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Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°38 - novembro de 2003

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

Naturismo e Sociedade Global

por Paulo Pereira*

Comemorando ainda o centenário de criação do Movimento Nudista-Naturista, creio que seria importante salientar alguns aspectos relativos à aceitação da nudez pela sociedade humana. Recordemos, de início, que a nudez é um estado natural e, como tal, não deve, em princípio, ser relacionada ao chamado pecado, nem ao vício ou à ofensa. A natureza é nobre e não pede julgamentos. Na verdade nascemos nus e, ao final, querendo ou não, todos nós acabamos nus até os ossos, nos sepulcros, depois da morte... Se Deus, de fato nos criou à sua imagem e semelhança, Ele nos criou nus, despojados de convenções, integrados à Mãe Natureza.

Recordemos ainda que os participantes das velhas olimpíadas, como a história registra, mostravam-se inteiramente nus durante as competições, o que evidencia a pureza da nudez em si mesma, na busca dos ideais olímpicos de saúde física e mental.

Há certamente um exemplo de dignidade maior quando observamos a conduta dos monges jainistas da Índia, que andam permanentemente despidos, desde a antiguidade. Os homens santos da Índia, os “Digambaras” e os “Sadhus”, são vistos e reverenciados publicamente em sua nudez. Esses monges nus vivem rigorosamente os princípios de não-violência, de respeito a todas as formas de vida, e renunciam aos chamados prazeres da vida mundana, o que me parece ser um eloquente sinal de pureza e despojamento de preconceitos, tal qual tenho preconizado igualmente em relação à prática nudista organizada.

Foto de cartão postal

Falei dos monges nus e relembro, uma vez mais, o exemplo de nossos índios, homens naturais, como costumo afirmar. A nudez do índio é sua vestimenta natural, sua verdade-beleza integrada ao meio ambiente, componente conspícua de sua totalidade, de sua alegria de viver, de viver como a natureza ordena, de forma livre, pura, espontânea e sábia. Nas lides da tribo, os índios de todos as idades convivem de maneira prazerosa e respeitosa, e são exemplos para os chamados civilizados, até porque, como disse Darcy Ribeiro, o índio se afirma na dignidade de sua nudez.

No livro “Corpos Nus”, 2ª edição – Ano 2000, destaco uma colocação brilhante da notável escritora Rose-Marie Muraro, que considero oportuna:- “A nudez aceita, global e natural, abre caminhos para aceitação de si mesmo e do mundo”. Aceitar a si mesmo e aceitar o outro, na sua integridade, eis um conceito precioso. O homem não está só no mundo, nem provavelmente no universo, o que exige o conhecimento da verdade natural, cósmica, sem véus ou máscaras pudicas, falsamente pudicas eu diria, porque Deus – e a natureza – por definição, não criam a mentira, o imoral, o impuro, o engano conveniente ditado pela limitação humana.A aceitação, global e natural como quer Rose-Marie, é a aceitação da própria vida e de seus anseios.

Na página 42, de “Corpos Nus”, 2ª edição, eu coloco um pequeno conjunto de normas, chamadas “Decálogo Naturista”, que podem servir de código de ética aos irmãos nudistas:

1- A nudez é solução e toda malícia será castigada. 

2-O Naturismo não deve ser nunca um mero modismo, mas uma consciente opção de vida. 

3-A verdadeira prática nudista começa na mente, pois é mais importante desnudar-se psicologicamente do que simplesmente despir-se. 

4- O naturista deve reagir serenamente contra as formas de vida excessivamente artificiais, buscando sempre estabelecer o equilíbrio individual e coletivo. 

5- O naturista deve integrar-se no seio da Natureza, visando o aprimoramento do corpo e do espírito, sem preconceito de classe social, de raça, de idade, de religião, de nacionalidade, de preferência sexual ou de estado civil. 

6- A prática nudista, principal fundamento doutrinário do Naturismo, deve servir de base para uma melhor qualidade de vida e de educação, inclusive de jovens e crianças. 

7- O Naturismo, como terapia, condena todos os excessos, e desaconselha o consumo de drogas que causem dependência. 

8- O Naturista, por coerência, deve procurar preservar o meio ambiente, promovendo sempre o respeito à vida. 

9- Ser naturista é ser despido de violência; é ser fraterno sem ser promíscuo. 

10- O naturista deve almejar o progresso espiritual, buscando a síntese transcendente do masculino e do feminino, procurando ser livre, consciente e, sobretudo, universalista. 

O Naturismo, como filosofia e prática, não é pois, modismo, uma onda passageira, nem pode servir de pretexto para procedimentos inadequados, quer sejam vícios ou desvios de conduta social, razão pela qual saliento o papel da família como dado prioritário na prática nudista. Como a do irmão indígena, nossa nudez deve ser digna! 

A definição, já mencionada anteriormente, da Federação Internacional de Naturismo (INF), oficializada em 1974, fala em auto-respeito, em respeito pelos outros e pelo meio-ambiente. Nós só podemos respeitar o outro se cultivarmos o respeito inteiro, de corpo e alma, respeito feito de amor pela vida, em tom maior, aqui e agora e para sempre. 

Diante da sociedade global, vestida, o naturista deve dar o bom exemplo, mantendo-se longe de exageros e de artifícios. É indispensável acatar e observar na prática todos os postulados consagrados do Naturismo, já com um século de existência corajosa.

*Estudioso do naturismo e ex-presidente da Rio-NAT

ppereiranewosborn@yahoo.co.uk

PS:Ainda sobre este assunto meio desgastado e pseudo-erudito (Nudismo / Naturismo), eu gostaria de enfatizar que a história não é estória, e não considera necessariamente preferências pessoais ou conceitos subjetivos,mas apenas fatos. A verdade nem sempre coincide com místicas ou interesses secundários.

O Naturismo, mesmo como um sistema (como eu preconizo), não pode admitir escolhas ou atalhos, que, em nome de sua dinâmica evolutiva, conduzam a resultantes que consagrem sectarismos ou heresias. Ficar nu na janela não é Nudismo... A referência da história e a experiência de vários povos não podem ser ignoradas, mesmo quando nossa intenção seja nobre e construtiva. O Naturismo não foi nem está sendo inventado agora, no Brasil. 

Muitas vezes, aglutinar e somar é mais inteligente e sábio do que, por valorosa criatividade, dividir para dominar. Ao preferir o termo "naturismo" não me parece pertinente, por razões concretas, dar, de forma casual, ao termo "nudismo" um conceito que não encontra respaldo na história nem no uso comum de vários países membros da Federação Internacional. A emenda mostra-se pior do que o soneto... O termo"naturismo" cujo significado filosófico é relativamente recente (1953), ainda não está consagrado, por exemplo, pelo "Aurélio", no sentido que adotamos; o dicionário fala em concepção dos que tudo esperam da natureza, com valorização excessiva de agentes físico-naturais, o que está muito distante dos nossos conceitos oficializados em 1974, em Agde. 

Os termos "naturalismo" e "nudismo", por outro lado, estão clara e adequadamente definidos. Como diria Nelson Rodrigues, é só... Concordo que devemos preferir o uso do termo "naturismo", mas sem inventar nada. Como um exemplo concreto, entre centenas, do uso correto do termo "nudismo" (ou nudista), eu destaco o nome de uma das mais completas e conceituadas bibliotecas nudistas-naturistas do mundo: "American Nudist Research Library" (Flórida - U.S.A.). O termo "Nudista" está consagrado.Como eu escrevi em "Corpos Nus", a grande meta do Naturismo é a perfeita integração de homens e mulheres, irmanados, despidos de corpo e alma, buscando, na comunhão plena com a Natureza, a síntese transcendente do masculino e do feminino,a plenitude viva...

Paulo Pereira


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