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Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003
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Jornal Olho nu - edição N°41 - fevereiro de 2004

Anuncia nesta edição: Corpos Nus

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTAR NU OU PELADO*

por Jorge Bandeira**

Manaus, Amazonas, 4 de janeiro de 2004

Os termos nu e pelado são comuns para quem vive o naturismo, e também são palavras que habitam o imaginário e o vocabulário do brasileiro. Poderíamos pensar um pouco mais profundamente sobre estas duas palavras, evitando os lugares comuns de que são alvos, nesta sociedade tão afeita a julgamentos precipitados em relação a pratica do nudismo ou naturismo?

Bem, vejamos o que nos informa o famoso “dicionário Aurélio”. A palavra NU tem origem no latim NUDUS, que significava naquela língua “morta”, sem vestes, roupas, assim como despojado e destituído de algo. A palavra pelado, pelo seu significado correto, se origina do pelar, que num primeiro significado remeteria a tirar o pêlo, incluindo os cabelos, e, numa segunda variante, tirar a pele ou a casca de algo, pelar.

Por estes dois significados existem grandes diferenças entre o NU e o PELADO. O nu, por esta ótica, seria a extirpação ou retirada de algo que necessariamente não faria parte de nossa natureza, algo do exterior, de fora do nosso corpo, que também poderia nos colocar na condição de recuperarmos nossas formas originais, a nossa primeira e original maneira de estar no mundo. O nu seria o ser humano integral, sem fachadas, protegido apenas pelo seu corpo.

O PELADO, ao contrário, nos coloca uma outra posição de interpretação do termo, a partir de sua etimologia (origem e significado da palavra). Extirpando os pêlos ou mesmo a própria pele (nos pelando), estamos privando nosso corpo de algo que pertencia a ele, de nossa constituição física, de um detalhe que nos acompanha desde nossa aparição no mundo. Só que do cabelo (corte do pêlo) à pele (tirar a pele, pelar-se) existe um grande caminho a ser percorrido. De toda maneira, claro está que do NU ao PELADO estamos numa trajetória que começa no exterior do corpo (a nudez) ao seu interior, de um adereço chamado de roupa à nossa carcaça natural (a pele). Tudo isso nos faz refletir sobre a dimensão cultural que envolve a observação dos corpos no mundo. Para os que não são verdadeiramente naturistas continua sendo um tabu a nudez total, pois não conseguem pensar neste corpo nu sem relacioná-lo ao prazer, ao pornográfico e ao sexual, todos juntos, de forma confusa, em suas visões estreitas da nudez, eliminando as diferenças físicas e as individualidades, aliados ao falso moralismo de muitos “puristas”. O corpo, portanto, apesar dos brilhantes esforços dos nudistas/naturistas em modificar as posições conservadoras em relação à nudez total e natural, continua sendo vigiado e punido, como nos mostrou o filósofo Michel Foucault, um dos defensores da liberdade de pensamento e da ação do indivíduo. Para nós, naturistas, resta continuarmos com nossa bandeira principal, qual seja, conscientizar que, nus ou pelados, o pecado, para o naturismo, é um conceito que urge ser reavaliado, caso contrário, estaremos todos perdidos no inferno da ignorância.

* Texto elaborado após refletir sobre material escrito pelo professor Paulo Menezes na revista sexta-feira (Antropologia, Artes, Humanidades) número 4.  

** Historiador, especialista em História Social da Amazônia.

jotabandeira@yahoo.com.br 


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