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Jornal Olho nu - edição N°51 - dezembro de 2004
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Jornal Olho nu - edição N°51 - dezembro de 2004 - Ano V

No mês de junho passado, concedi uma entrevista, por e-mail, a uma jornalista revista VIDA SIMPLES, da editora Abril. Até hoje a entrevista não foi publicada. OLHO NU publica a íntegra do bate-papo, o qual está inédito. Como respondi a ela, estou sempre disposto a ajudar quem queira divulgar o naturismo de maneira ampla e honesta. Como desconheço o título que seria  dado, criei um novo. 

Distração Natural

Entrevista de Pedro Ribeiro

Por Léa Maria*

foto: João Salles

Pedro Ribeiro e amigos comemorando seu aniversário na praia do Abricó.

Pedro Ribeiro, 46 anos, professor de educação artística da rede estadual de ensino do estado do Rio de janeiro é naturista há mais de 20 anos. Hoje em dia é Presidente da Associação Naturista de Abricó. Pedro fala sobre o naturismo e sua prática. 

Léa: Qual a diferença entre nudismo e naturismo?

Pedro: Teoricamente não existe diferença entre nudismo e naturismo. O naturismo teve origem no movimento nudista, o qual começou com uma forma de terapia de saúde, na Alemanha no finalzinho do século XIX, chamada de helioterapia, que consistia em tomar banho de sol inteiramente nu para combater doenças diversas. A partir do início do século XX, as clínicas para helioterapia foram se espalhando por alguns países da Europa, e começaram a perder sua função saneadora básica e ganharam o nome de campo de nudismo. O nome naturismo surgiu na década de 60 e foi ficando mais aceito com o passar dos anos. O nome nudismo estava sendo encarado de modo jocoso e desrespeitoso por críticos ao movimento. O nudismo surgiu como movimento social, ou seja os praticantes deveriam fazer em grupo e não individualmente, trancados em seu quintal, por exemplo e o Naturismo surgiu reforçando ainda mais essa idéia, deveria ser uma nudez coletiva e ter uma filosofia ética comportamental. Na prática, o senso comum tem diferenciado nudismo de naturismo, considerando como nudismo o ato de permanecer nu coletivamente ou não, e o Naturismo como fazer em locais públicos apropriados e respeitosos à Ética.

Léa: Quando não há praia (Brasília, por ex.), onde se faz o naturismo? a sensação é a mesma de quem faz na beira do mar?

Pedro: O naturismo pode ser praticado em clubes, lagos, rios ou em qualquer área propícia. A sensação é exatamente a mesma que se tem quando se pratica em praias. O nudismo não surgiu nas praias. O naturista não é diferente das outras pessoas ( a não ser pelo fato de não gostar de usar roupas), portanto há aqueles que adoram o mar e outros que adoram as montanhas e todas as variações possíveis entre esses extremos.

Léa: Qual a sensação física do naturista?

Pedro: É de imenso bem estar. Só o fato de não ter roupas apertando nenhuma parte do corpo é um alívio.

Léa: Ele sente falta, quando passa muito tempo sem praticar? (como ginástica, por ex.)por quê? qual a freqüência recomendada?

Foto: Marcelo Neumann

Praia do Abricó -RJ

Pedro: A falta que o naturismo faz ao praticante é a mesma falta que sente alguém que deixa de realizar uma atividade prazerosa. Tudo é questão de hábito. Há muito tempo que o nudismo deixou de ser considerado uma terapia, portanto não existe freqüência recomendada. Eu que já sou praticante há mais de vinte anos, por exemplo, me sinto muito incomodado se não for a uma praia naturista uma vez por semana, ao menos. Mas soma-se a isso minha verdadeira loucura por praia. Pra outras pessoas essa freqüência necessária pode ser maior ou menor que a minha. Não há regras para isso.

Léa: Pode-se fazer ginástica nu?

Pedro: Qualquer atividade física que não envolva risco pode ser praticada nu. Existe um tabu em relação aos testículos do homem e aos seios da mulher de que atividades esportivas de intenso deslocamento podem prejudicar essas partes do corpo. Bobagem. Quem ainda não se acostumou pode ter algum tipo de dor no início dessas práticas, da mesma forma quem não está acostumado a usar um determinado músculo e começa a fazê-lo nas aulas de ginástica. Depois de um tempo curtíssimo nada mais se sente e nada de mal acontece.

Léa: Como educar uma criança no naturismo? ela não se sente
diferente entre outras crianças (que não praticam)? e há casos de famílias naturistas cujos filhos não são? ou vice-versa?

Pedro: Estar nu ou usar roupas é uma condição social imposta. Nós obrigamos nossos filhos a usarem roupas, por motivos diversos, desde que nascem e não perguntamos a opinião deles sobre isso. Quando a criança já está um pouco maior e tem desejos de se livrar das roupas, de maneira geral é reprimida. Educar uma criança no naturismo é exatamente igual a educar fora do naturismo, afinal naturistas não são ETs. A relação que os membros da família têm com seus corpos refletirá integralmente sobre a criança. Se o corpo é visto sem tabus e preconceitos a criança absorvera isso. Da mesma forma que uma criança maior, não criada no meio naturista, entende perfeitamente que não pode ficar nua fora do banheiro de sua casa, do seu quarto e de vestiários a criança naturista entende que não pode ficar nua fora de sua casa toda, do clube naturista, da praia naturista. Ela não se sente nem um pouco "diferente"das outras crianças porque simplesmente ela não é diferente. As crianças naturistas brincam, correm, choram, fazem manha e teimosia, riem, amam e fazem coisas lindas como qualquer outra criança. Há casos em que os pais são naturistas e os filhos não. geralmente são famílias cujos pais começaram a prática naturista com os filhos com uma idade mais avançada. Nestes casos, ou a criança já sofreu influência do meio (escola, amiguinhos, televisão) ou os pais antes de se considerarem naturistas tinham atitudes em casa convencionais em relação à nudez, como ocultar o corpo diante dos filhos, trancar a porta do banheiro para tomar banho, se sentindo visivelmente desconfortável caso fosse flagrado nu e às vezes até mesmo reprimir uma possível tentativa de nudez dos filhos. Há casos registrados de filhos naturistas e pais, não. Esses casos são muito difíceis de serem registrados por causa da estrutura organizacional das áreas naturistas, que só permitem  pessoas adultas nuas. No entanto tenho dois registros interessantes, os dois ocorreram na praia do Abricó onde em parte da praia não é obrigatório o nudismo: o primeiro ocorreu com uma família  de 4 membros, pai, mãe, menino e menina, ambos por volta de 8-10 anos. Era a única família com crianças na praia. Entram todos vestidos e ficaram perto das pessoas nuas, as crianças brincavam espontaneamente na água e na areia, depois de quase uma hora que estavam na praia o menino se dirige a mim e pergunta se criança também poderia tirar a roupa. Falei que sim, ele voltou ao pai com a novidade e imediatamente tirou a sunguinha e continuou brincando com a irmãzinha, que não tirou, durante todo resto do dia em que lá ficaram. Conversei com os pais e eles me falaram que foram à praia por curiosidade e que o foi o filho quem quis ficar à vontade. O segundo caso, ocorreu com certa freqüência, durante o verão. Quase todo final de semana comparecia um casal e um rapazinho de cerca de 13 anos. Chegavam, se colocavam na areia, os pais com suas roupas de banho e o garoto tirava tudo e ficava à vontade, inclusive participando dos jogos de vôlei com os demais naturistas. Também me dirigi aos pais e a história foi exatamente essa: eles não gostam de fazer naturismo mas o filho gosta.

Léa: Fala um pouco sobre os preconceitos e sobre a "vergonha" de estar nu.

Pedro: Sobre os preconceitos existentes o que mais incomoda é o fato de associarem o naturismo com orgias e bacanais. Também a associação do naturismo com exibicionismo. O naturista já superou a "vergonha" de estar nu em áreas naturistas ou propícias ao nudismo. Eu teria muita vergonha de ficar nu diante de uma platéia, em um teatro, por exemplo. Ou de tirar a roupa diante de pessoas que estão prestando atenção em mim. Sou muito tímido.

foto: Jacques LeMaire

Nem sempre o clima é tranqüilo  nas praias, porque nem todos querem respeitar a Ética Naturista..

Léa: Ainda hoje, nas áreas em que é permitido por lei praticar o naturismo, vocês são incomodados?

Pedro: O que nos incomoda nestas áreas é a presença de pessoas que não respeitam a ética naturista e comparecem aos lugares com finalidades libidinosas que acabam descambado para atos obscenos. Felizmente é uma minoria muito pequena. 

Léa: Não é impossível não se estabelecer, mesmo que às vezes, um clima erótico, durante as práticas? (por ex., uma pessoa, moça ou homem, com corpos muito bonitos, não chamam a atenção? 

Pedro: Atração erótica pode haver em qualquer lugar. Dentro de um ônibus, de uma igreja, de um clube, em praias comuns e em praias naturistas. Da mesma forma não se podem ter atitudes consideradas obscenas em nenhum desses lugares. O que se pede é respeito. As pessoas não precisam agir como animais no cio. Corpos muito bonitos podem chamar a atenção como pode acontecer em qualquer lugar, e daí ? Afinal, o bonito é relativo e pessoal. Existe um padrão de beleza massificado pelos meios de comunicação, o que faz, inclusive, com que muitas pessoas tenham "vergonha" de tirar as roupas, não por causa da moral, por causa da estética imposta. Desejo sexual faz parte da natureza, porém existem regras comportamentais para os lugares onde se freqüenta. Até mesmo numa termas ou em clube de swing existem regras. O que se precisa ter é bom senso e respeito.

 Terminado em: 06 de Junho de 2004.

*jornalista

l-maria@uol.com.br 


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