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Jornal Olho nu - edição N°145 - Dezembro de 2012 - Ano XIII |
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Nudez opcional por Rogério Silva*
Gislaine Mayo, esposa do presidente do Clube Rincão Naturista, Juvenal Salvador, contou um pouco do funcionamento do clube e disse que há uma nova ideia circulando pelo Rincão, trazida pelo norte-americano Michael Zellner: Nudez opcional. O norte americano disse à Mayo que os clubes de lá estão tendendo à nudez opcional, porque isso tem trazido um maior número de sócios e de adeptos. E explica: a idade elevada dos associados, pessoas que aderiram o movimento na década de 70 e de 80, sem quase renovação, mas os filhos e os netos não estão aderindo agora. Então este motivo levou às entidades norte-americanas se voltassem para este novo nicho naturista.
No Rincão as pessoas que vêm a primeira vez podem ficar vestidas para se acostumar, porque estes novos visitantes podem ser pessoas que nunca fizeram naturismo antes, e a nudez acaba sendo realmente um choque, por que o naturismo representa uma quebra de paradigmas:
"A vida inteira a gente escuta dos pais que a gente tem que se cobrir, chega aqui a gente tem que se desnudar, é um choque mesmo. As mulheres, a gente vê que tem mais dificuldade de se desnudar do que os homens, mas aqui as mulheres podem fazer apenas top-less. A gente dá uma tolerância. Quando é uma coisa realmente obrigatória, fica uma imposição do outro. A gente não gosta de imposições da sociedade, mas também não pode deixar a coisa aberta demais, corre o perigo de entrar pessoas interessadas apenas em espionar as outras pessoas nuas e que não vão agregar em nada ao movimento, ao contrário. A gente não é bicho para ficar sendo olhado.
A mulher sempre está muito aquém de seu corpo ideal. Os padrões de beleza impostos da sociedade são muito mais femininos, aí depende muito da cabeça da mulher para se aceitar como ela é ou não."
José Antonio Soler é um ativo colaborador do clube Rincão Naturista. Não exerce nenhum cargo administrativo, mas está sempre presente. Não que assumir nenhum cargo porque acha que isso o obrigaria a determinar um tempo disponível para isso, que nem sempre tem.
"Sempre que eu tenho esse tempo disponível, ajudo em tudo em que posso. Tanto no clube quanto aos vizinhos do Clube, que fazem parte do complexo da propriedade".
Conseguindo mais tempo extra ainda, ele foi o principal responsável pelo recebimento e reservas das pessoas que quiseram participar da primeira olimpíada naturista do Brasil, no momento da maior efervescência, a de maior procura, substituindo o presidente Juvenal, que precisou se ausentar do país dias antes da data prevista para o início do evento. Por causa do furacão "Sandy" nos Estados Unidos, ficou impedido de voltar ao Brasil em tempo hábil para retomar o controle da situação.
Soler é um dos fundadores do Clube, um dos mais antigos frequentadores e conhece todas as pessoas que frequentam. Sua experiência mostra que todos os naturistas acabam por ajudar em maior ou menor escala, porque todos têm o mesmo interesse de fazer com que tudo funcione bem.
"Até mesmo os moradores contribuem durante todo o ano com pequenas intervenções emergenciais, em momentos em que a diretoria não está presente. Isso faz parte do espírito de cooperação do Naturismo. O fato de estar todo mundo sem roupa faz com que todo mundo esteja no mesmo nível, ninguém com mais luxo ou menos luxo, favorece uma maior integração e se sentirem todas iguais."
Segundo Soler os cargos administrativos são mais para cumprir uma função estatuária.
"Não importa se a pessoa está agora presidente ou não, ela é uma moradora, uma associada como outro qualquer . Então todos têm comprometimento e estão harmonizados com o resto do grupo e isto acaba resultando em benefício para todos."
Sobre uma das principais atrações do Rincão, a famosa cachoeira, explica que ela fica fora da área do Clube e que realmente não tem sido recomendada a visita por causa do caminho até lá, que está sem conservação, e também a própria cachoeira, que precisa de limpeza e pode se tornar perigosa por causa de cacos de vidro deixados por pessoas mal-educadas. Além disso o clube não tem recursos por exemplo para manter um guarda-vidas lá na cachoeira, para caso de acidentes. Hoje em dia somente se vai em grupo organizado previamente. Mas está estudando uma sugestão de haver um guia exclusivamente com esta função, remunerado pelo grupo interessado.
Quanto aos jogos "olímpicos", os considerou bem satisfatório, mas esperava bem mais gente. Atribuiu esse número ao fato do feriadão ter começado com tempo instável e chuvoso, mas lembrou também ao fato de o feriado ter caído na quinta-feira, e não na sexta, pois muita gente teria que trabalhar entre o feriado e o sábado. Mesmo assim o objetivo foi atingido porque conseguiram montar 4 equipes com o mínimo de 15 pessoas cada, como estava previsto. E nenhuma modalidade deixou de ser praticada por falta de participantes, embora algumas provas tenham sido alteradas ou substituídas por sugestão dos próprios concorrentes.
"Mas a gente aprendeu muita coisa com esta primeira edição. Muita coisa dos bastidores foi mantida lá. Ninguém tinha qualquer experiência. Foi um grupo de amigos que se reuniu e resolveu fazer uma brincadeira. No decorrer das ideias foi resolvido ser levado um pouco mais a sério e organizar as provas, a programação e as regras."
Soler lembrou da solidariedade reinante no ambiente do Rincão e citou que “ninguém deixa alguém almoçar sozinho: ou se junta a ele ou então o convida para almoçar na sua casa. O gostoso é estar junto, não é estar meramente pelado. O que é gostoso aqui é ter um grande grupo de amigos que mais ou menos pensam como você."
O Rincão está saindo bem rapidamente de uma crise causada por uma divulgação falsa de que ele estava fechado para visitantes e só funcionava para os condôminos. "Nós demoramos a perceber isso" conta Soler. "Descobrimos o motivo da falta de visitantes quando encontramos pessoas ao acaso e que comentaram que o Rincão tinha fechado. Esse declínio causou uma diminuição de receita e tivemos muita dificuldade em manter a cozinha funcionando". Hoje em dia, otimista, acredita que se o ritmo de ocupação continuar aumentando, em breve terá uma boa receita e poderá oferecer mais e melhores serviços.
O artista plástico Márcio Gottard, descendente de italiano, nasceu em São Paulo. Há 22 anos mora em Taubaté e há 18 frequenta o Rincão. Já fez várias exposições em várias áreas naturistas, inclusive participando da inauguração do Mirante do Paraíso, em Igaratá. Funcionário aposentado da prefeitura, exerceu sua arte paralelamente ao trabalho público. É proprietário, juntamente com sua esposa, de uma casa dentro do Rincão. Eles têm vontade de mudar de vez para dentro da área naturista até o final do ano que vem, mas pretendem manter a casa de Taubaté como suporte. Durante o evento fez parte do corpo de jurados e usava a pulseira azul. Achou a organização dos jogos muito boa, mas muito difícil e elogia o Michael pela coragem e pelo feito. Márcio também já foi administrador do clube, fase que ele considera muito boa, mesmo com vários problemas financeiros.
Leia também: I Olimpíada naturista: o fato em fotos
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