NU,
COM A MÃO NO BOLSO
por Juca Rodrigues*
No aniversário de 50 anos da Federação
Internacional de Naturismo, aumenta o número de turistas nudistas
no mundo. Empreendimentos no Brasil querem estrangeiros adeptos da prática.
divulgação
Lucro
no bolso- pacotes naturistas são cada vez mais procurados |
Só na Alemanha, mais de 12 milhões de pessoas tiram a
roupa em público pelo menos uma vez
por ano. No mundo todo, seriam mais de 90 milhões exibindo o corpo
como parte de uma
filosofia que prega uma vida
mais saudável. Eles são os naturistas, ou nudistas, uma classe de
consumidores que vem atraindo os olhares da indústria de turismo.
E a grande maioria deles tem nível superior, ganha muito bem e
ocupa posições de destaque no trabalho, revela o alemão Wolfgang
Wenreich, 57, um professor de teologia e latim que preside a Federação
Internacional de Naturismo, FNI, organização que congrega associações
naturistas de mais de 40 países e que neste mês completa meio século
de atividades. São mais de 385 mil praticantes oficialmente
associados aos membros da FNI, mas há muito mais gente andando nua
por aí. Segundo Wenreich, os alemães têm à sua disposição
cerca de 160 clubes e praias exclusivos para a prática do
naturismo. Outro país amante da vida nua é a França, onde fica a
cidade que é considerada a capital mundial do nudismo, Cape D'Agde.
Situada na costa do Mediterrâneo, ela tem quarteirões inteiros
onde a população pode circular com tudo de fora. Eles disputam com
a Alemanha o pioneirismo da prática no início do século 20, os
primeiros nudistas franceses apareceram na Ilha de Levant, onde
existia uma clínica helioterápica, tipo de tratamento que
prescreve sol no corpo inteiro como auxílio na cura de doenças. Na
mesma época, alemães que desejavam uma interação maior com a
natureza começaram a tirar a roupa em praias desertas. A partir daí,
a prática espalhou-se por vários países europeus.
Castaways
Travel
Naked
air- este foi o primeiro vôo naturista da história |
Depois
da Europa, na região do Caribe e nos Estados Unidos
estão alguns dos melhores hotéis, resorts e clubes naturistas do
mundo. É lá que atua a Castaways Travel, uma das maiores
operadoras de turismo nudista, fundada em 1984 por dois praticantes,
Jim Bailey e Donna Danniels. Eles não revelam os números do negócio,
que todo ano manda milhares de turistas para destinos naturistas na
Europa, EUA, México, Caribe e Austrália. A empresa oferece ainda
pacotes em cruzeiros fechados e até um vôo onde todo mundo fica
nu. Este, batizado de Naked Air, foi inaugurado em maio deste ano
com uma viagem de Miami até o balneário mexicano de Cancún e
causou grande alvoroço. Centenas de curiosos e dezenas de
jornalistas se acotovelaram no aeroporto americano para espiar o
embarque dos nudistas, mas saíram frustrados. Os passageiros só
tiraram a roupa quando já estavam a nove mil metros de altura, e
tornaram a vesti-las antes do desembarque. Marketing certeiro do
casal, que acha o Brasil um bom mercado, mas ainda inexplorado. Só
nos Estados Unidos, o movimento dos sem-roupa gira cerca de US$ 400
milhões anuais, segundo Judi Ditzler, diretora da organização
Sociedade Naturista e editora da Nude & Natural, uma das
principais revistas do meio.
Tapa-sexo
divulgação
Social
- Jantar em restaurante em clube nudista dos EUA, traje
passeio completo |
Aqui, as coisas andam mais devagar. Parece que os brasileiros não
herdaram muito dos costumes dos índios que aqui habitavam no
Descobrimento, descritos por Pero Vaz de Caminha como selvagens que
não cobriam suas vergonhas. Na década de 50, a bailarina Luz Del
Fuego tentou resgatar esse modo de vida, criando no Rio de Janeiro a
primeira colônia nudista da América Latina, a Ilha do Sol. Luz, na
verdade Dora Vivacqua, uma brasileira nascida no Espírito Santo,
atraiu a atenção até de artistas de Hollywood, como os astros
Errol Flynn e Ava Gardner. No paraíso de Luz, ficar nu era obrigatório,
quem não obedecesse era expulso, como aconteceu com a atriz
americana Jane Mansfield, que em 1959 recusou-se a mostrar seus
volumosos seios e nem desceu do barco que a levou até lá junto com
seu marido. O sonho acabou depois que a bailarina foi brutalmente
assassinada por um ex-empregado, em 1967.
O engenheiro
José Mariano da Silva Jr., 48, vice-presidente
da Federação Brasileira de Naturismo, estima os praticantes
oficiais, associados a alguma área naturista do País, entre 25 e
30 mil pessoas. “Não temos tradição naturista. No Japão, um
camarada poder ser convidado para tomar banho, ofurô, com a família
de um amigo. Na Finlândia, você vai à sauna e ninguém usa roupa.
Na Alemanha, é uma coisa normal uma mulher tirar a blusa na praça.
Aqui há alguns pólos, como no Sul, que teve forte colonização
alemã”, observa Mariano.
E foi nesta
região que em 1976 nasceu a primeira praia oficial de nudismo do
Brasil, a Praia do Pinho, localizada no Balneário Camboriú, Santa
Catarina. Depois dela vieram as praias de Galhetas e Pedras Altas,
também no estado catarinense, Tambaba, situada na capital da Paraíba,
João Pessoa, e Massarandupió, na Bahia. Apenas nestas cinco as
pessoas podem andar peladas com apoio da prefeitura. Elas estão de
acordo com a legislação, são protegidas pela polícia e seguem
estritamente as regras naturistas, que impedem terminantemente
qualquer contato sexual ou atentado ao pudor. Isto faz com que elas
tenham “cerquinhas” para dividir os solteiros das famílias.
“Muitas vezes há homens que arrumam confusão, bebem, é necessário
para esfriar os ânimos. O grande problema é que as pessoas são
uma caixinha de surpresas”, analisa o vice-presidente da FBRN. A
segurança da Praia do Pinho, no Carnaval, é digna do presídio de
segurança máxima Bangu 1: um helicóptero da PM chega a sobrevoar
a faixa de areia de quatro a cinco vezes por dia, bem devagarinho,
para garantir a integridade dos nudistas. Já em outras praias o
nudismo é apenas tolerado, praticado por conta e risco de cada um.
Este é o caso da Praia Brava, que fica em Caraguatatuba, em São
Paulo, e o da famosa Trancoso, na Bahia.
divulgação
Pioneira
- Em 1986 foi criada a primeira praia nudista oficial do
Brasil |
Mas há quem
aposte que o Brasil nu dá certo, sim. Um hotel está para ser
inaugurado no Rio Grande do Sul nos próximos meses, dentro do
Colina do Sol, comunidade naturista existente há oito anos. Seu
idealizador é Celso Rossi, empresário de 42 anos que é um dos
pioneiros do naturismo no Brasil, ele foi um dos fundadores da
Associação da Praia do Pinho e da Federação Brasileira de
Naturismo. O empreedimento já recebeu investimentos de 700 mil
reais, 170 mil financiados pelo BNDES. Apesar de antiga, a própria
Colina ainda está em andamento. São 100 as casas já construídas,
a idéia é chegar a 500. Um outro projeto na Bahia completa o ciclo
de investimentos naturistas no País. É o Clube Paraíso Tropical,
um eco-resort de altíssimo luxo que fica colado ao Hotel Transamérica
da Ilha de Comandatuba. Criado para servir de moradia de verão para
turistas estrangeiros, especialmente europeus, o projeto é
capitaneado pelo holandês Martin Tump, que já investiu US$ 2,5
milhões e trabalha para conseguir o montante necessário, US$ 10
milhões. O Clube não é para descamisados. Aos que desejarem
comprar um puxado neste pedaço do litoral baiano, serão oferecidas
desde casas ribeirinhas de 250 metros quadrados por US$ 75 mil até
mansões de 500 metros quadrados por US$ 195 mil. Talvez a cultura
brasileira não aceite bem esse negócio de passar as férias
pelado, mas uma coisa é certa: viajar sem precisar carregar uma
mala entupida de roupas deve ser delicioso.
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