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Jornal Olho nu - edição N°188 - Julho de 2016 - Ano XVI |
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Comandos
Naturistas (2)
por PAULO PEREIRA* No artigo publicado em maio, 2016, focalizei sumariamente a atuação pioneira dos Comandos Naturistas, a partir de 1964, na Prainha, no Grumari/ Abricó e em Parati, na Ilha Sapeca. É igualmente importante, agora, registrar as visitas históricas à Ilha do Sol de Luz del Fuego, inclusive na qualidade de correspondente oficial da revista alemã Freies Leben, conforme credencial emitida em 30/09/1964, também reproduzida no meu livro “Naturalmente, Um Perfil Documentado”, 2008. Observemos, de passagem, que já naquela ocasião, há cinquenta e dois anos, o ilustre editor de Freies Leben, o alemão Rolf Kellenhusen, no texto em inglês da credencial, escreveu claramente, falando da revista alemã conceituada internacionalmente, que Freies Leben era uma revista dirigida aos “friends of recognised nudism-naturism”, isto é, aos amigos do reconhecido nudismo-naturismo, os dois termos unidos, em respeito à real e histórica concepção do Movimento, conceito tornado oficial pela INF a partir de 2004, o que nos serve de reflexão objetiva, sempre longe de palpites incertos, meramente subjetivos.
Incentivados, inclusive pelo exemplo e pela atuação histórica de Luz del Fuego, os nossos Comandos Naturistas, felizmente, atuaram fortemente não só na Prainha e em Parati, mas também na Ilha Grande e na Reserva da Barra, e eventualmente em Petrópolis, Itatiaia e Teresópolis. Na Ilha do Sol, encontrei a raiz, a base nudista-naturista do Brasil, o exemplo histórico indelével, a vivencia de muitas manhãs e tardes em contato com a natureza sem máscaras, e as reflexões de Dora Vivacqua a enriquecer o aprendizado. E, na praia da Reserva, por exemplo, há uma série de registros notáveis, que não devem ser esquecidos. No início, a chamada Reserva era somente uma longa extensão de praia deserta, sobretudo, numa região então pouco habitada, servida por estrada simples, de terra batida. Quando foi construída a Reserva Biológica da Barra, uma considerável extensão da praia foi demarcada e construída uma pequena torre de vigilância. A área em frente ao chamado Portão 13, com o tempo, passou a ser visitada por nudistas-naturistas, que conseguiram firmar o ponto como local de prática. O vigia da torre, de nome Elídio, cidadão português, passou a ser amigo dos naturistas, que igualmente também puderam utilizar o terreno onde residia o vigia, junto da Lagoa de Marapendi. E ainda mais tarde um pequeno grupo de empresários conseguiu negociar a área onde residia o tal vigia, onde foi construído o conhecido restaurante chamado “Lokau”. Nos últimos anos da década de 1980 e nos primeiros anos da década de 1990, sobretudo, era grande a frequência de banhistas e de nudistas-naturistas na área da Reserva, especialmente aos sábados, domingos e feriados. Ficou, então, famosa a turma do “mini????”, um minúsculo tapa-sexo, usado por homens e mulheres, sem maiores problemas. Os nossos amigos dos Comandos Naturistas também puderam frequentar a área, muitas vezes aderindo ao uso do minimum. Em frente a este estacionamento é que havia frequência de naturistas na praia da Reserva Mas anteriormente, nos anos 1960 e 1970, especialmente, a área próxima ao Portão 13, de preferência, foi bastante frequentada pelos nudistas-naturistas. E, numa bela manhã de sol, na década de 1970, conheci o nobre amigo Osmar Paranhos, justamente na área da Reserva, um encontro marcante para mim, até porque Paranhos era amigo de Luz del Fuego, e também um dos fundadores da Ilha do Sol. A rica convivência com Paranhos é inesquecível, um marco na caminhada nudista-naturista do Brasil. É interessante observar que, naquela ocasião, na prática, havia menos intolerância à semi-nudez e à nudez do que passou a ocorrer mais tarde por inúmeros fatores conhecidos. A praia da Reserva é um “point” nudista-naturista registrado pela história, uma saudade gostosa que é compartilhada por todos que puderam vivenciar aquela época. Por tudo isso, quando alguns afoitos, por exemplo, falaram em “diáspora”, que teria ocorrido entre os nudistas-naturistas após a morte de Luz del Fuego, apenas conseguiram demonstrar sua ignorância do Movimento no Brasil, até porque, em 1967, o nudismo-naturismo não era praticado exclusivamente na Ilha do Sol... E a atividade nudista-naturista não sofreu qualquer solução de continuidade ou dispersão: pelo contrário, a ação dos Comandos Naturistas, por exemplo, até cresceu bastante. Em 1960, em Brasília, já existia oficialmente a Fraternidade Naturista Internacional do Brasil, criação do pioneiro Daniel de Brito, associação que, em 1969, com registro na INF, passou a chamar-se A.N.B. – Associação Naturista Brasileira, fundada por mim, Paulo Pereira, por Daniel de Brito e Tácito Antônio Heit, como está devidamente anotado nos meus livros “Corpos Nus” e “Naturalmente, Um Perfil Documentado”. O naturismo do Brasil não é resultado de milagre ou de impulso isolado, mas de longa e rica história. Anotemos! A atividade dos Comandos Naturistas na Ilha Grande é digna de destaque. Os nossos grupos utilizavam lanchas e grandes barcos (alguns iates de pesca, por exemplo) de amigos, ou alugados, para alcançar o litoral da Ilha Grande, distante do Abraão, e do presídio que havia na época por lá. Os grandes barcos eram ancorados ao largo, o mais perto possível da praia, e utilizando pequenos barcos os amigos nudistas-naturistas chegavam à costa da ilha, um verdadeiro paraíso natural. É importante salientar a beleza e a preservação que havia na maior parte da ilha, onde eram encontradas várias fontes de água doce muito limpa, sem falar na exuberante mata, com sua flora e fauna ainda fecundas, equilibradas, selvagens. Saindo do acampamento, e depois de longa caminhada pela mata magnífica, os nossos amigos chegavam a uma longa praia deserta, junto ao mar aberto, na direção do Pontal de Castelhanos, um local deslumbrante de encontro maior com a mãe natureza. As práticas nudistas-naturistas na Ilha Grande são um exemplo de qualidade e de espontaneidade, sem complicações ou burocracias, o nudismo-naturismo exaltado, sereno. Na volta da Ilha Grande, algumas vezes, fomos alcançados por ondas fortes, a maré vazando e o vento leste soprando, uma combinação meio inquietante, mas felizmente sempre uma vivência renovadora, que promove uma reflexão importante, especialmente quando muitos buscam o artifício em lugar do natural. E o nudismo-naturismo, repitamos sempre, é tão somente natural, como nos ensinou William Welby. A natureza, que não pede julgamentos, consegue sempre afirmação, pois é indiferente às meras subjetividades humanas. Os Comandos Naturistas, uma iniciativa histórica muito rica, modéstia à parte, é motivo alegria maior para mim, que tive a graça de poder viver, até hoje, todas as etapas de construção e evolução da prática nudista-naturista no Brasil, o que é uma responsabilidade mais do que um privilégio, que assumo com muita humildade. Além da mencionada Ilha Grande, os Comandos Naturistas atuaram eventualmente em Petrópolis, em contato com a companheira Isabel, feminista e vegetariana, que liderava um pequeno grupo nudista-naturista. Em Itatiaia e Teresópolis, nossa atuação ocorreu em algumas propriedades particulares, casas de amigos, espaços generosos que nos acolheram com simplicidade e fidalguia. No alto da serra, em Itatiaia, nossas práticas tiveram lugar em dias de sol, no verão, em pequenos espaços desertos, junto do caminho das chamadas Prateleiras das Agulhas Negras, por exemplo, uma experiência pouco comum, rica, a nudez integral numa área montanhosa, normalmente muito fria e isolada... A natureza, sempre pródiga em diversidade, nos proporcionou uma vivência especial, deliciosa na sua rudeza, na sua verdade natural. Falar dos chamados Comandos Naturistas, assaltando modestamente a história do Movimento no Brasil, é motivo de alegria sagrada para mim, que guardo na mente e no coração uma coleção preciosa de belas jornadas, feitas de simplicidade, sempre do jeito que a mãe natureza quer.
É fundamental reiterar a importância da história, dos fatos datados e da
tradição, que dignificam e engrandecem a deusa saga nudista-naturista do
Brasil, desde o início dos anos de 1950, reafirmando o pioneirismo de
Dora Vivacqua, a Luz del Fuego, cujo assassinato, repito, pede a leitura
lúcida e sábia de um crime cultural. Paulo Pereira ___________ Julho, 2016
(enviado em 1/07/16 por Paulo Pereira) |
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