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Jornal Olho nu - edição N°233 - Abril de 2020 - Ano XX

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POR QUE SOU NATURISTA

por Edson Tavares*

 

“Busque cura na Natureza”, diz-me meu terapeuta, talvez “crente abafando” que estivesse me dizendo a maior novidade. Não é algo novo para mim. Sempre soube que a Natureza, como mãe e cuidadora de quanta energia essencial gira em todos os universos, inclusive dentro de mim, a Natureza tem o poder de abraçar seus filhos e adoradores, cuidar deles, fazer brotar, dentro de cada um, o lenitivo natural, que nenhum remédio, nenhuma droga, nenhum médico consegue igualar.

 

Não é por outra razão que me fiz oficialmente Naturista, na década de 1980, embora já andasse nu desde a adolescência, pelos matos escondidos da ribeira do rio que banhava minha cidade. A identificação com o Naturismo foi imediata, principalmente pela confluência de pensares a respeito de quão saudável é estar em comunhão com o Cosmos, através da Mãe-Natureza.

 

E isso me parece tão óbvio, que tenho dificuldade em entender quem não consegue enxergar algo tão nítido, ou pelo menos que reduz o Naturismo ao nudismo. De fato, o desnudamento do corpo é o aspecto mais visível do Naturismo – nem poderia ser de outra forma. Se faz o indivíduo sentir-se em pleno contato com os elementos da Natureza, também intriga, enche de inveja e de intolerância quem não consegue conceber toda a extensão benfazeja desse comportamento.

 

O fato de tirar a roupa, para além do prazer de sentir esse contato direto com o Cosmos, sem as amarras e disfarces da vestimenta, constitui-se simbologia, emblema perfeito da essência do Naturismo. A nudez física metaforiza o desnudamento de todos os comportamentos nocivos à Natureza, antiecológicos e agressivos a nós mesmos e aos outros.

 

Ao se tirar a roupa, simbolicamente, tira-se também tudo o que nos cobre e nos impede de nos mostrar quem e como realmente somos. Não somos perfeitos, é fato; como é fato igualmente que, sem o simulacro da roupa, expõem-se nossas imperfeições corporais – gorduras ou magrezas, defeitos, rugas, a pele engelhada, os seios flácidos, a genitália decaída. E isso nos ensina – sábia que é a Mãe-Natureza – que a constatação de defeitos ou da decadência física não deve ser motivo de angústia ou tortura, mas algo a ser tratado como troféu, como medalhas, como marcas de experiências vividas; e, mais importante, que não devemos esconder nossas imperfeições corporais atrás de nossa vergonha do julgamento alheio.

 

O ato mais revolucionário que conheço é o arrancar a roupa e, no silêncio da satisfação de estar nu, clamar ao mundo: “vejam como sou feliz, em minha imperfeição física!” E como diz a canção do velho boêmio, “quem me quiser terá que ser assim”. O tirar a roupa equipara-se ao tirar as máscaras, e mostrar-se como de fato é. Nada condiz mais com o ser Natureza do que isso, porque a Natureza desconhece simulacros. Tudo na Natureza é, simplesmente é, do jeito que é, agrade ou não.

 

Mas, para além do tirar a roupa, para além do nudismo – que necessariamente precisa ter esse viés de comunhão com a Natureza, senão é mero exibicionismo – o Naturismo abarca um conjunto bem mais amplo de conceitos, que, reunidos, constituem uma filosofia de vida que nos aproxima consideravelmente da felicidade.

 

Sinto felicidade ao sentir no meu próximo um semelhante a mim, que, assim como nada me esconde de seu corpo, igualmente se expõe em sua alma, seus pensamentos, seu jeito de ver a vida. Não somos iguais, é fato, semelhantes é o que somos, e o bastante para nos completarmos e crescermos interiormente, na interação, na troca de nossos conhecimentos e experiências peculiares e diferentes.

 

Tudo isso parece fluir, quando estamos num ambiente naturista. Creio firmemente que a Natureza tem essa força (porque a sinto) de nos fazer sentir amor pelo outro, mas também pelo mar, pelas pedras, pelos animais e plantas. Tudo é passível do nosso amor, porque tudo nos ama, do seu jeito peculiar, e sem precisar expor isso, sem precisar dizer que nos ama. Apenas ama, como diz o poeta.

 

Por esta razão, primordialmente, acredito na Natureza como verdadeira religião, em seu sentido de religação com o Cosmos que nos construiu, nos mantém e nos matará, ao final de nossa passagem por aqui. A Mãe-Natureza é minha deusa adorada, que não exige de mim nada além do que eu sou e do que eu posso dar, e me permite ter o maior dos bens: a vida. O Naturismo é minha forma de pensar, de ver e sentir tudo isso, com a plenitude que me invade e me completa.

 

Por isso sou Naturista. Porque penso “naturistamente”. Porque procuro viver segundo os preceitos da Natureza. Porque consigo sentir o carinho do vento no corpo, a carícia de uma folha na pele, o afago de uma rocha, o envolvimento da areia em meus pés. Sou Naturista, enfim, porque sou parte integrante dessa Natureza e ela está em mim, vive em mim. Sou Naturista por isso, não apenas porque tiro a roupa na praia.

 

 *Edson Tavares Costa é Professor Universitário,

Doutor em Literatura e Cultura, e

Naturista há mais de três décadas.

 

(enviado em 17/03/20 por Edson Tavares)


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