As pessoas que assistem ao reality Largados & Pelados do Discovery Channel já devem ter percebido que tirar as roupas é apenas o primeiro desafio dos participantes. O difícil mesmo será dominar as técnicas de sobrevivência e conseguir manter um relacionamento saudável com os demais participantes.
Logo nos primeiros dias a nudez dá espaço a exposição daquilo que as pessoas têm de mais íntimo e escondido: seus valores e crenças. A empatia, a humildade, o respeito às diferenças e o cuidado com o próximo costumam levar os participante até o final da aventura. E ficam para trás aqueles que não conseguem conviver com as diferenças e que não colaboram para construir uma relação saudável e autocrítica.
Na prática do Naturismo, a nudez coletiva, além do convívio pleno com a natureza, consiste também numa manifestação das pessoas a favor da liberdade. O Naturismo está relacionado com ideais de mudanças, de qual se propõe a quebrar os paradigmas e os preconceitos das velhas sociedades.
Além de expor o corpo ao sol, ao ar e a água as pessoas que praticam o Naturismo também se colocam plenamente ao olhar das demais pessoas, certas de que não serão julgadas ou avaliadas sob os padrões convencionais da sociedade.
Assim como no reality, a exposição das pessoas praticantes do Naturismo, não se limita ao corpo, pois seus valores e opiniões também são expostos nos diversos ambientes destinados a essa prática. Seja nas praias, nos clubes, nos espaços indoor e, cada vez mais, nas redes sociais da internet, também os Naturistas falam, comentam e compartilham suas opiniões.
Aqueles valores e opiniões mais conservadores já não permanecem ocultas a velocidade com que as informações circulam nos ambiente virtuais. Isso deve servir de estímulo para que os Naturistas exponham e dialoguem mais sobre suas opiniões, avaliando se de fato se mantêm juntos daqueles que querem as mudanças.
O Naturismo, como prática libertadora, pode contribuir no tratamento de algumas doenças, como a ansiedade e a depressão; o combate à intolerância social, como o racismo, a misoginia, a homofobia e a cultura do ódio, que estão na gênese da violência da sociedade atual.
Os Naturistas de hoje, para se manterem alinhados com a origem contestadora de Luz del Fuego e com a força do FKK, precisam despirem-se de alguns valores conservadores que não lhes são próprios e que afastam as novas gerações do seu convívio.
Para que o Naturismo não se transforme num costume antigo de pessoas conservadoras é necessário ir além da prática coletiva da nudez corporal, pois esse é apenas o primeiro desafio.
*Paulo Guilherme Cabral, 57, é goiano,
agrônomo, residente em Brasília,
naturista do Planat.
(enviado em 01/09/21 por Paulo Cabral)
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Jornal OLHO NU - edição 250 - Setembro de 2021
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