Congrenat, o fórum naturista brasileiro 

por Pedro Ribeiro*

Nos próximos dias 28, 29 e 30 de janeiro, as atenções dos naturistas brasileiros estarão voltadas para o CONGRENAT, a ser realizado no clube Mirante do paraíso, na cidade de Igaratá, em São Paulo.

O CONGRENAT é o mais importante evento do naturismo brasileiro e tem acontecido bianualmente em diversas localidades do país. O objetivo é levantar questões e temas para debates,  e traçar metas para o desenvolvimento do naturismo brasileiro. Estão convidados todos os naturistas que quiserem participar e puderem arcar com os custos de uma viagem ao interior de São Paulo, em um local extremamente aprazível. Nesta ocasião existe uma certa trégua à proibição da presença de solteiros, imposta pela maioria dos sítios e áreas naturistas brasileiras. Porém, a preferência será dada as pessoas que estão representando alguma Instituição naturista, afiliada ou não. Veja os preços que serão praticados, telefones e endereço de contato em NATNotícias. 

Aproveitando o ensejo, OLHO NU publica o texto escrito por Francisco Lammerhirt, publicado originalmente no portal NATURIS e reenviado ao jornal OLHO NU por Maria Luzia de Almeida, ex-presidente da FBrN.

O risco da inconsistência 

Em 1974, há 30 anos, a Federação Internacional de Naturismo ( INF ) definiu que "Naturismo é um modo de vida, em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social, com a intenção de encorajar o auto-respeito, o respeito pelo próximo e pelo meio ambiente". Portanto Naturista é o partidário ou seguidor do Naturismo. Em que pese o Dicionário Aurélio XXI ainda não apresentar o verbete naturismo dentro desta definição, convém sempre consultá-lo com vistas a uma melhor compreensão do que pretendia a INF em 1974. 

Assim é que o Naturismo é um conjunto de práticas habituais, em conformidade com todos os seres do universo, caracterizado pela prática de não utilizar vestuário, conjuntamente a outras pessoas que em certa faixa de tempo e espaço, seguindo normas comuns e unidas pelo mesmo sentimento de consciência de grupo, objetivam encorajar o auto-respeito, o respeito pelo ser humano semelhante e pelo lugar onde vivem. 

Então, Naturismo é uma prática evidentemente social. Não basta estar nu, é necessário que haja um grupo. Um grupo que partilhe os mesmos interesses e consciência. Portanto não é nudismo – o simples fato de estar sem roupas, tampouco é a exposição deslocada no tempo e no espaço do corpo nu – o que caracteriza o exibicionismo. O auto-respeito é mais do que aceitar o seu corpo como ele é. 

Trata-se também de ter cuidados com a saúde, incluindo além da exposição solar, uma alimentação equilibrada, evitando excessos e exposições a riscos desnecessários. Evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, do fumo e de outras drogas. Respeitar o ser humano e o meio ambiente insere-se nos conceitos mais atuais de ecologia, onde a compreensão de que a vida esta inserida em uma vasta teia do universo, da qual a espécie humana é só uma parte. Perceber que a humanidade não está só não tem mais aquele caráter de procurar vida em outros planetas. Hoje o próprio Planeta Terra é entendido como um ser vivo. O Universo vive – pode-se dizer. 

Se, no entanto, verificarmos o que realmente vem acontecendo com o Naturismo no Brasil, veremos que as críticas que proliferam nos últimos meses, nada mais são do que resultado da falta de consistência do movimento naturista como um todo no país. Não cabe aqui nenhuma acusação, trata-se tão somente de uma constatação. 

As praias públicas naturistas estão sendo tomadas por vouyers e por exibicionistas. Discute-se se pessoas com deformidades congênitas ou adquiridas podem ou não freqüentar os espaços naturistas vestidas ou parcialmente vestidas. É difícil encontrar alimentação correta. Os esgotos não são tratados, o lixo não é separado. “Naturistas???” fumando, bebendo em excesso e consumindo outras drogas, inclusive ilegais. 

Por que tudo isto? Inconsistência. Mesmo que não se faça uma leitura detalhada da definição de Naturismo, vê-se que os espaços naturistas não respeitam os princípios mais elementares do próprio Naturismo. As explicações são todas conhecidas: quem explora os restaurantes não são naturistas etc e tal. No entanto, as conseqüências da inconsistência estão aí. E os exibicionistas, os vouyers, os curiosos, os que são simples nudistas percebem a falta de um sentido maior nos espaços naturistas, se aproveitam e colocam em risco todas as conquistas do passado. 

Quais são os grandes eventos Naturistas? Carnaval na Praia do Pinho, Festa do Hallowen (!!!), dentre outras. Onde foi a última palestra sobre alimentação natural em um espaço naturista? Fontes renováveis de energia? O aquecimento do Planeta e os riscos para as Praias Naturistas? Se as lutas por espaços públicos para a prática do naturismo crescem no exterior, porque o Brasil trafega na contra-mão da história? As Associações Naturistas praticam a definição da INF? Os associados praticam? Onde estão os verdadeiramente Naturistas?

Francisco Lammerhirt 

Em resposta a este texto Ramalho e Marina*, proprietários da estância RAMANAT distribuiu o seguinte texto: 

Gente o termo nudista não é palavrão, veja a maneira sutil que o Aurélio coloca este termo. Na realidade naturista não é um nudista e não precisa estar pelado para lhe dar com a natureza. 

[De natura (1) + -ismo.] S. m. 1. Concepção daqueles que tudo esperam das forças da natureza. 2. Valorização excessiva dos agentes físicos naturais -- p. ex., banhos, irradiações -- como métodos terapêuticos. 3. Filos. Naturalismo (6). 

[De nud(i)- + -ismo.] S. m. 1. Doutrina que prega o viver ao ar livre em completa nudez. 2. A prática dessa doutrina. 

[De nudismo + -ista.] Adj. 2 g. 1. Referente ao, ou próprio do nudismo. 2. Que é adepto do nudismo. S. 2 g. 3. Adepto dele. 

[De naturismo + -ista.] Adj. 2 g. S. 2 g. 1. Partidário ou seguidor do naturismo.

*ramanat@ramanat.com.br

Olhando o primeiro texto e os argumentos do segundo, percebe-se a necessidade da discussão se no Brasil o movimento naturista continuará a seguir a filosofia internacional que declara que a primeira característica do naturismo é a nudez social e coletiva, ou se nos apropriaremos do termo mas  daremos uma outra conotação a ele. Já é um bom tema para debate. Entre os outros citados pelo Francisco.

*pedroribeiro@jornalolhonu.com 

http://www.jornalolhonu.com/jornais/olhonu_n_027/index.htm (realizado em novembro de 2002, no Recanto Paraíso)

http://www.jornalolhonu.com/jornais/olhonu_n_039/index.html (realizado em outubro de 2003, em Caldas Novas, Encontro Regional de Naturismo)