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A idéia é simples: há quase 1 milhão de turistas que fazem
naturismo, que gostam de praias para ficarem nus. Existem muitas praias na
Europa mas, em certos momentos do ano, ninguém consegue freqüentá-las
por causa do frio. O Brasil tem praias com clima agradável o ano inteiro.
Por que não atrair esses turistas, de um modo geral famílias respeitáveis,
com consciência ecológica e um alto poder aquisitivo?
Há 500
anos vimos os primeiros homens e mulheres nus, com o encontro de índios e
portugueses. No entanto, até agora não nos acostumamos com isso. Essa
recusa tem razões históricas e culturais que não se mudam da noite para
o dia.
A idéia não
pretende revolucionar nada, apenas permitir que as cidades possam
delimitar áreas de turismo, sinalizando-as com nitidez para garantir que
ninguém veja o que não quer ver.
Tentativas
O Rio de
Janeiro fez uma tentativa. Como não existe uma lei permitindo o nudismo
em áreas públicas delimitadas, um advogado entrou na Justiça e acabou
com a brincadeira. Será preciso resolver a questão no Congresso para que
as cidades tenham segurança para explorar esse gênero de turismo.
Em alguns lugares, houve ousadia dos vereadores e da prefeita, como em
Florianópolis, onde tive a honra de inaugurar com eles a praia legalmente
estabelecida para o naturismo, a da Galeta, localizada em um ponto
bastante discreto e protegido dos "voyeurs". A experiência deu
certo. Andei até procurando o governo para ver se nos ajudava a resolver
o problema, colocando-se a favor da abertura de mais esse nicho para a
exploração turística. Mas governo, sabemos todos, sempre é discreto
diante de questões polêmicas, ninguém quer abrir o flanco para
moralistas, religiosos ou não.
Surpresas
Do jeito que pensamos a coisa, a moral e os bons costumes da família
brasileira, imagens que esgrimam para espantar o fantasma do corpo nu, não
serão atingidos. As placas sinalizando a praia de nudismo são nítidas.
Posso garantir que não haverá surpresas. O perigo de ver um corpo nu
fica reduzido a uma única possibilidade: a de se trocar a roupa diante do
espelho, assim mesmo olhando o espelho e com a luz acesa.
O movimento naturista no Rio conseguiu levar as autoridades à promessa de
delimitar uma área especial. Mas a praia que foi oferecida era tão
distante, tão inacessível, que a sensação que tive era de que houve um
mal-entendido. Devem ter imaginado uma espécie de nudismo obrigatório,
pois são tantos os obstáculos que os banhistas vão perdendo a roupa
pelo caminho.
Discussão
Por isso que tenho simpatia pela saída catarinense: discutir
abertamente, aprovar por maioria e, uma vez aprovada, assumir a decisão,
defendê-la e apontar um lugar adequado, visando o conforto das pessoas
que o freqüentam, sua privacidade e o respeito aos que querem se manter
fora dessa área.
É assim que a maioria deve tratar a minoria, em vez
de excluí-la até de um pequeno e isolado pedaço de areia.
A solução
carioca foi um pouco envergonhada, como essas tias que vão cantar na sala
e colocam o avental diante do rosto. Se os turistas não sentem firmeza
nas autoridades do lugar ou suspeitam de algum tipo de hostilidade, claro
que vão preferir passar o inverno encapotados na Europa do que se
aventurar nus num país que leva cinco séculos para admitir certas
realidades como essa do corpo humano, com seus ângulos e reentrâncias.
Pode-se
argumentar que os turistas que fazem nudismo são poucos. Mas os
observadores de pássaros também. Nossa cultura pode ignorá-los, mas,
com todo respeito pelo futebol, pelo samba e pelas mulatas, é com a
natureza brasileira que eles querem estabelecer um contato.
*Deputado Federal
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