') popwin.document.close() }
Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003
http://www.jornalolhonu.com
Editorial | Cartas dos leitores | NATClassificados | De olho na mídia | NATNotícias | NATExperiência | NATExperiência 2
NATTurismo | NATGaleria | NATPolêmica | NATCuriosidades | NATNovidades | NATVariedades

Jornal Olho nu - edição N°40 - janeiro de 2004

Anunciam nesta edição: Corpos Nus | Pelados |

Naturismo e preconceito

Por Chris Benjamim Natal*

Vou voltar aqui, com mais reflexões, a este tema já abordado anteriormente, em uma de minhas primeiras colunas feitas para o Olho Nu. Trata-se de um paradoxo, tema, aliás, que acho interessantíssimo de ser estudado antropológica-psicológica-socialmente, e que só não investigo mais a fundo no InterNat** por não ter formação em nenhuma destas áreas, sou comunicólogo (convido aos que desejarem fazê-lo).

Na primeira vez em que eu fui a um clube de naturismo no Brasil, um local fechado, portanto não uma praia (o que já falei parcialmente no mês passado), conheci seu proprietário, uma pessoa que aparenta ser muito boa, mas dele escutei que, mesmo sabendo que a discriminação é crime passível de cadeia, ele ali jamais aceitaria a presença de "viados", dito com a pior entonação pejorativa possível, e ainda acrescentou que, por sua posição, jamais iria preso por isso. Os nomes não são relevantes, não os comento por ser antiético. O fato é que me senti diferente do que na praia, onde estava acostumado. Posteriormente, nas centenas de conversas que mantive pessoalmente e on-line com colegas naturistas, aos poucos percebi que ele não era exceção, ao contrário do que eu pensava, e que é possível ser naturista e, ao mesmo tempo, preconceituoso e conservador. Me dei conta, pasmo, que para grande parte das pessoas o naturismo não é, como para mim, uma libertação de amarras, um crescer interno e psicológico, podendo até mesmo ser o contrário. Eu pensava que o naturista, por sua atitude libertária, contestadora de valores, seria diferente. Não sou, absolutamente, um radical, como naturistas que eu conheço que acham que quem o é “de verdade” não pode beber, fumar, comer nada que não seja natural, etc; nada assim. Acho que devemos, sim, ser pessoas normais. 

foto: site praia do pinho.com.br

Praia do Pinho - SC

O fato é que não devo condenar posturas pessoais, e respeito opiniões e a mais absoluta liberdade de expressão. Assim, acho, novamente, que eu é que sou a exceção, e que as pessoas necessitam se manter amarradas às toneladas de tabus e preconceitos com as quais foram criadas e, segundo a psicologia, moldadas através de lavagem cerebral, durante a infância. Me orgulho de pensar que me "desprogramei", até certo tempo, pois me assumo completamente: sou professor de universidade, e todos sabem que sou naturista: meus chefes, alunos, família. A maioria, é claro, não aprova, mas eu tento me impor profissional e pessoalmente de forma a não usar esta máscara. E alguns poucos, felizmente, já entraram no naturismo por minha indicação, e gostaram. É assim que, para mim, devemos expandir nosso meio de vida. 

Mas, enfim, como o Alienista da história homônima de Machado de Assis, sinto que, por achar que sou o único são e todos os outros são loucos, EU é que sou louco e devo me internar, pois a maioria sempre determina os rumos da humanidade. Assim, até que eu chegue a esta definitiva conclusão, vou continuar respondendo, ao invés de ficar calado, toda vez que se defendem ideologias mil que parecem, ao senso comum, serem corretas, e que para mim estão erradas. Em outra oportunidade podemos discutir, por exemplo, porque a proibição das drogas traz mais crimes, ou porque a pena de morte só traz prejuízos, financeiros inclusive, a um país, porque o erotismo e a violência nos meios de comunicação é inevitável, e portanto devemos enfrentá-la conscientizando nossos filhos e mudando de canal (liberar não resolve, proibir tampouco). 

Sem querer que ninguém se ofenda, por favor, mas, dentro do tópico naturismo, eu vou continuar achando importantíssima a discussão, e estranhíssmo o preconceito que se levanta, inadvertidamente, com relação à questões pífias, como a depilação ou não, a opção sexual, a opção de vida, o uso ou não de adornos e modificações corpóreas onde quer que seja, como piercings, tatuagens, silicone, e mesmo de corpos fora do padrão de todas as formas possíveis. Nós somos humanos. O que nos diferencia de todos os animais é a capacidade aumentada de raciocínio e a imensa diversidade. Uma pessoa pode ser bem mais diferente da outra do que um yorkshire terrier é de um mastim napolitano. Por que tanta intolerância? Por que a diferença nos ofende? Freud explica: temos necessidade instintiva, como os lobos, de formar grupos sociais distintos, nos quais possamos nos reconhecer, e o diferente será sempre malvisto e malquisto. 

foto: Márcio Luiz

Praia de Tambaba - PB

Creio que as pessoas confundem muito o fato de gostarem ou não de alguma coisa, de se sentirem ou não atraídos por alguma coisa, o que é de seu inteiro direito, com o fato de que possuem obrigação moral de aceitarem-na como ela é, e se esquecem do direito do outro, que é o de ser aceito como é. Se uma pessoa deseja ser diferente, ela não pode? Ou mudar seu corpo, seja com silicone, metal, plástico, tinta, navalhas ou seja lá o que for, o que diabos os outros têm com isso? E quem deu o direito de uma pessoa interferir na outra, prejudicá-la com seu desdém e separação social? Em breve, se continuarmos assim, estaremos questionando seriamente o direito de ser gordo, possuir pênis muito grandes ou pequenos, de não se depilar ou fazê-lo, pois isso ofende visualmente. Ou de fumar, beber, fazer o que quiser consigo mesmo. O próximo passo é questionar o direito a se ter uma certa religião ao invés de outra, e de viver se a pessoa for diferente, como deficientes. Hipocrisia. Todos temos lados ocultos. Como dizia Caetano: se você olhar de perto o suficiente, ninguém é normal. Mas acho, mesmo, que isso é preguiça mental pura: é muito mais fácil atacar do que se explicar. Cada pessoa se sente bem de uma forma, e a única atitude correta é aceitar ou ignorar. Uma pessoa só nos ofende quando sua atitude é agressiva ou direcionada, nunca por sua forma. Se sentimos ou não ojeriza, asco, repulsa ou o que for, isso é um problema exclusivamente de quem o sente. Leis e normas não existem para discriminar, separar ou ofender, e sim para evitar, a todo custo, que isso seja feito. 

Para mim, o corpo é um templo, que se deve adorar, ou não, a critério, como bem entender. E meu único lema é a tolerância. Confesso, algo ruborizado, que quando sei que um clube descrimina quem quer que seja, imediatamente sinto vontade de nunca mais aparecer no local. Quando vejo áreas exclusivas para homossexuais e desacompanhados, me sinto mal por estar indo com minha família para o outro lado. Me sinto um pouco nazista, "ariano". Eu já presenciei situações assim dentro de minha própria família. Só gostaria que as pessoas que sentem esta necessidade se explicassem um pouco, defendessem abertamente seu ponto de vista, seu medo ou raiva, se fizessem de vidraça também. Afinal, é muito fácil ser somente tijolo. Talvez eu consiga compreender o ponto de vista delas. Quem sabe? 

"Não concordo com uma só palavra do que dizes. Não obstante, estou preparado para lutar até a morte, se for preciso, pelo direito que tu tens de dizê-lo". Voltaire. 

* Chris Benjamim Natal é jornalista, professor, escritor e pesquisador, além de coordenador do **InterNat – Núcleo Latino-Americano de Pesquisas Interdisciplinares em Naturismo e Comunicação. (Para se inscrever no grupo, mande um e-mail para chrisbnatal@yahoo.com).


Olho nu - Copyright© 2000 / 2003
Todos os direitos reservados.