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Jornal Olho nu - edição N°192 - Novembro de 2016 - Ano XVII |
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V ENNN – 2016 - TESTEMUNHO ÉTICA – No naturismo ! Nudez total: É ÉTICA ! Minha exposição versará essencialmente sobre dois items do Código de Ética, a saber: A NUDEZ e a Prática sexual em locais naturistas.
Qualquer vestimenta em
área naturista é antiética e contribui para descaracterizar,
desvirtuar o lugar ! O que dizem algumas pessoas não naturistas sobre nós, naturistas ? “ Como é possível que esses marginais, autodenominados de naturistas, nos venham falar em ÉTICA, Código de Ética e que mais ? Eles, depravados, se despem e permanecem nus em público em nossa praia ! São todos iguais: Os que fazem sexo na praia e os que dizem que não fazem. Por mim a praia naturista fechava logo ! Devem estar todos possuídos do demônio. Eles atentam contra os nossos bons costumes e nos ofendem a todos. Nós não queremos esse tipo de gente aqui. Lá fora, todo o mundo vai pensar que a vila é só putaria... Nós somos contra a praia naturista onde só rola orgia sexual. Por nós, essa praia naturista fechava logo. “ Enquanto naturistas, podemos até ser as melhores pessoas do mundo, sendo apreciados em função dos valores morais predominantes na sociedade. Mas, ao nos despirmos em público, essa sociedade não mais acredita que somos pessoas de bem. Logo somos apelidados ou considerados como marginais. É verdade que, quando fora de Massarandupió dizemos de onde somos, as pessoas nos olham com ironia a roçar o desdém: Ah você também é de Massarandupió onde tudo é permitido, nos perguntam, em tom afirmativo... É verdade que o nome de Massarandupió está queimado...há mais de 15 anos, por causa da má fama da praia naturista. Infelizmente, eu creio que aquele tipo de lamúria pode acontecer relativamente a quase todas as praias naturistas, devido ao fato de as mesmas serem invadidas por gente não naturista que vai para lá praticar sexo em área pública. Falando da nossa praia naturista de Massarandupió, eu pertenço ao grupo de pessoas que ouvem e compreendem essas lamúrias ! Afinal, essas pessoas, que nós muito respeitamos, o que ouvem, desde que a praia naturista foi criada em 1999, é que o pessoal – e aí infelizmente generalizam - vem na praia naturista para transar e alguns até na vila querem ficar nus. Ainda que sejamos relativamente recentes, neste lugarejo, confessamos que vimos na praia naturista, com nossos próprios olhos, cenas chocantes para o mais liberal dos mortais, cenas de uma baixeza moral que pensávamos não existirem. Contudo, nessas lamúrias, o que merece a nossa discordância é a tentativa de se nivelar por baixo todos os frequentadores desta praia naturista, naturistas e não naturistas. Essa gente que critica, em parte, fala certo. Esta praia naturista estava uma orgia a céu aberto ! A baixaria se enraizou, durante 16 anos, de tal modo que parece impossível erradicar essa terrível prática dali. Mas somos dos que acreditam em que isso ainda é possível. Se não acreditássemos, nunca teríamos reativado a AMANAT, nem concebido e implementado nosso projeto de erradicação dessa prática criminosa e aviltante – assente no permanente diálogo com os barraqueiros, com os naturistas, com os prevaricadores que nada têm de naturistas, e apelando constantemente ao Poder Público – Prefeitura, Policia Civil, Policia Militar, SPU e muito especialmente ao Ministério Público - para que ele, Poder Público, faça a sua parte. Paralelamente, continuamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para que as pessoas deste povoado compreendam o sentido do nosso trabalho diário e, sobretudo, acreditem conosco neste projeto e nos ajudem a realizar os nossos objetivos. Junto das pessoas do povoado nós efetuamos um trabalho de conscientização e divulgação das virtudes do NATURISMO e da Ética Naturista, lhes explicando que o NATURISMO exclui toda e qualquer prática sexual ou de conotação sexual na Área Naturista da Praia de Massarandupió ! Para mim, Ética no naturismo é muito mais do que o conteúdo do nosso Código de Ética ! Ética no Naturismo é Viver Nu, no respeito pelos valores morais e das Leis, respeitando-se a si próprio, respeitando seu semelhante e respeitando a Natureza ! No que me diz respeito, sou pessoa convicta e seguidora dos valores morais que Jesus Cristo pregou, mas cedo eu também consegui interiorizar a cultura do corpo livre, enquanto filosofia de vida, que consiste numa outra forma mais abrangente de ser, de estar, de viver e conviver. Na realidade, uma nova mentalidade inspirada, também ela, em princípios morais, enquanto conjunto de regras adquiridas através da cultura, da educação, das tradições e da própria vivência do cotidiano, e que orientam o comportamento humano dentro de uma sociedade, as quais regras, para mim, já excluem: - pudores descabidos, - vergonhas sem razão de ser, - reservas completamente irracionais, ainda que eu compreenda que, para muitas pessoas, isso seja um processo evolutivo, por força do tipo de educação (?), inconcebível, recebida ao longo de muitas, muitas gerações. É mesmo: As pessoas “normais” – consideradas normais pela sociedade, por oposição a nós naturistas – vítimas desse tipo de educação, têm a cultura do “ corpo preso” por tabus, preconceitos e conceitos outros bem diferentes dos que norteiam a forma de VIVER de nós outros, os NATURISTAS ! Santo Agostinho, Agostinho de Hipona, pode ser considerado, enquanto teólogo da Igreja Católica, como um dos principais responsáveis pela realidade do “corpo preso” pela nefasta influência que teve na criação do pudor descabido do corpo, ao introduzir na Igreja Católica o dualismo do bem e do mal - tudo o que dizia respeito ao corpo era o mal, daí ele ter insistido na repugnância da sexualidade e do corpo, através do qual ela, sexualidade, se manifesta. Essa filosofia do “corpo preso” – a denominação é minha, por oposição à filosofia do corpo livre - é a principal responsável pelo fato de, ao longo de séculos, as pessoas apenas se despirem para transarem e olha lá...homens houve e há, ainda hoje, cujas mulheres não os querem ver nus para transarem. Pedem para primeiro apagarem a luz, se despirem na escuridão e depois virem para a cama e então transarem, mesmo assim cobertos pelo lençol. Mesmo assim – do século XI ao século XV – as pessoas dormiam nuas, no mesmo recinto em família, umas vendo a nudez das outras com toda a naturalidade, sem pejo. Até perante estranhos a nudez ocorria com naturalidade. Quem estudou a história universal sabe também que a Contra Reforma elegeu dois alvos – o protestantismo e a nudez. Aí, os jesuítas passaram a combater a nudez, dividindo o corpo em partes dignas e em partes indignas, induzindo a vergonha do corpo nu, censurando a arte do nu, por exemplo, através da colocação da folha da videira para tapar os órgãos genitais. Eloquência do que aqui digo: O Concílio de Trento em 1515 foi taxativo: Era pecaminoso ver e ser visto NU. E assim por diante: A repressão sobre a nudez se entranhou nas populações católicas, aqui no Brasil com particular ênfase. Um exemplo, o de Martim Afonso de Sousa, cuja atividade de evangelização logo incluiu como objetivo o de forçar os índios a se vestirem. Por força dessa filosofia agostiniana, digo do “corpo preso”, que eu repudio: - nasce a vergonha do corpo; - nasce a por alguns chamada somatofobia, enquanto recusa da exposição do seu próprio corpo nu; - nasce a gimnofobia, ler horror da nudez; - nasce a pudicícia ou a pudibundaria, ler excesso ridículo ou descabido de pudor – como o se lavar sob o chuveiro de cueca por pudor. Assim, alguém estranha que as “pessoas normais”, que herdaram dos seguidores de Santo Agostinho – pasme-se, Doutor da Igreja Católica - essa cultura do “corpo preso”, nos considerem a nós naturistas como marginais ? Alguém estranha que o Naturismo, em pleno século XXI, ainda seja um modo de vida subversivo, subterrâneo, com os naturistas a não se assumirem como tal em seus locais de trabalho, junto de suas famílias, devido à pressão dominante da sociedade em geral ? Podemos ser exemplares sob ponto de vista moral e ético. Podemos ter um Código de Ética onde, fora a questão da nudez, tudo é perfeição. Mas, as “pessoas normais” não acreditam em toda a nossa virtude por andarmos nus, ainda que em locais para isso reservados. E eu digo: Portugal deu um grande passo, contra a filosofia do “ corpo preso “, em sua legislação naturista: lá o ficar nu, não é crime. Ficar nu é um direito da pessoa humana. Lá a legislação apenas pede compreensão e respeito pelas “pessoas normais”, porque elas ainda estão no caminho da libertação do corpo, eu direi da mente. Trata-se de libertar a mente dessas amarras culturais agostinianas, para que o corpo se liberte e usufrua de pleno direito da sua nudez. Fui assim explícito para compreendermos o porquê de, para algumas pessoas, na nossa Praia Naturista, o FICAR NU é para praticar sexo! Quanto tempo vamos ainda demorar para os convencer, conscientizar do contrário, se até o próprio Código Penal Brasileiro trata o ficar nu e o fazer sexo em público da mesma forma ? Ambas situações são consideradas como atos obscenos pelo Artº. 233 do Decreto nº. 2.848, de 07.12.1940 ! Seria bom que no Brasil se começasse por alterar esse artigo, despenalizando o simples fato de ficar nu, desde que sem exibicionismo. O NATURISMO é, em si mesmo, dissociado de intuitos sexuais em lugar público. Porque o NATURISMO encara a NUDEZ com naturalidade e não como sinônimo de sexualidade. Mas, para a grande maioria, das pessoas “normais” NUDEZ = SEXO, porque não conhecem e/ou não aceitam a cultura do corpo livre. Porque elas, repito, só encontram a nudez no momento de praticar sexo, ao passo que, na cultura NATURISTA, a nudez é habitual, frequente, repetitiva, absolutamente NATURAL. Na realidade, no NATURISMO, nudez em grupo, ou social, significa a convivência das pessoas, em praias e em campos de NATURISMO, de todas as idades (nenês, crianças, jovens, adolescentes, pessoas de meia idade, idosos, homens ou mulheres, solteiros ou casados e sobretudo famílias). É moralmente ético ficar nu em espaços destinados à prática do naturismo, também porque: - A nudez não é obscena. - A nudez é inocente. - A nudez não equivale a erotismo. - A nudez é uma forma de liberdade. - A nudez é manifestação de soberania individual. - A obrigação de vestir-se cerceia a liberdade individual. - A nudez é um direito inalienável da pessoa humana. ... Os locais naturistas não se destinam à mixoscopia, ler volúpia sexual, pela observação da nudez alheia, e muito menos à busca de aventuras sexuais. Mas não nos podemos ficar por esta afirmação e pelo repúdio dessas práticas criminosas. Temos que combater essas práticas, com o respaldo do Poder Público. Não é escondendo das ”pessoas normais” e do Poder Público, a existência de práticas sexuais em nossos espaços naturistas, que nós iremos resolver de vez esta situação. .... NATURISMO é respeito por si próprio e isso é ética naturista: - Cuidando da própria saúde, tanto física quanto mental. - Recusando vícios.
- Aceitando seu
próprio corpo como ele é, vivendo a boa sensação de bem estar desse
seu próprio corpo quando nu. Mente sã em corpo são. - Recusando todas as formas de violência e nunca julgando o outro pelas aparências. - Privilegiando a transparência, a cordialidade e a sinceridade nas relações humanas, quaisquer que sejam suas convicções e índole destas. ..... NATURISMO é respeito pela NATUREZA e isso é ética naturista: - Sendo a preocupação ecológica uma constante, se manifestando no zelo pelas praias, mares, rios, ar, fauna e flora. César Xisto 13/10/2016 Leia também V Encontro Norte-Nordeste de Naturismo Ata da Plenária e do Trabalho final do V ENNN – Entre Rios – BA (enviado em 20/10/16 por César Xisto) |
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