Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°41 - fevereiro de 2004

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

Olhar do exterior

entrevista a Pedro Ribeiro*

foto: autor desconhecido

Jacques e Joëlle (e amigos) na praia de Tambaba, cobertos com lama considerada medicinal, atração do lugar.

Jacques LeMaire e sua esposa Joëlle, ambos com 53 anos, franceses de Paris, visitam o Brasil periodicamente. Ele, por força da profissão- comissário de bordo da Air France, vem ao Brasil mensalmente, algumas vezes em São Paulo, outras vezes no Rio de Janeiro, em outras ocasiões vem apenas como visitante, turista. Nestas ocasiões ela o acompanha. Ambos são apaixonados pelo naturismo e pelo Brasil. Já conhecem profundamente a praia de Tambaba, na Paraíba, paraíso visitado anualmente por eles desde sua abertura.

Olho Nu entrevistou Jacques, que domina o português, e Joëlle na mais recente visita que fizeram ao país, na praia de Abricó, no Rio de Janeiro. Leia a entrevista completa:

OLHO NU: Jacques, há quanto tempo você vem ao Brasil e freqüenta áreas de nudismo por aqui ?

Jacques: a primeira viagem foi no fim de 1974 e eu descobri a praia do Abricó no mês dezembro daquele ano.

OLHO NU: Nesta época você já praticava o nudismo aqui na praia do Abricó ?

Jacques: Já praticava, sim. Eu conhecia um casal naturista que me trouxe muitas vezes aqui.

O.N.: O que você acha do naturismo hoje no Brasil?

Jacques: Está bem melhor do que era. A nudez no Brasil sofre um preconceito grande por causa da educação. Acho que a televisão faz muito mal para a imagem da nudez, mas pouco a pouco se libera. Uma grande vitória do movimento naturista carioca de ter conseguido enfim autorização oficial para ficar nu na praia, e espero que vai crescer e que em breve poderá ter uma pousada naturista, do mesmo tipo que se tem no Nordeste, em Tambaba ou na praia do Pinho, no Sul.

O.N.: Desde quando você é naturista?

Jacques: Quase desde criança.

O.N.: A primeira vez como naturista foi em qual lugar?

Jacques: A primeira vez como naturista oficial, eu já era adulto, eu e minha esposa, que ainda não era naturista, fomos a um sítio perto de Paris, numa cidadezinha chamada Enghien-les bains e fomos recebidos por todos os membros desse clube, com uma hospitalidade muito grande e ficamos logo ambientados e passamos do naturismo selvagem ao naturismo oficial, com carteirinha, passaporte e tudo mais.

O.N.: O que você chama de naturismo selvagem?

foto de imagem de vídeo

Jacques LeMaire (esquerda) e João Salles na praia do Abricó no dia da entrevista

Jacques: É uma coisa mais íntima. Você chega em um país desconhecido, vai para uma praça deserta a fim de praticar nudez. Isto é selvagem.

O.N.: Praça ou praia?

Jacques: Praça ou praia. Depende. Se estiver deserto, e não vai ninguém, e você decide que quer ficar nu lá, isto é o que eu chamo de naturismo selvagem. Não há grupos, não há organização. Embora a idéia do naturismo seja social, que procura agrupar pessoas que pensem e vivam do mesmo jeito que você. Mas quando você está sozinho ou com um pequeno grupo, num lugar que não é normalmente previsto para isso.

O.N.: E como foi que você começou a ficar nu junto com outras pessoas?

Jacques: Comecei o naturismo com minha família. Minha mãe era naturista e meu pai não.

O.N.: Então como era a relação de seu pai e sua mãe no que concerne ao naturismo? Sua mãe ia aos lugares e seu pai não ?

Jacques: Meu pai não ia porque não gostava. Mas deixava a família livre para fazer o que gostava.

O.N.: Como você encara o naturismo em relação ao turismo? Você acha que o naturismo pode desenvolver muito o turismo em determinadas regiões?

Jacques: Muito. Eu tenho um exemplo, em meu país, que recebe muitos estrangeiros nos lugares naturistas. Isso é bom demais porque o turismo naturista é muito tranqüilo. As pessoas querem apenas aproveitar seu tempo, ficar tranqüilo em grupo. Posso afirmar que não temos nenhum problema com turistas deste tipo. Só um lugar, que é o famoso Cap D'Agde, que tinha se tornado, ao passar dos anos, local para turismo sexual, principalmente por causa de profissionais alemães. Mas agora isso parou, porque todos os residentes se reuniram e graças à solidariedade local conseguiram impedir este tipo de sacanagem.

O.N.: Você acha que o Brasil tem chance?

Jacques: Acho. Muito.

O.N.: O que você acha da praia do Abricó?

Jacques: Esta praia é uma das mais lindas praias do Rio, talvez tenha sido por isso que alguns fizeram tudo para proibir o naturismo, para conservar o lugar para eles mesmos. Mas agora que o naturismo está aqui é muito importante manter. A mão do naturismo deixa a praia tão linda. E é bem protegida por que tem uma entrada só. É fácil de fiscalizar. 

O.N.: O que você acha que precisa melhorar na praia do Abricó?

foto: João salles

Jacques e amigos num encontro da Associação naturista de Abricó

Jacques: Melhorar a praia do Abricó, acho que não precisa. Ela está quase perfeita. O que é preciso é melhorar a mentalidade da população que fica perto daqui,os que vêm à praia ao lado. Mas isso vai dar um grande trabalho.

O.N.: você tem alguma sugestão de como podemos fazer isso?

Jacques: Podemos falar por horas. Por exemplo, programas da televisão, feitos por naturistas, com naturistas, sem sensacionalismo, só explicar bem a idéia do naturismo, a filosofia, a maneira de viver... E um pensamento que vem agora, é que acho que falta aos naturistas brasileiros mais agressividade na propaganda de suas idéias, como fazem outras comunidades, como os gays, por exemplo, que ganharam muitos direitos a fazer coisas, graças a uma agressividade saudável. Não é guerra. Só promoção forte. O naturistas precisam disso e da ajuda de muita gente, porque, no momento, o naturismo do Brasil é um pouco pobre. Os empresários e o governo não entendem o valor do dinheiro para o investimento neste ramo de turismo. É uma atividade muito cara. Na Europa é muito caro. Então por favor, aquele que tem dinheiro que venha conosco para ajudar.

O.N.: Joëlle, é a primeira vez que você vem ao Brasil?

Joëlle: Não, não. Já vim muitas vezes. Venho muito ao Brasil, com o Jacques, principalmente visitando Tambaba.

O.N.: Em que você trabalha em Paris ?

Joëlle: sou funcionária da UNESCO.

O.N.: Por causa de seu trabalho, você viaja muito ?

Joëlle: Não. Trabalho somente em Paris, mesmo.

O.N.:  O que você acha do naturismo no Brasil.

Joëlle: Muito estranho. Há muita gente que vem para uma praia de nudismo e tem vergonha de tirar a roupa.

O.N.: Você está percebendo isto somente aqui, na praia do Abricó, ou também em Tambaba, onde o nudismo é obrigatório ?

Joëlle: Também em Tambaba. Muitas mulheres se recusam a tirar a roupa mesmo tendo ido, por vontade própria, à praia de nudismo. É muito estranho. Acho que é um problema geral de todo Brasil.

Jacques: A educação das crianças e das mulheres parece um pouco deficiente, neste sentido.

O.N.: você é naturista há quanto tempo?

Joell: Comecei em 1973. Há trinta anos, portanto. Eu comecei a praticar o naturismo levada pelo Jacques.

O.N.: Vocês têm uma filha. Ela também é naturista?

Jacques: Uma fanática.

O.N.: E lá em Paris, freqüentam que lugar? 

Página inicial do site do Club Gymnique de France

Jacques: Em Paris, há vários lugares. Mas o nosso preferido é um sítio chamado Club gymnique de Paris (http://www.cgf-nat.com/), que está nos arredores de Paris, em Villecresnes , há cerca de 20 minutos de carro de nossa casa.

O.N.: E vocês estão sempre lá ?

Jacques: Não. Vamos umas três vezes durante o verão, porque temos um terraço em nossa casa, onde costumamos ficar pegando sol.

O.N.: Joëlle, o que você achou da praia do Abricó?

Joëlle: Gosto. Mesmo havendo muita gente vestida, misturada aos nus, não havendo agressividade não fico incomodada. Achei a praia lindíssima e toda essa região nas proximidades muito bonita.

O.N.: Você tem alguma opinião a respeito do turismo naturista? Acha que o naturismo pode aumentar o turismo?

Joëlle: Desde que haja uma divulgação das praias e lugares naturistas, que estejam liberados e com segurança, pode aumentar muito o fluxo de turistas. O único empecilho é alto valor do preço das passagens para cá, para quem vem da Europa.

O.N.: Muito obrigado a vocês, Joëlle e Jacques, pela entrevista ao OLHO NU e uma boa praia.

 

*Professor e editor do jornal OLHO NU

natpedro@globo.com 

Jacques e Joëlle

jl.pegasus@wanadoo.fr 


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