SEU JORNAL VIRTUAL SOBRE NATURISMO NO BRASIL E NO MUNDO |
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A história do naturismo no Brasil está sendo contada em capítulos
nas edições do OLHO NU. De autoria de Roberto Soares, naturista de longa
data e aficionado pelo Movimento, que a relatou originalmente para ser
publicado no livro Luz del Fuego - A Bailarina do Povo de Cristina
Agostinho, Branca de Paula e Maria do Carmo Brandão (Editora Best Seller
- 1994). Baseando-se no que foi publicado na imprensa em geral e em experiências
e fatos vividos por ele próprio, Roberto começou sua trajetória a
partir de Luz Del Fuego, que era o personagem central do livro, depois
focalizou a famosa Dona Beja, e em seguida relatou as experiências difíceis
para encontrar o Naturismo na época da Ditadura Militar, entremeando sua
história pessoal com os fatos históricos. Nesta oitava e última parte,
Roberto destaca mais um personagem da história do naturismo brasileiro,
Luciano Canabrava, contemporâneo de Luz e que ajudou a manter o Movimento
após a morte dela. Infelizmente Luciano também teve um fim trágico. "Encontro com o Paraíso"
8º capítulo A Luta Continua |
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Convidado a tomar a palavra, Luciano começou: - "Vocês,
jovens batalhadores, como Celso Rossi, Sérgio de Oliveira, Alexandre
Tsanaclis e tantos outros, responsáveis pela oficialização e incremento
do Naturismo no Brasil, é que escrevem sua história. Eu, Luz del Fuego,
e tantos outros, escrevemos apenas a pré-história do movimento."...
Luciano Canabrava tinha freqüentado a
ilha do Sol, tendo se tornado amigo de Luz. E teve quase o mesmo fim que
ela; duas semanas depois do evento de Guaratinguetá, em 12 de dezembro,
foi seqüestrado no sítio Norderney, próximo a Brasília. Os seqüestradores
fizeram contato com a família, exigindo o resgate, mas a polícia já
havia encontrado seu corpo.
O sítio estava em obras para tornar-se
uma pousada naturista, que seria inaugurada em abril de 1995; agora existe
a idéia de seus herdeiros, de levar adiante o projeto, completando-o como
uma homenagem póstuma.
Transcrevo aqui, uma carta dele, endereçada
a Sérgio de Oliveira, divulgada pela Rio-Nat: |
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"Meu caro Sérgio,
Recebi a carta em que você, entre
outras coisas, faz uma referência à citação de meu nome na introdução
ao roteiro escrito pelo Aguinaldo Silva sobre a Luz del Fuego. Já tive
esse livro; emprestei-o, não sei mais para quem. Gostaria de adquirir um
novo exemplar.
Você também me diz que está reunindo
material sobre ela. O que eu tenho, de concreto, são duas fotos, tiradas
na ilha do Sol, mais uma carta. Desta mando-lhe aqui anexa uma xerox. Das
fotos, que no original são a cores, mando-lhe ampliações em preto e
branco. Além disso, tenho muitas lembranças, inclusive a de uma longa
conversa sobre sua vida. Ela tinha um álbum de fotografias, que ia
folheando enquanto me contava sua história. As primeiras fotos mostravam
uma jovem muito bonita, do tipo que a gente costuma chamar de violão. A
Luz que eu conheci pessoalmente tinha seus cinqüenta e tantos anos e as
fotos que eu agora lhe mando, já na ocasião não eram recentes.
Como conheci a Luz? Estava de passeio
no Rio, em férias, e certo dia resolvi repetir uma experiência, que vez
por outra realizava quando muito jovem: sair sem rumo predeterminado,
pegar a primeira condução, fosse qual fosse, e assim por diante. Era
sempre um passeio com sabor de aventura. Foi assim que acabei pegando um
bonde que levava para as barcas. A primeira ia para Paquetá. E lá fui
eu.
Parei no Hotel Fragata para almoçar. Lá
de perto vê-se uma pequena ilha. Informaram-me que era a ilha do Sol, da
Luz del Fuego. Calculei uns dois mil metros de distância - na verdade era
mais longe. Era bom nadador, e a primeira idéia foi nadar até lá, mas já
que acabara de almoçar, achei mais prudente alugar uma canoa, com remador
e tudo. A Luz não estava - informou um empregado - e não permitia que
ninguém ficasse na ilha sem autorização dela. Se eu quisesse, que
voltasse no dia seguinte, quando então a encontraria.
Hospedei-me no Hotel Fragata e na manhã
seguinte fui de novo à ilha. Fui recebido por um senhor muito branco que
parecia nunca tomar sol. Era o Hélio, o namorado da Luz. Despi-me e ele
me levou até ela. Morena, pele curtida pelo sol, cabelos pretos longos
caindo sobre os ombros. Sob os seios as cicatrizes de uma plástica que
evidentemente não fora feita pelo Pitanguy. A presença de um estranho não
foi saudada com alegria. Eu era um desconhecido e tudo o que ouvi foram
desculpas polidas por não poder me receber como hóspede; não havia
lugar, não havia cama...
Mas eu estava determinado. Ficara
encantado com a ilhota: as pedras, as pitangueiras, as águas límpidas em
torno... Disse que poderia dormir em qualquer lugar, até na cozinha.
Cama? Eu compraria uma de armar. Dei informações a meu respeito, o que fazia, onde trabalhava e eles ficaram de dar-me uma resposta. No dia seguinte o Hélio procurou-me no Hotel Fragata. Sua atitude, antes de reserva, era toda cordialidade. De repente senti-me "persona grata". Fechei minha conta no hotel, comprei uma cama de armar e fui com o Hélio para a ilha do Sol. A reserva também desaparecera da atitude de Luz. Estava, agora, alegre por me ver. Levou-me para mostrar a ilha. Além do prédio da cozinha, havia mais duas construções: uma de maior tamanho, ainda em obras, e outra, bem pequena, parecendo uma capelinha, que na verdade era o seu quarto. Era todo decorado com motivos e apetrechos indígenas: colares, cocares, arcos, flechas, etc. Em cima do prédio maior havia um reservatório para captar a água da chuva. "Tudo isso aqui foi construído com dinheiro de macho!"- contou-me sorrindo." |
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*Naturista gerente do bar da praia de Massarandupió na Bahia. |
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