O naturismo (ou nudismo), tal como conhecemos, é um fenômeno ocidental. Ou
melhor falando, das sociedades de tradição judaica-cristãs. As roupas,
agasalhos, ou como se queira chamar, são, antes de tudo abrigos. Isto será
encontrado em todas as sociedades. Malinowski, por exemplo, enumera sete
necessidades básicas em todos os seres vivos e a cada uma delas as suas
respostas culturais. A coberta do corpo no sentido de cobrir determinadas partes
é uma resposta cultural, da qual fazem parte os padrões morais.
Sou indagado por muitas pessoas se podemos andar despidos quando em visita num
grupo tribal que ainda não se utilizam de nossas vestimentas. Sempre respondo
que não. Tenho ouvido pessoas que dizem que se despiram num grupo tribal e eu
sempre intervenho afirmando que ou elas estão fugindo da verdade ou causaram um
grande alvoroço pois eles não conseguem nos ver sem roupas. As roupas, na visão
dos indígenas, fazem parte de nosso corpo.
As roupas, portanto, são abrigos, são componentes morais para cobrir partes
pudendas e também são adereços identificadores em sociedade. Expor o corpo é
bom? É bom, mas também tem os seus perigos. Da mesma forma que temos que
abrigar os nossos corpos contra os raios ultravioleta, por exemplo, vemos na
maior parte dos grupos tribais os corpos protegidos pelo óleo de urucu. O que
acontece é que nós temos as nossas partes pudendas e eles têm as deles.
Os militantes por qualquer causa se tornam intransigentes. Não poderia ser
diferente com os naturistas. O jornal Olho Nu tem publicado uma discussão a
respeito de uma mulher que realizou uma matoplastia e por isto queria freqüentar
uma área naturista de sutiã, mas não estava conseguindo. Isto é normal em
qualquer militância. E aí voltamos à questão da roupa e dos padrões e
higiene: os nossos padrões de higiene são apropriados para quem se veste. De
uma sunga à vestimenta completa.