SEU JORNAL VIRTUAL SOBRE NATURISMO DO BRASIL E DOMUNDO |
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A decisão da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro deixou a comunidade naturista indignada mais uma vez. A partir de uma ação imprecada por um advogado oportunista, os desembargadores, por dois votos a um, decidiram, no dia 15 de outubro de 2202, manter a praia do Abricó proibida para a prática do Naturismo. Muitos protestos chegaram à nossa redação e a seguir publicamos alguns deles. | |||||||||||
Empurrando
para a marginalidade
Por Pedro Ribeiro*
A sociedade brasileira representada por seus dirigentes e
autoridades tem mostrado em todos esses séculos todo seu conservadorismo
e falta de compreensão. Toda vez que surgiram movimentos sociais
inovadores e revolucionários (no bom sentido) foram esmagados por leis,
pareceres e decisões dessa parcela de nossa sociedade os quais,
hipocritamente, negavam direitos a outras parcelas da população que não
detinham o poder. Por causa de pensamentos como estes é que demorou tanto
para haver abolição da escravatura no país, e quando houve os escravos
foram empurrados para a marginalidade em vez de serem aproveitados como mão
de obra assalariada: preferiu-se contratar imigrantes para os trabalhos
que antes era escravo. Também foi assim com o Movimento Homossexual,
impingido aos guetos. Também com a capoeira, o samba, etc. Outros
movimentos não conseguiram sobreviver porque foram sufocados por aqueles
donos da verdade. O Naturismo no Brasil existe desde a década
de 40, no século passado, no entanto a sociedade que detinha o poder
nunca o viu com bons olhos. Esta relação de não aceitação estende-se
até os dias atuais, por mais de 60 anos !, fazendo com que inúmeros
locais para a prática do nudismo tenham aparecido (e desaparecido)
clandestinamente, provocando o sentimento de marginalidade dos freqüentadores,
obrigados a esconder sua condição. Durante o final da década de 80 o
reaparecimento do Naturismo na mídia fez com que muitos acreditassem que
esse ranço conservador e autoritário tivesse diminuído. Ledo engano. O
Naturismo no Brasil corre risco de voltar à marginalidade graças à
decisão de um Tribunal de Justiça, que proibiu o Naturismo na praia do
Abricó no Rio de Janeiro, alegando que a sociedade brasileira não tem
interesse em praticar o Naturismo e que essa prática vai contra a noção
de moral e bons costumes, com o qual o povo fluminense convive (seria cômico,
se não fosse trágico). Por fim, a decisão causou jurisprudência e
qualquer outro cidadão poderá entrar com recursos contra a prática do
Naturismo em outras praias do estado do Rio de Janeiro, que provavelmente
a vitória seria certa. Como ao caso ainda cabe recurso e poderá ir ao
Supremo Tribunal de Justiça, a jurisprudência poderá se tornar nacional
se este tribunal confirmar a sentença de proibição. A vocação para empurrar para a
marginalidade movimentos organizados é intensa em nossa sociedade. Ela
prefere saber que existe pessoas que agem de acordo com certos princípios
que acreditam, diferentes dos vigentes na sociedade e que geralmente é
uma minoria, porém mantendo-as “escondidas” e incapazes de lutar por
direitos e melhorias. O povo brasileiro tem tradição de ser cordial
contudo os donos do poder, não. Nós, naturistas, temos um projeto de lei
(Projeto de Lei 1411, de 1996) que tramita no Senado Federal. Está nessa
esfera do poder há mais de seis anos. No ano passado foi pedido aos
naturistas de todo o Brasil que passassem abaixo assinados favoráveis ao
projeto. Um ano e quatro meses se passaram e somente uma (isto mesmo, uma
!) folha das centenas que foram distribuídas voltaram às minhas mãos
com o quadro de assinaturas completo. E cinco voltaram incompletas (cada
folha possuía espaço para 25 assinaturas). Parece que o próprio
naturista já se conformou com sua situação de marginalidade, pois se
sente envergonhado, temeroso das opiniões dos outros e não têm coragem
de divulgar o naturismo para ninguém. Até a mídia nos aceita mais
facilmente que nós mesmos. Ainda há poucas, mas já há algumas
propagandas que enfocam praias naturistas de maneira natural: a do sorvete
Kibon, do papel higiênico Personal, do tecido Lycra e uma rápida citação
numa propaganda da coca-cola. Somos vistos como grupos alternativos, mas
em nenhum momento nos difamam. Em alguns poucos filmes estrangeiros há
cenas em praias ou áreas de nudismo, que mostram o nudismo encarado de
forma naturista. Dessa forma vai se incutindo na percepção social que o
nudismo é possível. (Em filmes brasileiros, em geral, cenas em praias
desse tipo direcionam depois para o sexo entre os personagens). Quem sabe
algum dia não consigamos que em algumas novelas haja personagens
naturistas que sejam encarados naturalmente pelos outros personagens? Já
pensou toda a família de protagonistas irem passar as férias numa praia
naturista? Parece que mais uma vez estamos caminhando
para a marginalidade, para o clandestino, para o escondido, como tão bem
prefere a hipócrita sociedade brasileira. Como podemos mudar um conceito
social se somos impedidos por força policial a serviço da lei? *Presidente da Associação Naturista de Abricó anabrico@ig.com.br
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Leia a seguir a matéria publicada no jornal O DIA de 16 de
outubro sobre a questão. Ninguém
mais pode ficar nu
Justiça proíbe
nudismo na Praia do Abricó, no Recreio dos Bandeirantes
A
6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça (TJ) acatou, ontem, por dois
votos a um, decisão do desembargador Gilberto Rego contra o nudismo na
Praia de Abricó, no Recreio. Segundo o advogado Jorge Béja, que há oito
anos briga para proibir o naturismo, a jurisprudência torna ilegal a prática
em todo o estado. O desembargador enviou cópia da decisão ao comando da
Polícia Militar pedindo garantia da decisão. Num
trecho do parecer, o desembargador argumenta: “Com o passar dos séculos,
a nudez foi sendo moralmente reprimida e, hoje, a apresentação pública
em estado de nudez conflita com a sensibilidade e o pudor da maioria das
pessoas, bem assim com o que ficou convencionado chamar de bons costumes,
por mais que se tenha afrouxado a noção de pudor”. Por não ter sido unânime, porém, a decisão permite recurso dos réus – Associação Naturista de Abricó, o prefeito Cesar Maia e o ex-secretário de Meio Ambiente e atual secretário de Urbanismo, Alfredo Sirkis, que em 1994 baixaram decreto liberando o nudismo. Indignado, o conselheiro da associação, Jorge Barreto, vai recorrer: “O desembargador alega defender a opção da maioria, mas a democracia garante direito para todos”. Béja rebate: “A Justiça preservou o sentimento de pudor”. César Maia não se manifestou. |
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Clique aqui e leia as cartas dos leitores relativas a este assunto. | |||||||||||
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