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O Sonho de August Strindberg Por: Jorge Barreto*
Estávamos num momento de mudanças políticas radicais. Guerra do Vietnã, movimento hippie, festival de Woodstock. E a partir do momento em que todos do elenco de uma peça tiraram suas roupas no palco ficando nus diante da platéia. O mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo. Muitos anos se passaram depois disso. A nudez no palco hoje já não provoca mais aquele impacto visual. Talvez por uma nova consciência e maturidade da platéia. Talvez porque a linguagem teatral tenha amadurecido e reaprendido a utilizar o corpo nu como beleza e não como foi no passado, intencionalmente para provocar impacto, protestar, criar novos conceitos de comportamento e gerar controvérsias. Mas a nudez no palco pode ir alem disso. Ela é capaz de ser plena como mensagem poética. Sendo bela, limpa, ingênua, desprovida de intenções sexual, ou conotações pejorativas a dignidade humana. Ser natural e grandiosa, assim como toda criação divina. Em cartaz no Rio de Janeiro "O Sonho". Uma peça que utiliza a nudez num trabalho digno e muito bem realizado.
A Companhia Tupinambás Urbanos Cia Teatral Enviezada sob a direção de Zé Alex Oliva, iniciou em agosto de 2004 um trabalho para a construção de um espetáculo teatral, baseado no texto "O Sonho" escrito pelo dramaturgo e novelista August Strindberg em 1901 .
Utilizando em seu texto à estrutura de um sonho, Strindberg conta à história de Inês, filha de Hindra, que vem a terra para viver entre os seres humanos e passa a conhecer os seus conflitos, como as frustrações, amarguras, desilusões e valores éticos. Muitos podem enxergar apenas a superficialidade de uma obra leve, bem escrita, com porções certas de humor e dramaticidade. Mas a extraordinária obra de Strundberg mergulha no inconsciente. Na verdade, vai alem. Aflorando os conflitos interiores humanos, transportando "O Sonho" para nossa realidade em pleno século XXI.
O elenco é formado por Aline Arteira, Acauã Sol, Rachel Palmerim, Cláudia Martins, Danilo Rosa, Eduardo Vargas, Júlia Limaverde, Luciane Conrado, Marília Prata, Matheus Calado, Rafael Manhainer e Renata Di Carmo. Direção de Zé Alex Muitos consideram Strindberg cineasta antes da criação do cinema. Sua linguagem de cortes, estruturando idéias de maneira não linear para determinam o ritmo cênico de uma história estava muito alem do seu tempo. "O Sonho" é uma obra de ficção bem complexa e é preciso um diretor de coragem para encarar a empreitada dessa montagem teatral. Mas Zé Alex conseguiu demonstrar o seu talento num cuidadoso trabalho de pesquisa e conhecimento do gênero humano. Sua capacidade de explorar toda a potencialidade da genial obra de Strindberg ficou evidente. Dedicado e habilidoso sabe utilizar todos os espaços possíveis do teatro. Incluindo a participação da platéia em determinados momentos.
O palco não é suficiente para dar vazão a sua criatividade de Zé Alex. Eu chamaria sua linguagem comunicativa de "teatro integracionista"
Leia as entrevistas com Aline Arteira e Rachel Palmerim, duas atrizes principais do espetáculo.
Veja a Galeria de fotos do espetáculo
*Jorge Barreto é fotógrafo e artista plástico |