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Jornal Olho nu - edição N°59 - agosto de 2005 - Ano VI
A verdade sobre a praia nudista de Miami
James Thorner
Splash, splash, splash. Um homem espreme uma poça de loção bronzeadora, esfrega as mãos e começa a trabalhar as pernas roliças da loira de 50 e poucos anos. O rosto dela fica em êxtase quando as mãos bronzeadas desse Javier, Marco ou Philippe de 30 e algo tocam a parte interna de seu joelho.
Dedos mágicos percorrem lentamente a coxa carnuda que treme, enruga e vibra. Ele
chega à fronteira onde deveria estar o maiô, mas não há maiô.
Uma brisa apanha a fragrância de óleo de coco e a traz até meu nariz. Está na
hora de largar o livro e estudar a paisagem. Quantas vezes você visita uma das
poucas praias que lhe permitem soltar todas as amarras?
Nenhuma criança constrói castelo de areia ou empina papagaio. Quase ninguém está saltitando entre as ondas. Não há sequer um lamentável Frisby para quebrar a monotonia.
Há uma exibição de partes pudendas suficiente para encher uma banca de revistas de sexo. Mas do ponto de vista do meu guarda-sol cheguei a uma conclusão inesperada: Haulover Beach é um tédio.
Tudo bem para Shirley Manson. Como "embaixadora da praia", ela e seu marido, Richard, passaram 14 anos lutando contra a idéia de que Haulover é uma Sodoma e Gomorra nas areias.
Mason é uma mãe roliça de 55 anos que estaciona sob uma tenda na praia. Richard, 71, geralmente fica a seu lado distribuindo cartões que explicam a "etiqueta" de Haulover. (Entre as dicas: é grosseiro olhar fixamente.)
Os Mason são os maiores entusiastas do nudismo de praia e, como os outros embaixadores, usam chapéus safári turquesa com uma faixa laranja para distinguir-se entre o amontoado de corpos.
Em 1991, os Mason fincaram uma placa na areia no norte de Miami Beach: "Além deste ponto você poderá encontrar pessoas tomando sol nuas", e quase desafiaram o condado de Dade a objetar. Eles raciocinaram que havia 5.375 quilômetros de litoral na Flórida. Por que negar aos nudistas míseros 400 metros de areia?
"As pessoas ficam surpresas porque pensam que nudez tem de ser sexo, que as
pessoas vão fornicar na praia. E não tem nada disso", diz Shirley Mason. Richard Mason diz que os embaixadores são responsáveis por fazer de Haulover uma folga da obsessão por corpos lindos de South Beach. Você pode ter gordurinhas, sem problemas. "Quando você vem para Haulover, quase pode ouvir Pegy Lee cantando 'Is that all there is?' [É só isso?]", ele diz.
Chega a dar pena dos garanhões que vão a Haulover em busca de amor. Como qualquer freqüentador poderia lhe dizer, é praticamente o pior lugar para azarar.
Haulover é uma praia de amigos. Uma praia de casais. Mas é uma praia de paquera surpreendentemente forte. Algumas mulheres, tirando a roupa em público pela primeira vez, tendem a ativar seus sistemas de alerta.
Uma turma corre para a zona de caça livre, outro nome para a extremidade gay da praia. Fica na ponta norte de Haulover, demarcada por uma torre de salva-vida cor-de-rosa.
Mas os machões se esforçam para valer. Tonificados, depilados, emulsificados, eles chegam geralmente sozinhos e se aproximam das toalhas das mulheres.
Experimentam elogios: "Você está em boa forma. Faz ginástica?" Ou camaradagem: "Você também é nudista?" E esta antiga e não muito boa: "Acho que já vi você aqui".
Um sujeito sozinho deixa cair a sacola na areia e tira um binóculo. Primeiro o dirige para os pelicanos no mar. Depois de um minuto passa a observar a vida selvagem humana.
Se há um comitê unitário de boas-vindas em Haulover é Larry Fleischman, o
"Prefeito da Praia". Você o localiza a centenas de metros, lendo o "Miami
Herald" numa cadeira embaixo de uma bandeira tremulante com o desenho do
"yin-yang".
Na casa dos 70, muito bronzeado, o Prefeito usa um chapéu de palha enfeitado de
penas. Ele cobre sua cabeça calva com tufos grisalhos nas laterais. Larry é
especialista em oferecer massagens para jovens nuas. Muitas delas são
especialistas em decepcioná-lo. A mídia também
tem grande interesse na praia
Ele foi um embaixador da praia, mas foi demitido em protesto por sua necessidade
incomensurável de amassar. Há 14 anos ele vem à praia quase todos os dias.
É sexta-feira à tarde, um dia de praia relativamente tranqüilo. Duas jovens
louras chegam, abrem suas toalhas e tiram os biquínis. Larry está a cerca de 15
metros, mas antes que uma delas consiga passar loção nas costas tatuadas ele voa
pela praia. Debaixo do braço, leva enrolada a toalha azul de massagista.
Elas estão deitadas de costas tomando sol e mal olham quando Larry se apresenta.
A dispensa é rápida: Não obrigada. Não queremos. Em um minuto ele refaz seu
caminho. Logo está conversando com uma jovem latina, sentado na ponta de sua
espreguiçadeira. Nua, ela mantém as pernas cruzadas. Até que Larry vai embora.
"As pessoas acham que ele é um velhinho sacana", diz Richard Mason sobre o
Prefeito, que, como ele, é um veterano da Guerra da Coréia. "Eu não suportava as
dispensas". Um dos conselhos publicados pelos nudistas de Haulover: "Por favor,
não deixe que ocasionais brincadeiras de mau gosto estraguem seu dia".
No sábado de manhã, o estacionamento está quase cheio no lado oeste da Collins
Avenue. Um túnel por baixo da avenida o leva a Haulover, além das dunas e da
vegetação que protege a praia dos pedestres curiosos.
Os casais começam a
chegar. Arrastando-se pela areia carregados de utensílios, deixam pouco ao
acaso. Carrinhos com pneus levam montanhas de caixas térmicas, guarda-sóis,
cadeiras e revistas.
Talvez seja a falta de crianças e adolescentes. Talvez seja relutância em
carregar as próprias coisas. Talvez sejam guarda-sóis com recipientes para
bebidas embutidos e o cuidado que se dá à "reidratação". Mas a letargia paira
sobre Haulover. Pelo número de banhistas, pareceria que o mar está
contaminado.
Os velhos praieiros contam que o lugar era freqüentado por traficantes, gangues
e maníacos sexuais antes que os nudistas o adotassem, em 1991. Cerca de 11
quilômetros ao norte de South Beach, quase na divisa do condado de Broward,
Haulover era tão bagunçada que os Mason pensaram que a nudez seria um
progresso.
Haulover é um sucesso. Antes do meio-dia você mal consegue andar sem pisar na
toalha ou no cobertor de alguém. Milhares de pessoas cobrem a praia, uma parte
dos estimados 1,3 milhão de visitantes por ano. Fora da parte de "roupas
opcionais", a areia está quase vazia.
Se você quiser ouvir o murmúrio das ondas, não venha a Haulover. A construção de
prédios garante o barulho de bate-estacas e bombas hidráulicas. Projetos como o
Trump by the Sea - sim, aquele Trump - substituem a faixa de motéis bregas em
estilo anos 50.
Mas para casais de meia-idade que desejam sonolência na areia e nudez sem
erotismo, Haulover parece segura. Depois de cerca de oito horas disso durante
dois dias, tive vontade de estampar uma camiseta com: "Fui à praia nudista mais
quente do país e só consegui um cochilo".
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Leia esta notícia original
clicando no endereço
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/outros/2005/07/24/ult586u250.jhtm
(enviado em 24/07/05 por
Sil
Silveira) |