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     A revista norte-americana Nude & Natural publicou uma interessante matéria sobre a nudez masculina no cinema (especialmente norte-americano), em sua edição de número 19.4 (verão de 2000). O articulista faz uma análise dos preconceitos existentes contra a visão do nu masculino na sociedade e como isto é apresentado no cinema. OLHO NU traduziu a matéria que foi apresentada, na íntegra, em 3 partes, dada a extensão da mesma. Leia agora a 3ª e última parte.

NU FRONTAL

 

O aumento da aceitação

da nudez masculina no cinema

3ª parte

 

Por Keath Graham*

Tradução de Pedro Ribeiro**

Nudismo e credibilidade

“Não estou mostrando minhas bolas para ninguém. Tenho uma cláusula ‘não bolas’. Não poderia simplesmente exibir minhas bolas em qualquer lugar como Harvey Keitel!”

Will Smith, em Movieline.

Kevin Bacon emerge de um chuveiro, aparecendo rapidamente mas inteiramente nu até Matt Dillon dar uma toalha a ele em uma cena do sucesso “Garotas Selvagens(Wild Things – 1998, direção de John McNaughton

    Ainda que “Coração Valente” (Braveheart) tenha dado a Mel Gibson um prêmio de melhor diretor da Academia, a Academia declinou de honrá-lo com o Oscar de melhor ator – o que não é incomum quando se considera o fato que nenhum ator já tenha ganho o Oscar de melhor ator por qualquer papel no qual tenha tido que revelar seu pênis, não importando quão bom o papel ou quão tão longe a câmera estiver do pênis em questão. Pode ser esse fator Oscar em parte o que mantém os maiores estúdios como Universal, Paramount, ou Dreamworks evitando seus maiores astros de aparecer frontalmente nus em seus filmes.

 

       Talvez seja por causa disso também que o altamente aclamado ator Harvey

 Keitel é tão freqüentemente ignorado pela Academia, pois ele e suas, ahn, bolas apareceram em três longa metragens frontalmente nus: Fingers de 1978 (cena curta), Bad Lieutenant de 1992 (nudez de bêbado) e em “O Piano” (The Piano) de 1993 (nudez compassiva). A boa vontade de Keitel em aparecer em nudez frontal em filmes parece não apresentar problemas para sua carreira, pois continua a trabalhar constantemente e desfruta de uma invejável medida de respeito e admiração parecida tanto dos espectadores quanto dos críticos.

 

     Sobre o personagem Baines interpretado por Keitel sob a direção de Jane Campion em o Piano, o crítico de cinema novaiorquino Anthony Lane escreveu: “Sozinho e inteiramente nu em sua cabana escurecida, Baines ternamente acaricia o piano de Ada, implora por ela, move-se graciosamente como Baryshnikov, e não há o que errar: essa e uma das mais paralisantes cenas de amor do cinema. A nudez não é sobre a carne, mas sobre a revelação sobre seu inteiro eu.” Ainda assim, nenhum Oscar para Keitel.

 

     A despeito do “fator pênis”, parece haver nenhum estigma associado à onipresente bunda masculina, como se constata por cenas de três atores bem-conhecidos que ganharam Oscars em filmes onde suas bundas estiveram à mostra: Jack Lemmon (Melhor Ator de 1993, Save the Tiger); Geoffrey Rush (Melhor Ator de 1996, por “Uma Mente Brilhante” (Shine)); e Cuba Gooding, Jr. (Melhor Ator Coadjuvante de 1996, por “Jerry Maguire, a Grande Virada” (Jerry Maguire)). Por sabe-se lá qual razão, Hollywood parece não se importar com seus atores mostrando suas nádegas, como têm sido cinematograficamente percebido ao longo de mais de 30 anos, desde que Kirk Douglas mostrou sua cauda em There Was a Crooked Man (1970).

 

     Algumas vezes a estrelas de primeira grandeza é dada a opção de nudez frontal se eles se sentirem bem com a idéia. Em 1972, no mais controverso filme de Bernardo Bertolucci, “O Último Tango em Paris”(The Last Tango in Paris), Marlon Brando declinou da opção de aparecer frontalmente nu dizendo que ele “não queria desapontar ninguém”. Neste filme, no qual ele se referia ao não visto pênis de seu personagem como “meu pênis de sorte”, Brando foi glorificado por sua coragem em aceitar um papel tão controverso. (Enquanto isso, sua co-estrela Maria Schneider, que apareceu inteiramente nua, ganhou muito pouco reconhecimento por fazer simplesmente aquilo que se espera de uma atriz – especialmente uma atriz francesa – naquele tempo).

 

     O medo dos atores de serem pegos “de calças curtas” – ou sem calças – pode ser muito maior do que se pode imaginar. Assim que o ator vê sua própria nudez  através dos olhos de uma câmera impessoal, ele não é tão escultural como podia ter imaginado. Além do pensamento supramencionado de William Baldwin sobre sua nudez na tela em “Invasão de Privacidade” (Sliver), o ator Rob Morrow sofreu um caso similar de vergonha regressa após assistir sua cena de nudez em um outro veículo para Sharon Stone, Last Dance (1996), e o material “ofensivo” foi editado antes do filme estrear. O que tem Sharon Stone para fazer com que os homens tenham medo de seus pênis, afinal ? De qualquer modo , Bill Cable parece ter escapado de um fato similar – seu pênis foi claramente visível em “Instinto Selvagem” (Basic Instinct – 1992) também com Stone. É claro, que ele estava atado ao seu corpo ensangüentado naquele momento. Ainda assim, ensangüentado ou não, é apenas um pênis. 

Efeitos especiais

“Nós fizemos da nudez masculina uma espécie de tabu, uma coisa poderosa que eu não posso mudar, mas causa um enorme impacto as poucas vezes em que surge.”

- Graham Faulkner

    Um departamento de arte de um tipo de efeitos especiais pode ser uma dádiva de Deus para os atores encararem uma cena de nudez. O ator Dylan McDermott declara que no contrato fará Showgirls de 1995, foi estipulado que os produtores poderiam inserir um pênis digitalmente sobre o protagonista para simular uma ereção, se necessário.  No filme de Robert Altman Short Cuts (1993), Huey Lewis urina em um rio enquanto encara a câmera em um momento incomum no cinema que não tenta esconder seu pênis.

 

     Isso talvez confronta com uma cenamais antiga onde o ator Julianne Moore aparece despido da cintura para

EWAN McGREGOR em “O Livro de Cabeceira” (The Pillow Book – 1996, direção de Peter Greenaway). Nudismo em filmes de “arte” tem sido mais aceito pelo espectadores americanos que vão ver este tipo de filme. Este filme em particular contém muita nudez de seus personagens femininos ou masculinos. (Para algum naturista  espectador, a personagem feminina principal, Nagiko, desenha obsessivamente, com caligrafia chinesa, sobre os corpos dos homens que encontra, que lembra  a pintura corporal que é popular em algumas praias de nudismo.  

baixo enquanto conversa com sua esposa (no filme). A improbidade é que o pênis de Lewis é um invento protético, com um tubo atravessando sua perna para um mecanismo oculto que fazia a urina fluir, portanto o que se via de Moore é inegavelmente todo Moore.

 

     Em 1997, o muito alardeado Boogie Nights, Mark Wahlberg estrela como um bem dotado astro pornô, Dirk Diggler. O clímax do filme (por assim dizer) mostra Diggler revelando sua carnuda ‘razão para fama’ para todo mundo ver. Embora a máquina de propaganda hollywoodiana afirmou que era realmente Wahlberg o proprietário do pênis visto em cena, a verdade apareceu eventualmente revelando que era apenas uma prótese, com isso causando um suspiro coletivo de alívio dos homens do mundo sobre o que pareciam destinados a desapontar suas parceiras nas inevitáveis comparações com Wahlberg.

 

     Talvez o maior efeito especial para um pênis na história do cinema nudista não envolvia o departamento de efeitos especiais afinal, apenas o departamento de maquiagem. Como Dil em The Crying Game (1992), o ator Jaye Davidson propiciou a única balançada na curta história de amor no cinema, fazendo um pênis aparecer na tela da forma que se espera um pênis ser.

 

Censores Americanos bloqueiam sexualidade na maioria dos filmes; Na Europa, a violência é que ofende

 

     Da mesma forma que Efeitos especiais podem intensificar a nudez em uma cena, eles podem também servir para obscurecer, minimizar ou eliminar aquilo que é considerado objecionável . No final do filme de Stanley Kubrick “De olhos bem fechados”(Eyes Wide Shut – 1999), certas cenas de fundo com nudez frontal envolvendo ambos os sexos foram digitalmente borradas na versão americana, quando os censores sentiram que Kubrick tinha atravessado a linha nesse suspense erótico. Kubrick morreu apenas alguns dias depois de apresentar a Warner Brothers o que ele considerava sua versão final, e portanto incapaz de argumentar contra os borrões digitas dos censores americanos.

 

     Infelizmente para aqueles de nós que vivemos aqui, o Puritanismo Americano pode ser o sino da morte para as cenas de nudez envolvendo os dois gêneros, principalmente quando houver ainda o componente sexual na nudez. Essa atitude geralmente provoca graça à comunidade de filmes Européia, que dificilmente ficariam chocados com o nudismo de “De olhos bem fechados”. Em muitas partes do mundo, a violência nos filmes é muito mais preocupante que sexualidade.

 

     Na Alemanha, o conselho de filmes passou o filme de Kubrick com cortes mínimos, enquanto reserva letreiros restritivos  para sanguinolentos como Scream (1996) e “Máquina Mortífera”(Lethal Weapon – 1897). Uma porta-voz do conselho de filmes alemão disse ao jornal hollywoodyano Variety: “É o sangue a brutalidade que nos incomoda. Europeus realmente não têm problemas com sexo ou nudez”. Na Espanha, a prestigiosa revista de cinema Fotogramas fez uma matéria sobre o puritanismo americano destacando a edição americana no filme “De Olhos bem fechados”.

 

     Para ser justo, os E.U.A. não é o único país a ter lugar as políticas de cesuras restritivas. No Japão, os cabelos púbicos de mulher é terminantemente proibido e requer bruma digital sempre que eles fazem uma aparição,  enquanto que a uma atriz raspada é dado maior liberdade de movimento. Genitália masculina deve também ser borrada, bloqueada ou mantida bem fora de vista, cabeluda ou não. A despeito das restrições apresentadas, “De Olhos bem Abertos”ganhou uma rara classificação de proibido até 18 anos, e foi mostrado sem alterações no total. 

 

     Na China, cenas de beijos são reguladas e as mais longas cortadas em nome da decência. Previsivelmente, os países muçulmanos do Oriente Médio são os mais restritivos, por isso até instantâneos acidentais de coxas femininas descobertas pode ter a permissão suspensa indefinidamente até adições necessárias serem feitas.

 

     O pensamento do Oriente Médio é completamente oposto de um país como a França, onde a tolerância sexual cinematográfica continua a alcançar novas alturas. O filme sexualmente explícito de Catherine Breillat “Romance” (1999) obteve uma classificação de proibido a menores de 16 anos lá – permitindo que adolescentes franceses de 16 anos vissem não somente um pênis, mas um pênis em ereção a penetração total.

 

     Embora penetração não tem sido muito evidente na corrente principal cinematográfica americana, podemos afirmar ter um dúbio e manchado par de ereções duelantes na comédia de Blake Ewards Skin Deep (1989), na qual John Ritter tenta evitar um enfurecido Bryan Genesse em uma cena em um quarto negro como breu onde todos podem ver as camisinhas–que-brilham-no-escuro que eles usavam. Embora a cen seja improvável, é a coisa mais engraçada no filme. Em uma nota mais séria, uma ereção pode ser vista no drama de Philip Haas Angels and Insects (1996), quando Douglas Henshall brinca com o ferrão após ter sido interrompido durante uma cena de fazer amor e corre para se vestir. Admira-se o esforço e a disposição de Hensall em dar a cena o seu máximo. Ereto ou não, embora, ainda é apenas um pênis.

Nudismo no palco

“Se você está disposto a olhar para ele, eu estou disposto a mostrá-lo!”

- Jason Alexander em seu papel em Love! Valor! Compassion!

PRODUÇÕES PARA O PALCO como “Hair” e “Oh, Calcutta” ! (acima) abriu a porta para maior aceitação geral do nudismo nos anos 70. Na década de 90, os temas gays em peças como “Love! Valor! Compassion!” e “Angels in America” causaram controvérsias, enquanto que a nudez ficou em segundo plano nas atenções.

     Em um artigo de setembro de 1996 no prestigioso Performing Arts Journal, Karl; Toepfer escreve sobre os diferentes modos pelos quais a nudez é definida através de seu uso nas apresentações teatrais.

 

     “O efeito da nudez nas apresentações depende das diferentes intenções do executor. Uma nudez mítica identifica a ausência de roupa como um símbolo da inocência, enquanto a nudez ritual confronta a audiência com a exposição do processo corpóreo interior. A nudez terapêutica trata o corpo como sinceridade simbólica, e nudez de modelos cria e mais tarde destrói fantasias. No Ballet, nudez registrada e não registrada são incidentais com a pele do executor. A nudez obscena procura provocar resposta da audiência e a pornográfica convida a uma resposta sexual.”

     No final dos anos 60 apresentações teatrais como Hair e Oh, Calcutta! mergulharam o mundo na “Era de Aquarius”, e desde do momento em que aquele primeiro elenco tirou corajosamente suas peças de roupas e ficou nu diante de uma audiência, não houve volta. Décadas mais tarde, nus no palco continuam a atrair a atenção, e às vezes controvérsias, mas raramente o tipo de controvérsia que agitou a nação naqueles anos.

Indo à direção dos valores Naturistas nos filmes

Que espírito é tão vazio e cego, que não pode reconhecer o fato que o pé é mais nobre que o sapato, e a pele é mais bonita que as vestes com os quais a cobre.

- Michelangelo

      Como membros de uma associação naturista , nós nos encontramos em um momento magnífico e único na história no qual a representação natural do corpo humano, masculino ou feminino, vestido ou nu, pode finalmente tomar parte numa expressão verdadeira de nossa visão artística, assim como ser um fator de escolha em nossa vida de entretenimento.

 

     Com uma tendência cada vez maior de se ter atores inteiramente nus em vários papéis, como têm sido com atrizes por décadas, um tipo de eqüidade toma forma no teatro das artes performáticas – uma balança, se você quiser, na qual, não demorará muito, a atuação em estado de nudez de uma mulher poderá ser materializada quando seu correlativo masculino também revelar seu corpo. Embora as escalas estão longe do ideal, com homens tendo um longo caminho para alcançar a quantidade de cenas de nudez que as mulheres já protagonizaram nestes anos de cinema e teatro, ao menos já é um começo.

 

     Para os Naturistas, o relaxamento do tabu artístico contra o pênis humano é ainda um outro passo na direção da aceitação do corpo. Embora os patrocinadores de museus ansiosamente estimam um estátua de nu masculino com sérias restrições, a média de espectadores de cinema não alcançou ainda um bom nível de maturidade, e tende a dar risadinhas inapropriadas diante de uma situação de nudez masculina no palco ou na tela. Essa tendência não se repete mais quando uma atriz aparece diante dela em um mesmo tipo de cena. Talvez, com o tempo, cenas apresentando nudez masculina tornem-se simplesmente aceitas, com não mais audiência ofendida, ou rindo, ou chorando por ter sido o filme censurado, proibido ou cortado. Então, talvez, apenas talvez, possamos curtir o resto do show.

 

     Acima de tudo, é apenas um pênis.

 

* Supervisor de operações de computadores em Baton Rouge, Louisiana.

Aficionado por cinema durante toda sua vida

 e membro da The Naturist Society desde 1986.

Atuou em numerosas produções teatrais comunitárias,

apareceu em comerciais na televisão local e

trabalhou como extra em muitos filmes.

Para marcar, todos os seus papéis requereram o uso de roupas.

 

**Editor do jornal OLHO NU

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