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Leia este artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, escrito por Fernando Gabeira em 2000 e veja se ele não tem razão.
Nudismo e turismo, a aventura que tem rima fácil

Por Fernando Gabeira*

03/04/2000
Folha de São Paulo

     A idéia é simples: há quase 1 milhão de turistas que fazem naturismo, que gostam de praias para ficarem nus. Existem muitas praias na Europa mas, em certos momentos do ano, ninguém consegue freqüentá-las por causa do frio. O Brasil tem praias com clima agradável o ano inteiro. Por que não atrair esses turistas, de um modo geral famílias respeitáveis, com consciência ecológica e um alto poder aquisitivo?


     Há 500 anos vimos os primeiros homens e mulheres nus, com o encontro de índios e portugueses. No entanto, até agora não nos acostumamos com isso. Essa recusa tem razões históricas e culturais que não se mudam da noite para o dia.


     A idéia não pretende revolucionar nada, apenas permitir que as cidades possam delimitar áreas de turismo, sinalizando-as com nitidez para garantir que ninguém veja o que não quer ver.


     Tentativas


     O Rio de Janeiro fez uma tentativa. Como não existe uma lei permitindo o nudismo em áreas públicas delimitadas, um advogado entrou na Justiça e acabou com a brincadeira. Será preciso resolver a questão no Congresso para que as cidades tenham segurança para explorar esse gênero de turismo.
Em alguns lugares, houve ousadia dos vereadores e da prefeita, como em Florianópolis, onde tive a honra de inaugurar com eles a praia legalmente estabelecida para o naturismo, a da Galeta, localizada em um ponto bastante discreto e protegido dos "voyeurs". A experiência deu certo. Andei até procurando o governo para ver se nos ajudava a resolver o problema, colocando-se a favor da abertura de mais esse nicho para a exploração turística. Mas governo, sabemos todos, sempre é discreto diante de questões polêmicas, ninguém quer abrir o flanco para moralistas, religiosos ou não.


     Surpresas

     Do jeito que pensamos a coisa, a moral e os bons costumes da família brasileira, imagens que esgrimam para espantar o fantasma do corpo nu, não serão atingidos. As placas sinalizando a praia de nudismo são nítidas. Posso garantir que não haverá surpresas. O perigo de ver um corpo nu fica reduzido a uma única possibilidade: a de se trocar a roupa diante do espelho, assim mesmo olhando o espelho e com a luz acesa.
O movimento naturista no Rio conseguiu levar as autoridades à promessa de delimitar uma área especial. Mas a praia que foi oferecida era tão distante, tão inacessível, que a sensação que tive era de que houve um mal-entendido. Devem ter imaginado uma espécie de nudismo obrigatório, pois são tantos os obstáculos que os banhistas vão perdendo a roupa pelo caminho.


     Discussão

     Por isso que tenho simpatia pela saída catarinense: discutir abertamente, aprovar por maioria e, uma vez aprovada, assumir a decisão, defendê-la e apontar um lugar adequado, visando o conforto das pessoas que o freqüentam, sua privacidade e o respeito aos que querem se manter fora dessa área.
É assim que a maioria deve tratar a minoria, em vez de excluí-la até de um pequeno e isolado pedaço de areia.


     A solução carioca foi um pouco envergonhada, como essas tias que vão cantar na sala e colocam o avental diante do rosto. Se os turistas não sentem firmeza nas autoridades do lugar ou suspeitam de algum tipo de hostilidade, claro que vão preferir passar o inverno encapotados na Europa do que se aventurar nus num país que leva cinco séculos para admitir certas realidades como essa do corpo humano, com seus ângulos e reentrâncias.


     Pode-se argumentar que os turistas que fazem nudismo são poucos. Mas os observadores de pássaros também. Nossa cultura pode ignorá-los, mas, com todo respeito pelo futebol, pelo samba e pelas mulatas, é com a natureza brasileira que eles querem estabelecer um contato.

*Deputado Federal

contato@gabeira.com.br

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