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Jornal Olho nu - edição N°59 - agosto de 2005
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Jornal Olho nu - edição N°59 - agosto de 2005 - Ano VI

Perigoso regresso ao puritanismo

 

por Guillermo Giacosa*

 

Praia em Saint Martin - Club Orient

É curioso como uma nota sobre a nudez pode provocar mais sobressaltos e asco do que denúncias sobre torturas ou matança de inocentes. Recebi vários correios eletrônicos acusando-me sobre a nota de ontem (e alguns compartilhando meus pontos de vista). Alguém opinou que, seguramente, eu era um exibicionista, por isso disse o que disse. Na verdade, não sou. Mas a cultura me há imposto um sentido de pudor que, sendo autocrítico, me parece exagerado e trato de combater.

 

Um dos assaltos desse combate foi visitar uma praia nudista na ilha de Saint Martin (Antilhas Holandesas). Demorei a aceitar o convite, demorei a despojar-me de todas as roupas, demorei a enxergar com naturalidade os outros corpos nus sem que um ou outro pensamento lascivo atravessasse minha mente. Tudo me custou muito, muitíssimo, mas valeu a pena porque cinco minutos mais tarde, como se minha memória genética tivesse lançado um basta para abolir qualquer retardo cultural, eu era mais um nudista indiferente ao encanto a ao espanto dos corpos que me rodeavam.

 

Nunca pensei, devo admitir, que as pessoas, com poucas exceções, podiam ser fisicamente tão feias e conservar, em alguns casos, uma profunda espiritualidade na fachada. O escândalo dos anos, que aparecia grosseiramente a cada instante, tampouco me pertubou, e recordo essa tarde como a menos sexualmente estimulante de minha existência. O nu, digo aos moralistas, é um mata-paixões mais eficiente que um hábito eclesial. Calombos, joanetes, varizes, celulites, peitos e testículos vencidos pela lei da gravidade, pênis como embutidos de má qualidade, etc, podem constituir um magnífico detonador para iniciar, de imediato, uma profunda introspecção em busca de alternativas que permitam sublimar o estritamente físico.

 

Nada é mais próximo da busca da pureza que esse nudismo total. Poucas vezes se experimenta, como nesses instantes, a sensação de pertencer a uma espécie animal e o conseguinte desejo de encontrar caminhos que nos conduzam a pensar, como tantas vezes nos ensinaram, que tenhamos um mais na preferência divina, ao menos, uma vantagem por nosso cérebro mais evoluído. O nudismo é uma experiência mística diferente. Digo isso absolutamente convencido. Em poucos lugares como lá se faz evidente o clamor do poeta Hoffmanthal quando disse "Deus, Deus, por quê estás tão ausente". Talvez deveria dizer que é uma experiência antropológica e mística. Em todo caso, é uma experiência que marca no sentido que, seguramente, pretendem os bons moralistas, quero dizer, fazendo-nos menos obsessivos. Quem, que se tenha fartado de tetas das mais variadas formas, tamanhos e cores, ousará espiar a de uma eventual dama normalmente coberta?

 

Praia em Saint Martin - Club Orient

Fazendo história podemos recordar que, nos banhos públicos romanos, ambos os sexos compartilhvam sua utilização, que até o século IV Jesus aparecia nu nos crucifixos e que os que se acercavam ao batismo iam nesse estado ao ritual que os iniciaria na religião.

 

A idéia de que o corpo é o campo de batalha entre o bem e o mal é uma herança judaico-cristã da qual, em benefício de nosso equilíbrio, seria imperativo desembaraçar-se. A imoralidade não passa precisamente por mostrar as partes íntimas do corpo, e sim por como esse corpo, nu ou vestido, se comporte com respeito ao próximo e a sociedade que o alberga.

 

*articulista do jornal PERÚ 21

ggiacosa@peru21.com

 

Leia o texto original em

http://www.peru21.com/Comunidad/Columnistas/Html/2005-03-15/Giacosa0273715.html

 

Enviado por Florencia B. (bifidus9@hotmail.com)  integrante de grupo argentino de discussão naturista.

 


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