos.
(enviado em 4/11/19 por Pedro Ribeiro) |
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