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Jornal Olho nu - edição N°39 - dezembro de 2003 | |
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Jornal Olho nu - edição N°44 - maio de 2004
TOP LESS, nunca mais entrevista a Pedro Ribeiro*
Antonio Saraiva de Almeida, pequeno empresário, 65 anos, e Rosemeri Moura da Costa, dona de casa, 38 anos, que completa no dia 13 de maio, mais uma primavera, foram protagonistas em 2001 de uma das cenas mais insólitas já transmitidas pela TV brasileira. O programa Fantástico, da Rede Globo, conseguiu gravar as imagens da prisão deles na praia da Reserva, porque ela se recusou a colocar a parte de cima do bíquini. Essas imagens correram o mundo. Os repórteres e âncoras dos telejornais onde eram exibidas não pouparam críticas à truculência policial e não faltaram deboches nem ridicularização da cidade.
O casal conta como foi o episódio vivido por eles: Um domingo de sol, havia muitas mulheres fazendo top-less na praia da Reserva e havia uma dupla de policiais que estava fazendo o patrulhamento. Eles haviam sido designados para a área com a função de reprimir a prática do nudismo e do top-less. Mas eles estavam sendo "camaradas" e não estavam reprimindo nada. Em um determinado momento eles foram chamados até a estrada porque havia chegado um outro carro da polícia. Eles devem ter sido chamados à atenção por permitirem às mulheres ficarem sem a parte de cima do biquíni, pois quando voltaram foram falando para se vestirem, porque havia chegado um outro carro da polícia, com um soldado e um sargento, que haviam visto as mulheres lá da estrada e eles tinham que obedecer a ordem de reprimir. E logo em seguida, entra aquele monte de policiais fortemente armados na praia. Sob protestos a quase totalidade das mulheres colocou a parte de cima do biquíni, mas três, entre elas Rosemeri se recusaram porque achavam um absurdo tal ordem, já que em Copacabana e Ipanema havia algumas que faziam e não havia qualquer repressão. Então por que seria proibido ali, naquela praia afastada ? Havia um senhor com a esposa e a filha, fazendo top-less, que se aproximou dos policiais e quis saber quem estava no comando. Conversou com o sargento que estava comandando essa tropa, mostrando que não havia ninguém nu, só o top-less, e que os freqüentadores não estavam se importando, e que a entrada dos policiais daquela forma depunha contra a própria polícia. O sargento respondeu que estava cumprindo ordens. Então o cidadão pegou o telefone celular e ligou para a TV Globo. Ele era funcionário da emissora. Quinze minutos depois a TV Globo entrou na praia e os policiais se retiraram. Mas eles devem ter se comunicado com o comando geral e mais alguns minutos depois chegaram mais um monte de patamos cheio de soldados invadindo a praia, sob o comando de um tenente.. Eu estava sentado numa cadeira e a Rosemeri estava deitada de bruços, conta Saraiva, nem estava com os seios à mostra. Vieram até nós e deram voz de prisão para ela. Eu deixei acontecer, eu não me envolvi, até o momento em que o policial meteu a mão na minha esposa, tentando levantá-la à força. Aí pulei em cima dos caras e começou uma briga generalizada. Fiquei muito exaltado. O sargento, passou "por cima" do tenente e me disse que ninguém iria colocar a mão em mim e que eu o acompanhasse até o carro. Queriam me algemar, mas o sargento não deixou. Também não deixou nos colocarem na traseira do camburão. Fomos levados para o distrito, onde fomos autuados, eu por desacato à autoridade e ela por atentado ao pudor. Paguei fiança e fui liberado após fazer exame de "corpo de delito". Depois fui procurado por um advogado, que eu não vou dizer o nome, que quis pegar o caso de processo contra o estado, exigindo indenização por danos morais, acreditando ser uma causa ganha. No entanto três anos depois ele largou o caso sem dar terminalidade. Mas o processo contra mim foi arquivado, por falta de provas. No entanto Rosemeri teve alguns prejuízos materiais, morais e de saúde, no momento em que foi arrastada à força de sua cadeira. A principal seqüela foi a criação de um quisto no pulso esquerdo, que permanece até hoje, por causa da violência com que foi agarrada. Além de ter quebrado um óculos de grande valor, foi acusada, pelo policial, de não ser a esposa de Saraiva, insinuando que era uma mulher de programa e que ele (o policial) já estava muito acostumado a ver este tipo de coisa. Na delegacia ficou claro que eles achavam que eu era Desembargador e ela era minha amante, e estavam tentando armar uma chantagem, iriam pedir dinheiro para abafar o caso.
Na avaliação de Antonio, o caso teve um lado positivo, pois afinal hoje temos uma praia aonde podemos ir para ficar nus sem problemas. Apesar da mega exposição que tiveram na mídia, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, pouca coisa mudou na vida deles: profissionalmente ele continuou com os mesmo clientes. Saraiva é proprietário de um confecção de capas de gaiola e já trabalha neste ramo há 40 anos. Os clientes são os tradicionais. Naqueles primeiros meses após o acontecimento eles até curtiram a fama, embora não tenham ganho qualquer tostão com isso. Deram muitas entrevistas, para TV, rádio, revistas e jornais. Deram autógrafos e foram convidados para algumas badalações. Foi até um lado positivo que jamais teríamos acesso sem aquele evento ter ocorrido. Mas tive alguns prejuízos por causa da quantidade de roupas novas que tive que comprar para a Rosemeri se apresentar na TV (risos). Chegaram até ser convidados para uma temporada no litoral baiano feito pelo governador da Bahia. Deram entrevistas para emissoras e jornais de Portugal, Suíça e dos Estados Unidos, entre outros. Na Alemanha, durante a programação de uma emissora de TV eram exibidos flashes repetindo as imagens da prisão do casal e em tom de deboche e espanto, criticavam a atitude dos policiais. Foi muito negativo para a imagem do Brasil. O casal Antonio e Rosemeri só começaram a praticar o naturismo quando a praia do Abricó foi reaberta no final de 2003. Eles foram convidados pelo jornal popular O POVO, para fazerem fotos que ilustrariam a matéria sobre a volta do naturismo na área. Depois da seção de fotos perderam a "vergonha" e resolveram freqüentar a praia como vieram ao mundo. Eu já costumava praticar o top-less em casa, diz Rosemeri, e uma certa vez, quando andávamos de bicicleta pela estrada da praia da Reserva, nós avistamos algumas mulheres fazendo top-less. Eu, curiosa, desci juntamente com ele até a praia onde descobrimos não só as mulheres sem a parte de cima do biquíni mas também algumas outras pessoas inteiramente nuas. Achei o ambiente maravilhoso e decidimos ir sempre àquela praia, primeiramente só para observar como é que era o ambiente. Vi que era familiar e tranqüilo, e três semanas depois comecei a fazer o top-less. Algumas semanas depois aconteceu o estresse. *editor do jornal OLHO NU |