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       A revista norte-americana Nude & Natural publicou uma interessante matéria sobre a nudez masculina no cinema (especialmente norte-americano), em sua edição de número 19.4 (verão de 2000). O articulista faz uma análise dos preconceitos existentes contra a visão do nu masculino na sociedade e como isto é apresentado no cinema. OLHO NU traduziu a matéria que será apresentada, na íntegra, em 3 partes, dada a extensão da mesma. Leia agora a 2ª parte.
 

NU FRONTAL

O aumento da aceitação da nudez masculina no cinema

2º parte

Por Keath Graham*

Tradução de Pedro Ribeiro**

  Aceitação pública.
 
 

“Não estou envergonhado por isso, e acho que já passou o tempo no qual as pessoas ficam chocadas com isso”.

Roger Mosely, em sua cena de nudez frontal em Mandigo (1975)

 
 

     Mais de trinta anos já passaram desde que Oliver Reed e Alan Bates lutaram com seus pênis à mostra sobre a tela de prata, ainda até hoje não é sem controvérsia que um astro aparece frontalmente nu num filme de Hollywood.

       O vencedor do Oscar Kevin Costner descobriu o lado difícil, quando sua cena de nudez frontal no filme For Love of the Game, de 1999, foi cortada graças ao teste primário de audiência. O público comentou coisas tais como “realmente precisamos ver o pênis de Costner ?” e relatos de risinhos desenfreados mataram as chances de manter a cena do chuveiro de Costner. A despeito da insistência determinada de Costner de que a cena era necessária para a visão artística do filme, os executivos da Universal Pictures curvaram-se ante seus grupos de teste e cortaram a cena da montagem final.

Malcom McDowell é um ator que não é difícil de encontrar nu em cenas de seus filmes. Em “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange – 1969) de Stanley Kubrick, por exemplo, fez diversas cenas de nudez frontal, em um personagem que fazia parte de uma gang de rua. A produção é inglesa e não norte-americana.

 

     Porém a revista Glamour reportou em uma votação, em 1993, que 86% dos respondentes (maioria mulheres) disseram que gostariam de ver mais nudez masculina nos filmes.

       O filme de Peter Cattaneo “Ou Tudo ou Nada” (The Full Monty – 1997), poderia ter sido ideal para aplacar os leitores de Glamour. Sua trama original envolve um grupo de britânicos sem-trabalho e pouca-sorte que reúne-se para organizar um show de strip-tease masculino como uma forma de fazer dinheiro rápido, assim restaurando o senso de auto-estima como maridos e pais. Informados pela população da cidade, que não estava nada impressionada por um show de strip masculino que não tem nada de novo e que não assistiriam a não ser que pudessem ver alguma coisa diferente, o líder da pobre banda decide que sua “isca” será ir um passo à frente do que os stripers profissionais e tirar tudinho.

       Embora o filme seja um maravilhoso olhar sobre os dilemas inerentes aos ritos de aceitação do corpo masculino, e o show é mostrado de fato aos espectadores do teatro no final, as audiências dos cinemas e dos vídeos só viram o que o congelamento do quadro final revela: uma tomada comum das bunda do grupo.

       Na mesma enquête de Glamour, 67 por cento dos respondentes disseram que havia muita nudez feminina nos filmes. Desde que a enquête foi feita parece que a nudez feminina tornou-se ainda mais “lugar comum”, não apenas nos cinemas mas também na televisão. Quando uma noviça largando sua ordem religiosa na minissérie da PBS (emissora pública americana) de 1994, “Body and Soul”, Kristin Scott Thomas tira seu hábito diante de um espelho e fita seu corpo nu com casualidade e curiosidade, a cena é filmada dentro de uma atmosfera de completo bom gosto. Mas deve-se perguntar se a mesma cena fosse levada ao ar pela PBS tendo sido um padre que se desnudasse...

  Duas medidas
 
 

“Você pode ganhar uma censura R (restricted) (que no Brasil corresponderia desaconselhável a menores de 14 anos) com uma cena de nudez total feminina, mas se fosse masculina a censura seria bem maior. Não acho isso certo.”

Phillip Noyce, diretor de Sliver (1993)

 
       “Nunca entendi porque sexualidade masculina nas telas é tabu mas feminina não é”, disse o diretor Phillip Noyce ao jornal Los Angeles Times logo após a realização do seu suspense Sliver, em 1993, com Sharon Stone e William Baldwin. Tendo estado sobre pressão por causa da quantidade de nudez frontal no primeiro segmento, Noyce teve que passar horas na sala de edição com irritante regularidade.

Pier Paolo Passolini, cineasta italiano, assassinado na década de 70, fez diversos filmes onde a nudez era comum. “Decameron” (1971) é baseado na obra-prima de Giovanni Boccaccio, um dos mais célebres escritores do século XIV, e é a primeira parte da chamada “Trilogia do Prazer”, que inclui ainda os inebriantes “Contos de Canterbury”e “As Mil e Uma Noites”. 

     Tentando evitar a temida classificação NC-17, a qual teria impedido o filme de aparecer na maioria dos cinemas dos Estados Unidos, Noyce aparou e aparou até que o filme fosse deixado com uma censura R e virtualmente nenhuma nudez. Então, tendo já afirmado na pré-apresentação do filme a promessa de oportunidades de nudez iguais” de suas estrelas, Noyce teve que se confrontar com um outro obstáculo inesperado quando um subitamente inseguro Baldwin não gostou do que viu de si próprio no filme e pediu para suas cenas serem refilmadas, sem nudez.

       Na pós-apresentação, Baldwin insistiu que, na curtíssima cena onde aparece um pênis de relance, o órgão exposto pertencia a um doublé não creditado, enquanto Noyce disse, “Billy aparece frontalmente nu, mas vocês não verão coisa alguma porque está escuro.” Na versão européia do filme, quatro minutos extras de cenas de sexo aparecem, as quais podem ajudar a derramar alguma luz sobre a matéria.

       Um outro ator de Sliver, Tom Berenger, não ficou inseguro ao mostrar seu pênis alguns anos antes, no filme de 1991, “Brincando nos Campos do Senhor” (At Play in the Fields of the Lord) (que também apresenta Kathy Bates totalmente nua). Representado um missionário de selva que se encontra num relacionamento competitivo com fundamentalistas sobre quais atitudes adotar com os nativos que eles aconselhavam, a adoção por Berenger dos códigos de vestimentas dos indígenas, ou a falta disso, pareceu evitar controvérsias.

       Isso pode estar atrelado ao que tem sido chamado de “Fator National Geographic”. Críticos e espectadores são inclinados a ver o nudismo “tribal”, mesmo com atores caucasianos, como inteiramente apropriado e concordam sem restrições. Se tivesse sido filmado um tipo “Brincando nos campos de Manhattan”, com as cenas de nudez intactas, poderíamos bem imaginar a multidão de raivosos descendo até a Times Square para protestar.

       Tão clemente quanto o “Fator National Geographic” parece ser quando o diretor não se aproveita das vantagens do que a nudez possa oferecer. Veja em “Floresta das Esmeraldas” (Emerald Forest – 1985) de John Boorman, no qual a vestimenta escolhida para homens foi uma tanga. Embora o uso de tangas não está inteiramente fora de lugar em uma selva ou floresta tropical, parece estar fora de lugar em filmes como a comédia Walk Like a Man - 1987, de Howie Mandel, onde o personagem de Mandel é um menino criado por lobos. A despeito do fato que nenhum humano estava nas proximidades para ensiná-lo a usar roupas, ele adotou uma tanga sem nenhum por quê. Em 1983, em “Greystoke: A Lenda de Tarzan” (Greystoke : The Legend of Tarzan), as cenas da infância São ao menos retratadas com nudismo frontal; mas quando Tarzan amadurece, ele também decide inexplicavelmente adotar uma tanga para cobrir seu sexo.

       Falando de Tarzan, é interessante notar que no clássico “Tarzan, O Homem Macaco” (Tarzan, The Ape Man – 1932), estrelado por Johnny Weismuller como o rei da selva, foi a roupa de sua co-estrela Maureen O’Sullivan que não satisfez os requisitos do Código Hays. Enquanto Weismuller tinha permissão para flexionar seu tórax nu e suas nádegas raramente escondidas, as duas pequenas tangas de O’Sullivan tiveram que ser redesenhadas para deixar um pouco mais para a imaginação.

       Embora a lenda de Tarzan seja um trabalho de ficção, e podem ser perdoados seus prudentes usos de tangas, algumas vezes a precisão cultural ou histórica indica que o nudismo seja incluído no produto final. Mel Gibson, por exemplo, defende seu uso no vencedor de Oscar de Melhor filme de 1995 “Coração Valente” (Braveheart). Mencionando uma cena onde os escoceses enfrentam ingleses e levantam e sacodem suas saias um pouco antes de uma batalha, Gibson afirma que “os escoceses realmente costumavam fazer isso ! Fiz isso como uma resposta para a questão, ‘o que os escoceses usam sob suas saias ?’” Mas de qualquer forma, a cena frontal foi filmada de uma distância tão segura que muito de Mr. Gibson continua um enigma. 

       Filmes que se referem às histórias da Bíblia também têm dificuldades para estar de acordo com os fatos históricos, como quando os diretores conseguiram tratar estes assuntos como na história completa de Adão e Eva, ou como retratar o Rei David dançando nu na rua quando a Arca das Promessas retornou a Jerusalém. No Novo testamento, João batista realizava seu trabalho com os penitentes nus, e aqueles que eram crucificados o foram também completamente nus, incluindo Jesus Cristo.

       Em “A Última Tentação de Cristo” (The Last Temptation of Christ –1988), o diretor Matin Scorcese procurou filmar tais cenas o mais precisamente possível, mas permitiu que o batismo de Cristo permanecesse um acontecimento de roupas; e embora Willem Dafoe como Cristo é mostrado nu sobre a cruz, a cena frontal foi curta e distante. Esse filme atraiu protestos veementes, e em alguns casos foi impedido de ser exibido em certos cinemas por grupos proclamando ser ele blasfemo. (Para ser justo, os gritos de blasfêmia foram freqüentemente mais direcionados à cena da fantasia, onde apresentou Jesus descendo da cruz, casando e tendo uma discreta relação sexual, do que às breves cenas de nudez.)

       O filme de Denys Arcand, “Jesus de Montreal” (Jesus of Montreal – 1989) enfrentou uma controvérsia similar quando apresentou um grupo de atores tentando encenar a Paixão com o requisito da nudez sobre a cruz e atraiu uma estridente oposição dos cidadãos de Montreal. Suas histórias fazem paralelos com a história de Cristo por ter o zelo dos artistas em ser historicamente preciso destruído pela honrada população que os pune (crucifica) por seus esforços.  

                                                          Talvez o mais incomum cristo nu da história tenha aparecido em “A Vida de Brian” (Life of Brian – 1979), apresentado pelo loucamente inventivo grupo de comediantes Monty Python. Neste filme Graham Chapman, interpretando Brian, um homem erroneamente confundido com o Messias, escancara sua janela em uma determinda manhã e encontra uma multidão adoradora esperando por sua aparição. Acontece que naquele momento ele está totalmente nu; mas a multidão o venera e o seu pênis também, de qualquer forma. Afinal de contas, é apenas um pênis. 

* Supervisor de operações de computadores em Baton Rouge, Louisiana.

Aficionado por cinema durante toda sua vida

 e membro da The Naturist Society desde 1986.

 

**Editor do jornal OLHO NU

Não perca na próxima edição a terceira e última parte.
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