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Jornal Olho nu - edição N°129 - agosto de 2011 - Ano XII |
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Massarandupió: História e lideranças por Pedro Ribeiro* A praia de Massarandupió, o único reduto naturista público oficial na Bahia é administrada pela AbaNAT - Associação Baiana de Naturismo - que é capitaneada pelo seu presidente Miguel Vasco Calmon Gama, 62 anos, o vice-presidente Daniel Rabillart, 62, e o presidente do Conselho Antonio Chagas Ferro Rebelo, 65 (também é suplente do Conselho Maior da FBrN para a região Nordeste). Em bate papo informal no restaurante principal da praia de Massarandupió, numa belíssima noite de lua cheia de sábado, em meio a muita batucada, música e alegria generalizada no ambiente, o jornal OLHO NU quis saber um pouco da história, dos problemas e da situação atual da praia que possui uma beleza ímpar.
Miguel conta que é guia turístico e tem uma agência de viagens em Salvador. Por conta disso resolveu organizar uma excursão para a praia de Tambaba, na Paraíba, recém inaugurada, colocando um anúncio no jornal para conseguir inscrições: Excursão para Tambaba no Carnaval". Só que eu escrevi a palavra naturista e o jornal publicou naturalista. Então o (Antônio) Ferro viu o jornal, ligou para o Miguel, chamando-o de "burro", por causa da palavra mal usada. Chamou-o para ir em sua casa e foi aí que eles se conheceram. O anúncio atraiu muitas pessoas, cujo número chegava a lotar um ônibus em uma semana. Marcou com cada um que entrou em contato para ir a sua casa para uma reunião com os interessados. E aí começaram as desculpas: doença própria, doença na família, acidente de carro, entre outras, então só restaram seis casais. Miguel chegou para o Ferro e disse que a excursão tinha acabado. Um dos que ainda queriam ir, Paulo Sobral, sugeriu que se alugasse uma van e ir para Tambaba assim mesmo. Mas naquela altura, diz Calmon, já não tinha hotel, já não tinha pousada, já não tinha mais nada e resolveu não se aventurar. Então depois do carnaval, na Semana Santa, diz Ferro, "me ligaram dizendo: vamos embora para uma praia na Bahia - e eu fui encontrá-los para sairmos de barco para encontrar uma praia naturista. Eu e o Paulo Sobral começamos a procurar praia. Corremos até risco de morrermos afogados. foi uma busca muito intensa. Eu já estava aposentado e pude me dedicar integralmente a este projeto". Enfim, esta meia dúzia de pessoas começou a se transformar em mais gente, começaram a marcar encontros em todo final de semana, para que a gente tivesse nossa diversão e ali fosse discutido as ideias do grupo de onde surgiu a necessidade de eleger alguém que pudesse dar as coordenadas do grupo. Foi sugerido o nome do mais velho do grupo, o José Nilton, que era secretário da prefeitura de Feira de Santana, mas como ele morava lá e queriam uma área mais para o Norte, acabou sendo eleito o Miguel Calmon. E foi assim que surgiu a associação (em 1987) e como Miguel e Ferro eram os que tinham a maior disponibilidade de tempo, ficaram procurando sítios, casas afastadas de muro alto, qualquer coisa, até que um dia passaram perto da área atual, no município do Conde, que faz divisa com Sergipe. Foram a um estabelecimento comercial e, conversando com o casal de donos, falaram que estavam procurando um lugar para tomar banho nu, e a mulher falou que tinha um lugar e nós fomos olhar. Daí no caminho para a praia pararam em uma birosca e falaram de novo sobre tomar banho nu e o dono indicou-lhes um outro lugar, do lado oposto do local de hoje em dia, junto à foz do rio na praia de Massarandupió, ele disse que era um lugar lindo e maravilhoso que daria para tomar banho nu. Automaticamente foram andando para lá. Acharam o lugar lindo, com uma lagoa próxima. Desceram para Salvador e ligaram para todo mundo dizendo que acharam o lugar. No outro final de semana voltaram com doze carros. Passram a fazer isso em todo final de semana. Levavam tudo: isopor, comida e ficavam lá na praia nus. Até que o prefeito descobriu o que estavam fazendo e ligou para Calmon e disse que sabia que ele andava nu em seu município. No diálogo Calmon perguntou se ele não poderia continuar, mas o prefeito respondeu. Desconfiado, foi encontrá-lo em Salvador. Ele disse, segundo Calmon, que "tinha a maior vontade de fazer alguma coisa por Massarandupió, algo que tivesse uma atração turística. Vou botar você em contato com o fiscal do Ibama e do CRA para lhe mostrar o local certo. Se você aprovar a gente vai voltar a conversar. Na domingo veio um outro grupo com Calmon para conhecer o novo local. Subiram o morro, e acharam lindo! José Nilton foi também e reclamou do rio achando-o sujo, então Calmon falou: "sujo ou não a praia vai ser aqui mesmo porque nós cansamos de procurar". Na outra semana foi chamado para encontrar o prefeito em Salvador para um almoço e ele falou que o grupo teria um decreto para uso da praia provisoriamente para a prática naturista. Calmon reivindicou então infraestrutura para poder atrair pessoas para lá. Então o prefeito deu madeira para construir a primeira barraca de apoio e dinheiro para comprar algumas coisas. Neste primeiro dia, um homem visitante pegou a faixa que indicava a praia, trouxe duas mulheres, tirou uma foto e publicou no jornal, a manchete foi "Linha Verde descobre o paraíso". Em consequência o telefone da casa de Calmon não parava. "Então, não tinha mais volta". Pegaram a ajuda da Prefeitura e fizeram a barraca, no chão, menor do que a atual, e na semana seguinte havia na praia entre sessenta a oitenta casais. O trator com uma carroça da prefeitura trazia um monte de gente a toda hora, "teve até banda de música, foguetes, o secretário de truismo do município de Entre Rios vinha na frente para entregar a chave da cidade, veio televisão, jornal, até o Fantástico, que fez entrevistas com o pessoal", mas como era carnaval Calmon achou que iria muito pouco para o ar. No entanto, a matéria ocupou quinze minutos do programa. O Ferro que estava no Maranhão viu o programa, ligando imediatamente para Calmon, querendo ter mais informações do que estava acontecendo. "Aí a coisa pegou fogo. Cada dia aparecia mais gente de várias partes do Brasil e do mundo. Teve um casal baiano que viu a reportagem na Bolívia num dia e no outro já estava aqui." recorda-se Calmon. O começo foi muito festivo. "Mandei e também ajudei a limpar o rio, na mão e no balde, que deu ainda um aspecto mais legal para a praia. Contei com apoio de muitos que se tornaram amigos pela frequência à praia. No início alugava barraca para camping completíssima, haviam somente duas pousadas caras e em precárias condições. Era a folia do inusitado tão ao gosto do baiano". Calmon agora denuncia: "Hoje em dia é difícil dirigir uma praia de naturismo porque os problemas acontecem. Quem tem dado muitos problemas de comportamento são os casais héteros. Os gays só davam problemas quando bebiam. Mas o casais héteros, já nem sei quantos eu tive que colocar daqui prá fora". (Nota do Editor: Por infeliz coincidência, no sábado, durante o evento, um casal foi posto para fora da praia porque foi flagrado praticando sexo perto do riacho, na frente de todo mundo.) Ferro conta que houve época que as coisas perderam um pouco do controle: "quando a Neide (tomava conta da barraca, cozinhava e servia) se desencantou com o Naturismo - eu digo que Naturismo não dá dinheiro nem em Cap d'agde na França - não que se venha para cá com espírito mercenário, mas ela vinha de Salvador trazendo as coisas nas costas, até para cozinhar. A gente foi envolvido pelo entusiasmo do início. Depois notamos que era uma coisa sem retorno, não só o financeiro. A Neide foi embora, eu viajando muito e ele (Miguel) passou a barraca para o Juvenal. Vários fatos precipitaram o desencantamento com o Naturismo e o consequente abandono da turma pioneira. Foi neste momento que apareceu uma turminha que quis introduzir o swing aqui dentro. "Todo mundo ia para o rio e a bagunça acontecia." O caso mais famoso foi quando o jornais noticiaram que um grupo de gays foi impedido de entrar na praia. O jornal fez o papel dele e houve reação do Grupo Gay da Bahia, que é dirigido por Luiz Mott, a associação acabou sendo processada e foi feito um acordo entre as partes de não agressão.
Daniel conta que no período em que esteve com problemas a praia adquiriu fama de ser o paraíso dos swingueiros com propaganda até em Salvador. E quando, mais tarde, "a gente começou a tentar moralizar novamente, esse pessoal estranhava pois todo mundo sabia que a praia era assim mesmo. Durante a semana toda vez que se vinha aqui era sempre problema. Então passei a procurar a praia somente nos finais de semana. Agora as coisas começaram a melhorar". De 2004 a 2008 somente o Juvenal é quem ficou responsável pela praia e segurou toda a onda sozinho. Daniel começou a frequentar a praia nesta época. Em 2008, o filho mais velho de Juvenal, Luciano, perguntou ao Daniel se ele gostaria de assumir e reativar a associação. Ele recusou porque é estrangeiro, tem o "português ruim" e não compreende muito bem os trâmites legais do Brasil. Foram bater de novo à porta do Miguel pedindo para ajudar de novo. Hoje em dia o sustento da organização da praia é oriundo da barraca de vendas de comida e bebida. A prefeitura só dá apoio moral. A segurança só é posta nos finais de semana e em feriados prolongados. Fim de semana que dá menos gente dá uma média de seis a oito casais, segundo Calmon. Uma forma de arranjar dinheiro para pagar as despesas da praia é cobrando uma taxa de consumo a cada cliente na praia: R$ 3,00 para associado e R$ 5,00 para não associado, destinados para a limpeza e segurança. O Miguel nunca cobrou mensalidades dos associados, porque, segundo Ferro, "na cabeça dele essa mensalidade subtrairia a ajuda financeira que a prefeitura porventura pudesse dar à praia". A praia não tem áreas de divisão entre casais e solteiros. Inicialmente havia uma área de adaptação que não há mais. Todos têm que estar integralmente nus, com exceção dos trabalhadores. Homem solteiro pode entrar mas tem que seguir estritamente o código de ética naturista, "como todo mundo aliás" afirma Ferro. Os três diretores da AbaNAT são unânimes em concordar que este evento realizado em Massarandupió vai trazer muita credibilidade para a praia. NOTA: Daniel Rabillart é francês do centro da França entre Paris e Toulouse. Todos os três são aposentados, mas Daniel escreve romances. Atualmente tem um livro para ser publicado que se passa na França e no Brasil, parte na Amazônia, Salvador e em especial Massarandupió, onde encerra a história com uma grande festa naturista. *Pedro Ribeiro é editor do jornal OLHO Nu e presidente da Associação naturista de Abricó
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