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Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003 | |
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Jornal Olho nu - edição N°46 - julho de 2004
Gostaria de chamar a atenção dos leitores do OLHO NU para uma questão que acredito ser pertinente com a filosofia de vida naturista e a linha desse jornal. Trata-se da mutilação genital masculina, comumente conhecida como circuncisão, feita nos meios médicos por motivos pseudo-profiláticos (!) nas classes dominantes conhecida como operação de protecstomia. Nos EUA por exemplo a grande maioria dos recém nascidos são circuncidados (80%-90% nos anos 70), e na maioria dos livros de medicina o corpo humano aparece desenhado com um pênis "naturalmente" sem a ponta. Junte-se aí a idéia de sujeira e sexo e não fica difícil concluir que tipo de idéia é passada a respeito dos "incircuncisos" ao povo. Acredito que essa mutilação que desfigura o falo em seu cume, tem como um de seus principais "objetivos", provocar uma vergonha do corpo e por conseguinte um "afastamento" do mesmo. No Brasil há um livro do psicanalista Moiséis Tractenberg "psicanálise da circuncisão" que é bom, há também muito material em inglês pela Internet, assim como outros livros em inglês que tratam do assunto. |
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O Pomo da discórdia
por Eliezer Rabis* "Primeiro, não causarás dano" Primeiro juramento da ética médica
No final da época Vitoriana na Inglaterra o excesso de sofisticação e talvez os sinais inevitáveis de uma sociedade que já havia dado tudo de sua cultura e começava a interferir diretamente naquela cultura mais primitiva, aquela primeira que nos tirou do nomadismo e nos fez agricultores, levou médicos e cientistas a prescreverem tratamentos e soluções sanitárias que mostravam claramente que o preceito Bíblico “sujeitai-a e dominai-a” referente à natureza estava sendo levado como palavra de ordem.
Além da dietética absurda que acreditava que os alimentos refinados eram os melhores para a saúde justamente pelo fato de serem ‘refinados’, médicos chegavam ao ponto de retirar algumas costelas de mulheres que cansadas do espartilho optavam por um resultado, por assim dizer, mais permanentes. Tempos muito estranhos eram aqueles!
Entre as opções cirúrgicas que mutilavam e desfiguravam o corpo estava a circuncisão de meninas, para as que tinham acessos do que posteriormente chamamos de histéricos, e para os meninos agitados ou anêmicos que gostavam de passar longas horas trancados no banheiro, a circuncisão masculina.
Os médicos muito embora não tivessem como saber que a retirada do prepúcio, a pele que cobre a cabeça do pênis, não iria diminuir a prática da masturbação, como pretendiam, viam claramente que com a retirada de sua ponta, o pênis perdia sua mobilidade e parte da sensibilidade.
Isso sempre foi um fato claro para todos os povos de gente grande até hoje, e logo entenderemos porque deixou de sê-lo.
Talvez o maior rabino, médico e astrônomo judeu de todos os tempos, Moisés Maimonides escreveu há quase mil anos essa introdução em sua análise a respeito da circuncisão:
“A totalidade dos propósitos da perfeita lei pertencem ao abandono, depreciação, e repressão dos desejos tanto quanto for possível. Você já sabe que a maior parte da luxúria e licenciosidade das multidões consiste no apetite para comer, beber, e copular. (e) Para a totalidade das intenções da Lei se devem a gentileza e a docilidade; o homem não deve ser durão e bruto porém afável, obediente, aquiesceste e dócil.” (O guia do perplexo)
Como se sabe o povo judeu tem o costume de circuncidar todos os bebês varões no oitavo dia, o que não dá muita opção a ninguém; Compare, por mera curiosidade, com esta declaração feita no apogeu da época das inquisições pelo bispo Cerutti citada nas primeiras páginas do livro “Os demônios de Loudun”
“ ..assim com nós enfaixamos os membros de um bebezinho que está no berço, para dar-lhe boas proporções, da mesma forma é necessário enfaixar, por assim dizer, sua vontade, para que ele possa manter no decorrer da vida, uma docilidade salutar e contente”
Como não podia deixar de ser, a prática caiu como uma luva na sociedade puritana norte americana do final do século XIX. Lemos numa publicação de 1888 a declaração feita por um dos inventores dos “sucrilhos” o Sr. Kellogs:
“Um remédio para masturbação que é no mais da vezes eficaz em garotinhos é a circuncisão. A operação deve ser feita sem anestesia, pois a dor da operação terá um efeito salutar sobre a mente, especialmente se associada a idéia de punição” - o meio médico compartilhava desse tipo de idéia, acreditava-se a que a masturbação causava de anemia a demência passando por uma miríade de doenças incluindo a paralisia.
Eu sugiro que todos os meninos devam ser circuncidados” lemos no British Medical Journal de 1935, “ Isto é contra a natureza, alguns argumentarão, mas é exatamente esta a razão pela qual nos devemos fazê-la.”
Se já por volta dos anos cinqüenta queimar o clitóris de menininha que dava sinais de furor uterino passou a deixar de ser uma boa, a mesma sorte não tiveram os meninos, pois já na década de setenta, de 80 a 90% de todos os meninos nascidos nos EUA foram cortados ainda antes de sair da maternidade, os motivos é claro não podiam mais ser os mesmos, falava-se então da necessidade imperativa de uma boa higiene, coisa que o prepúcio não permitiria, doenças infecciosas do trato urinário e até iminência do câncer no pênis caso a ponta do mesmo fosse deixada intacta.
Papas da força tarefa pró-circuncisão como o médico pediatra Edgard J. Schoen tiveram a missão de expandir pela Europa a de estabelecer a circuncisão “universal e obrigatória” para os recém nascidos. Não tiveram sucesso por lá, mas pergunte a qualquer cidadão médio estadudinense, se os homens da tão sonhada Europa são circuncidados e eu aposto contigo três contra um que ele te responderá que “sim, em sua maioria”.
Como exemplo que o legado dessa mentalidade se perpetua, que os adeptos da filosofia da navalha conversora continuam em franca atividade, peço que você procure na página da “Urology Health Organisation” no quesito “Penile cancer” (câncer do pênis) o comentário:
“..não nos surpreendente portanto, que esta doença sinistra seja extraordinariamente comum na América do Sul e Central, assim como em outros países do terceiro mundo(!), onde a saúde pública e a higiene [pessoal] é freqüentemente deficitária. Também a circuncisão, uma prática que poderia melhorar a higiene, não é regularmente feita.
Nos Estados Unidos, O câncer de pênis é um câncer relativamente raro, provavelmente por causa das condições sanitárias superiores do país, assim como os hábitos de higiene somadas a prática comum da circuncisão.”
Não sei se eles irão reconsiderar essa definição, mas compare com esse trecho de uma carta da National Cancer Society de fevereiro de 1996:
"Como representantes da Sociedade Americana de Câncer, nós gostamos de desencorajar a Academia Americana de Pediatria de promover a circuncisão de rotina como medida preventiva para o câncer cervical ou de pênis.
A Sociedade Americana de Câncer não considera que circuncisão de rotina seja uma medida valida ou efetiva de prevenção de tais canceres.”
E se não é, a que deve-se então essa teimosia, a uma rivalidade entre as academias?
Quem poderia ter interesses na circuncisão de rotina de bebês, e na realidade na de qualquer pessoa, quais?
Sabemos que a mutilação do órgão viril e sua conseqüente diminuição física, sensitiva, e principalmente de sua mobilidade cria a necessidade de uma imagem de superioridade moral e intelectual de absoluto (daí talvez o Deus dos Judeus), mas como é difícil para alguém que foi cortado no oitavo dia de vida considerar isto, se ele espera primeiro reconhecê-lo.
Podemos ler em Atos (15,10) o parecer do Apóstolo Pedro, ele também um judeu, a respeito da circuncisão:
"...agora pois porque tentais a Deus pondo sobre o pescoço dos apóstolos um julgo que nem nossos pais nem nós fomos capazes de suportar ?” (Bíblia de Jerusalém)
Se acabasse assim já não tava ai tão mal, mas acontece que essa diferença gera um preconceito muy hostil, e de baixo nível. Nos EUA, por exemplo, o homem, qualquer um, que seja natural, intacto, acaba sendo visto pelo “stablishment” e por conseguinte pelo povo como um todo, como sendo um sujo, pobretão, um porco mesmo, o mesmo porco interdito aos judeus cujo termo em hebraico para designar sua sujeira/interdição serve também para designar a qualidade de “incircuncisão” das coisas, essa visão inevitavelmente estende-se para o mundo todo. Há contudo atualmente um muito pequeno grupo de Rabinos que propõe a substituição da mutilação do pênis (brit milah) por um ritual mais pacifico que foi chamado de "brit shalom" ou um "ritual de paz" em que apenas uma gotinha é retirada do prepúcio do bebê com uma espetadela de agulha, cumprindo assim o espírito do ritual.
Ia escrever mais sobre a psicologia do circuncidado mas larguei mão de besteira, já tomei espaço demais no jornal do Pedro Ribeiro, tenho porém uma última pergunta: quem conhece um pobre que tenha o pênis circuncidado? Ou será mesmo que o problema da “Fimose” só ataca os filhos da burguesia?
Recomendo o livro do psicanalista brasileiro Moisés Tractenberg, o único, que eu saiba no Brasil a abordar o tema, ou um passeio pela Internet, mas o melhor dos dois, acredito, é refletir ainda um pouco sobre essas questões.
Algumas informações podem ser achadas em: http://www.sexuallymutilatedchild.org/shorthis.htm A carta da "American Cancer Society" em: http://www.cirp.org/library/statements/letters/1996-02_ACS/ (fevereiro de 1996)
Se você quiser me
contar uma história faça o favor de escrever.
Estudante de psicologia,
27, trabalha sobre a questão da mutilação genital infantil há um ano aproximadamente. Não
se considera um naturista, embora já tenha
ido um par de vezes ao Abricó. Respeita muito a idéia do
naturismo, por achá-la madura, espera que a prática se expanda
no Brasil e que um dia talvez se possa ter um verão pelo menos, como há na
Alemanha, em que as pessoas tiram a roupa pelos jardins para melhor
aproveitarem o sol, como Heráclito fez.
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