Praia de naturismo é sensação na Bahia
Massarandupió recebeu 46 mil pessoas em 6 anos;
ONG deve entrar com ação para liberar entrada de gays
Por LUIZ FRANCISCO,
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ENTRE RIOS (BA)
28
de dezembro de 2003
enviado
por Anderson Lugão*
Eduardo
Knapp/Folha Imagem
Adultos
e crianças brincam no mar de Massarandupió, na Bahia; organizadores
afirmam proibir frequentadores mais exaltados |
Em um Estado com o maior litoral
do Brasil (aproximadamente mil quilômetros), uma faixa de 2 km de
areia que remonta às origens do país é a nova sensação do verão
da Bahia.
Em Massarandupió (134 km de
Salvador), os banhistas não precisam ler com atenção redobrada as
revistas de moda para saber as tendências dos biquínis e sungas da
estação mais esperada do ano -lá, somente as pessoas
completamente nuas têm permissão para tomar um banho de mar ou
mesmo de rio (a 500 m da praia existe um pequeno riacho, que faz a
alegria das crianças).
Crescimento
Desde
que se transformou no paraíso dos naturistas, há seis anos,
Massarandupió já recebeu cerca de 46 mil pessoas e contribuiu para
o crescimento da pequena vila, que pertence a Entre Rios (BA).
"Antes
da prática do naturismo, a vila tinha apenas uma pousada e um
pequeno estabelecimento comercial. Agora, existem três
restaurantes, farmácias, lojas, escolas e quatro pousadas",
disse o comerciante Miguel Vasco Calmon Gama, 55, proprietário de
uma barraca na praia.
foto
de Internet
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Presidente
da Abanat (Associação Baiana de Naturismo), Gama encontrou uma fórmula
para incentivar as pessoas mais tímidas que querem conhecer a praia
-o local dispõe de uma pequena faixa (80 m) para a adaptação à
nudez. "Na faixa, as mulheres podem ficar de topless",
disse Gama.
Desde
a sua inauguração, a praia naturista somente permite a entrada de
casais "convencionais". Homens e mulheres desacompanhados
não entram, assim como casais de homossexuais.
"Somos
rigorosos em relação à tranquilidade dos nossos frequentadores",
disse o gaúcho Roberto Soares, 51, que também possui uma barraca
na praia. Ex-guia internacional da Soletur (empresa de turismo que
faliu em 2001), Soares chegou à Bahia no final de 1998. "Foi
amor à primeira vista. A praia é maravilhosa e tem uma excelente
infra-estrutura", acrescentou.
Os
frequentadores da única praia naturista da Bahia reconhecida pela
Abanat têm de seguir um rigoroso código de ética, que está
anexado ao cardápio das barracas e escrito em placas espalhadas
pela praia. "Não aceitamos o menor desvio de
comportamento", disse Calmon, que já "expulsou" da
praia dois casais "mais exaltados".
Durante
todo o verão, o movimento na praia aumenta, segundo Calmon.
"Em média, nós recebemos 200 casais por dia, sendo que o número
triplica nos finais de semana."
Para
chegar à praia, partindo de Salvador, o frequentador precisa seguir
pela Linha Verde (estrada que liga Salvador a Aracaju pelo litoral).
Do asfalto à praia, ainda existe uma pequena estrada de terra (seis
quilômetros), que está em boas condições.
Manifestação
O
presidente do GGB (Grupo Gay da Bahia), Marcelo Cerqueira, 36, disse
que pretende fazer uma manifestação na praia de Massarandupió no
começo do ano que vem.
"Não
vamos aceitar mais uma discriminação contra os homossexuais",
disse Cerqueira.
Além
da manifestação, o GGB também pretende protocolar no Ministério
Público uma ação para que a praia seja liberada para os
homossexuais. "A praia é um espaço público, que deve
pertencer a todos, independentemente da opção sexual de cada
um."
Franceses
pagam US$ 1.500 para conhecer praia
DA
AGÊNCIA FOLHA, EM ENTRE RIOS (BA)
Depois
de conquistar os baianos, a praia de Massarandupió agora quer
atrair turistas estrangeiros. Na semana passada, o francês Daniel
Rabillard, 55, fechou um acordo com uma operadora de Paris para
trazer grupos de turistas franceses ao Brasil a partir de fevereiro.
O
pacote custa US$ 1.500, aproximadamente R$ 4.400, e dá direito a 12
dias de visitas à praia e à capital baiana, Salvador. "Temos
de oferecer outras alternativas para atrair os europeus, já que
eles têm à disposição dezenas de praias naturistas", disse
Rabillard, ele próprio um estrangeiro conquistado pela praia e que,
depois de quatro visitas ao Brasil, resolveu morar em um acampamento
em Massarandupió.
Para
"vender" Massarandupió aos franceses, Daniel Rabillard
gravou um vídeo com algumas atrações culturais dos nativos
baianos -samba-de-roda, artesanato, capoeira e quadrilhas.
"Vamos promover a interação entre o turista e o nativo",
disse Rabillard.
O
agente também investiu no social para agradar o operador francês
-uma parte do dinheiro arrecadado com a comercialização do pacote
será destinada a uma escola de Massarandupió. "Também vamos
contratar mão-de-obra local para realizar a limpeza da praia",
disse Rabillard.
O
turista também fez um acordo com uma pousada da vila. "Quando
ocuparmos 80% do estabelecimento, a pousada será fechada e
transformada em um local naturista."
Para
os turistas aventureiros, Massarandupió oferece uma pequena
infra-estrutura. A menos de 200 m da praia existe uma grande área
plana, onde são montadas as barracas dos turistas. Por R$ 15 a diária,
o turista pode alugar uma barraca com direito a um colchão e a uma
lanterna. "Somente as roupas de cama e objetos pessoais é que
devem ser trazidos", disse Miguel Calmon. (LF)
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