Pedro Ribeiro e Jorge Barreto já se posicionaram sobre esta questão. Leia a seguir o que pensam os dois responsáveis pelo jornal OLHO NU. Escreva também dando suas opiniões.

Direito à exceção ?

Pedro Ribeiro* 

Eu acredito piamente que a maior virtude do Naturismo é fazer com que nós aceitemos o nosso corpo e o corpo dos outros da maneira como eles são, respeitando as diferenças e os "defeitos". Ninguém é perfeito. A sociedade estabelece padrões para tudo, inclusive de como um corpo deve parecer. E essa padronização acaba gerando preconceitos das pessoas em relação às outras e angústias nelas próprias quando percebem que aqui ou ali, na geografia dos corpos, o que se vê não está de acordo com os padrões.

Não há muito tempo, o padrão de normal era ser branco, o que gerou (e ainda gera!) angústia em muitos negros que queriam alisar cabelos ou embranquecer a pele e preconceitos em muitos brancos que discriminavam negros por não estarem dentro do padrões aceitáveis de aparência. O meio naturista deveria ser livre destas amarras sociais e pregar que cada pessoa é o que é nos seus corpos e ponto final. 

Culturalmente nossa sociedade valoriza muito os seios e padroniza como eles deveriam ser, por isso há tantas mulheres que fazem questão de aumentá-los ou diminuí-los de acordo com a moda da época. Da mesma forma o pênis é muito valorizado entre os homens e padronizado culturalmente. Graças aos céus temos áreas naturistas para constatarmos que são diferentes entre si. Todos os tamanhos, formas e aspectos.

Há muitos homens que não frequentam áreas naturistas por vergonha de expor seus pênis, por que acham que são pequenos demais ou grandes demais. Aí, lá vem a ciência para dizer que existe uma média de tamanho etc e tal, que acaba de novo padronizando na média. E isso importa?

Há sacos escrotais enormes por causa de doença contraída, há pênis encolhidos após cirurgias de próstatas, há pênis verdadeiramente desaparecidos em meio aos pelos pubianos em algumas pessoas extremamente gordas. E daí ? O corpo é dele e só dele, e ele deve respeitar o seu próprio corpo e dos demais. Deveriam todas essas pessoas poder frequentar áreas naturistas sem ficar nuas? 

E aqueles que se submeteram a alguma cirurgia que tiveram que extirpar algum pedaço do corpo ou ficaram com cicatrizes fortes? Também estes deveriam sempre ocultar a parte extirpada? Neste caso, quem perdeu um braço ou uma perna deve sempre se cobrir ? Quem perdeu um olho deve sempre usar um tapa olho feito pirata ? 

Infelizmente perder algum órgão do corpo faz parte da vida. Antigamente nem havia muito esta solução. Geralmente se perdia era a vida. Ficar sem uma parte do corpo mostra que a pessoa sobreviveu, que lutou por estar viva, que acredita que o maior bem é a própria vida e pode servir de exemplo a milhares de outras pessoas que se desesperam só em pensar na possibilidade de ficar fora dos padrões estabelecidos. 

Não estou dentro das pessoas para saber seus sentimentos e angústias, mesmo assim acredito que ficar sem uma parte do corpo não seja motivo para não tirar a roupa numa praia de nudismo. O primeiro passo é acreditar na filosofia naturista e aceitar o seu corpo da forma que ele é, ou momentaneamente ou definitivamente está, e o segundo é acreditar que quem possui um olhar preconceituoso para uma pessoa que tem algum diferença física marcante, não serve para ser naturista.

*pedroribeiro@jornalolhonu.com 

Direito à exceção

Jorge Barreto* 

*jorgebarreto@jornalolhonu.com