') popwin.document.close() }
A escolha de Tambaba por Pedro Ribeiro*
O sábado 9 de setembro começou com grande expectativa para os naturistas brasileiros presentes ao XXX Congresso Internacional de Naturismo de Cartagena. Neste dia estava marcada a votação da futura sede do Congresso a ser realizado em 2008 pelos 25 membros da federação internacional. Os brasileiros estavam otimistas, embora tensos. Contavam com o apoio declarado da grande maioria das instituições presentes, com defensores incontestes como os presidentes das federações portuguesa, espanhola e francesa. Mas o total de votos ainda não confirmava uma vitória. Explico. Cada federação nacional representa um número de votos de acordo com uma série de fatores estipulados nos estatutos da INF, que se relacionam com o número de afiliados àquela instituição e à quantidade de selos e passaportes que são pedidos anualmente. O Brasil, por exemplo, representa 5 votos. Um país como a Alemanha representa 47 votos. Isto quer dizer que não adiantava ter a maioria de nosso lado, era necessário ter os países que representavam muitos votos. E a maioria dos países que apoiava a candidatura de Tambaba representava poucos votos, em alguns casos apenas um ou dois cada um.
A outra candidata a sediar o próximo Congresso era a Itália, que contava com a simpatia dos países europeus mais longínquos, por causa da proximidade territorial. É bom lembrar que cada representante oficial arca com todas as suas despesas quando vai ao Congresso. Portanto uma viagem ao Brasil poderia ser muito custoso. (O que dizer então dos custos da participação de países de terceiro mundo da América Latina nos Congressos na Europa ?). Além disso, havia uma cláusula nos estatutos da INF que determinava que somente uma vez a cada dez anos é que o Congresso Internacional poderia ser fora da Europa. E em 2002 o Congresso foi realizado nos Estados Unidos. Quando a delegação brasileira visitou a assembléia da Confederação das Associações naturistas Européias em maio deste ano (ler em OLHO Nu nº 68, junho de 2006) a intenção era claramente de fazer lobby a favor de Tambaba. Voltaram de lá acreditando nas reais chances de vitória brasileira, mesmo porque a Itália, nossa concorrente, não demonstrou muito entusiasmo na ocasião. Também até este momento a Itália não parecia muito interessada em sediar o próximo Congresso. Era mais como se fosse para cumprir um regulamento. No entanto naquele dia as coisas mudaram. Fazia parte da delegação brasileira o prefeito Aloísio Régis do município de Conde na Paraíba, cidade onde se situa a praia de Tambaba, juntamente com seu secretário de turismo, Saulo Barreto, poliglota, que tinham a função de defender a candidatura de Tambaba perante o plenário internacional. Haviam preparado um pequeno filme e um relato de propaganda para exibir aos congressistas. A presença do próprio prefeito, acreditava a delegação brasileira, mostraria aos demais a seriedade de intenções e comprometimento oficial da cidade. A estratégia era boa. No entanto, a pedido do secretário de turismo, o prefeito e ele não ficaram hospedados na camping El Portus, mas sim em um hotel da cidade de Cartagena a cerca de 20 km do local das assembléias. E, por um erro operacional, nem mesmo o nome do hotel onde estavam hospedados era conhecido. Este fato foi determinante para o aumento, e muito, do estresse que viria a seguir. A votação da escolha da futura sede estava agendada para a sessão deliberativa da tarde. Então estava marcado com o prefeito e secretário suas presenças pelo horário do almoço. Numa manobra inesperada, a delegação brasileira foi pega de surpresa ao ser informada durante o café da manhã que a agenda mudara e a votação seria durante a sessão da manhã. Além disso, o tempo previsto para a apresentação fora cortado de 20 minutos para 10 minutos. Só o filme já tinha 10 minutos. E aí começou o desespero: a tentativa de localizar o prefeito antes da hora da votação. As delegações brasileira, espanhola, portuguesa e francesa protestaram veementemente mas não adiantou. O presidente manteve a nova agenda alegando que à tarde precisavam ser discutidos temas que dependiam do conhecimento da nova sede. Não deu tempo de encontrar o prefeito antes. A discussão sobre a futura sede começou cerca de 10 horas da manhã. A outrora displicente com sua própria candidatura Itália agora se mostrava interessada. A certeza de nosso favoritismo já não era tão forte assim. André Herdy juntamente com Carlos Gil e Arlindo, das delegações espanhola e portuguesa, decidiram enxugar o texto de apresentação e cortar a exibição do filme. Quando chegou o momento, André Herdy, tenso, leu o novo texto em inglês para a platéia atenta, que destacou o apoio oficial da prefeitura e do governo do estado da Paraíba com a praia de Tambaba e com o desejo de que essas instituições têm em ver acontecer o Congresso Internacional de Naturismo. Destacou também sobre a possibilidade de arregimentar vôos charters com tarifas muito reduzidas diretamente para Recife, ou até mesmo João Pessoa, o que poderia ser o primeiro vôo naturista a cruzar o Atlântico, além de lembrar que o Brasil está bastante desenvolvido na área tecnológica podendo oferecer toda a infra-estrutura necessária. Depois foi a vez da Itália que leu sua proposta destacando sua proximidade com a maioria dos países membros da federação internacional e lembrando os estatutos da Federação no tópico sobre os locais de realização do Congresso. Em seguida foi dada ao plenário a chance de se colocar sobre o assunto, com questionamentos e opiniões. Entre eles foi levantada a possibilidade de o Brasil não ter as condições técnicas e organizacionais de assumir uma responsabilidade desse porte. Questionaram o sistema de transportes e de urbanização. O Brasil ficou na berlinda, sendo que quase nada foi perguntado à opositora. André Herdy ficou à frente do debate no lugar de Elias Pereira por causa de sua desenvoltura diante do idioma inglês. Respondeu às perguntas sempre positivamente e contou com ajuda inestimável dos defensores Carlos Gil e de Arlindo. Cessado os debates passou-se à votação. Primeiro votaram os favoráveis à realização no Brasil. A grande maioria levantou suas placas com os números indicativos de sua representatividade. Somaram-se 114 pontos. Mas países importantes ficaram de fora. Quando foi a vez dos favoráveis à Itália, gelei. Pois as poucas placas levantadas mostravam números altíssimos em cada uma delas. Começou-se a soma e então o resultado: 99 votos. O Brasil conquistava o direito de sediar o próximo Congresso Internacional de Naturismo da INF em 2008. Wolfgang confirmou e a delegação brasileira explodiu em festa. E somente neste momento, minutos depois do resultado, é que entrava na sala de reuniões o prefeito Aloísio Régis e seu secretário, a tempo de comemorar a decisão. Havia uma emissora de TV espanhola presente e imediatamente a notícia se espalhou para o mundo. É claro que o destaque foi para a possibilidade do vôo charter naturista cruzando o Atlântico. Em seguida, o cumprimento à delegação brasileira pela conquista, o almoço acompanhado da cachaça brasileira, presente distribuído por Elias aos congressistas. E no domingo, já após o encerramento oficial dos trabalhos do Congresso, já havia uma primeira reunião entre Elias, Damasceno, presidente da Sonata, e a Secretária da Federação Internacional para começar a discutir projetos e planos para 2008. Vem aí muito trabalho pela frente. Parabéns à Federação Brasileira de Naturismo. Parabéns ao Elias Pereira, ao José Damasceno e especialmente ao André Herdy por ter sido o porta-voz e defendido com garra, na hora H, a candidatura. Parabéns à cidade de Conde e à prefeitura, que terão chance de atrair um bom turismo internacional à cidade. Leia nas próximas seções especiais:
*Editor do jornal OLHO NU
|
||||
|