A ousadia do V Encontro nacional de Naturismo

 

por Pedro Ribeiro*

 

foto: Pedro Ribeiro

A Abertura do V Encontro Nacional de Naturismo correu no dia 12 de outubro e foi presidida por Elias Pereira, presidente da FBrN. O eveento contou cam apresença de políticos da cidade, entre eles o prefieor Aloizio Régis (à direita de Elias)

A principal atividade naturista do mês de outubro foi o V Encontro Nacional de Naturismo, realizado em Tambaba, entre 12 e 14 de outubro oficialmente, mas "esticado" até domingo 16, extra-oficialmente. Anunciado desde o Congrenat realizado no Mirante do Paraíso, em fevereiro deste ano, o Encontro criou uma grande expectativa em naturistas (e até em não naturistas) de todo Brasil.

 

A programação prometida era ambiciosa. Previa uma série de palestras e debates sobre o tema Naturismo, turismo e meio-ambiente, apresentados por especialistas sobre o assunto, oriundos de universidades conceituadas, e que despertou a curiosidade de outros especialistas importantes também (leia o programa clicando aqui). 

 

Estavam previstas, também, oficinas teatrais, shows de música com dança e exposições artísticas. Enfim, um programa perfeito e grande para tão pouco tempo. Isto causou até uma certa ansiedade em muitos, como aproveitar das palestras e atividades e ainda por cima curtir a praia de Tambaba ? Objetivo principal de quase todos.

 

Repleto de toda essa expectativa, eu, André e Carlos, todos oriundos da praia do Abricó no Rio de Janeiro, viajamos de madrugada para pagar mais barato e chegamos em Recife às 5 horas da manhã, do dia 12. Lá encontramos um amigo, membro do Ynai, que nos daria carona para o município do Conde, na Paraíba, onde está localizada a praia de Tambaba e nossa pousada.

 

Depois de um tour leve por Recife, seguimos para nosso destino. No município do Conde aparecem as primeiras dificuldades. Embora estivessem espalhadas por toda região as faixas de saudação aos naturistas, não havia indicações de como chegar na sede de abertura, a pousada Enseada do Sol. Isto nos fez ficar circulando por infindável quase uma hora, por toda cidade. Chegamos logo depois da abertura já ter iniciado, a qual por nossa sorte  também estava atrasada.

 

foto: Pedro Ribeiro

A primeira paelstra foi proferida pelo prof. Willis Leal

A solenidade de abertura do evento contou com presença de Elias Alves Pereira, claro, presidente da Federação Brasileira de Naturismo, e de políticos locais, principalmente o prefeito Aloizio Régis, grande defensor da causa naturista na região e do representante da PBTUR (empresa estatal de Turismo da Paraíba) que discursou brevemente sobre a importância do naturismo para o turismo da região. Essa primeira impressão foi positiva, indicando o tom do que nos esperava, o apoio político integral e a aparente organização.

 

A primeira conferência, muito boa por sinal, encerrou a abertura. Proferida por Willis Leal, jornalista e escritor, abordou o tema "O naturismo como produto turístico", apresentou vários pontos de reflexão para aqueles que realmente querem transformar o naturismo em um manancial turístico.

 

A fome apertava e o cansaço era grande para nosso grupo, após uma noite inteira de viagem e uma manhã já em atividade. Um ônibus da Prefeitura estava à disposição para levar os participantes para a pousada ZECAS, local onde estava hospedada a maioria. Nós ainda fomos de carro e nos instalamos na pousada aconchegante, propriedade de João Damasceno, presidente da SONATA (Sociedade Naturista de Tambaba). Estava lotada, e percebemos porque ela não poderia ser naturista, é aberta ao público em geral, que vai para almoçar e desfrutar da piscina.

 

Nosso quarto, na verdade, era um grande salão. Possuía doze camas, transmitindo a sensação gostosa de estarmos em um Albergue da Juventude. Deixamos nossas coisas e nos dirigimos ao restaurante, o qual havia sido previamente acordado, na beira da estrada que leva à praia de Tambaba.

 

Já era quase duas horas da tarde e o estômago colava. Mas este almoço se tornou muito importante, porque contou com a presença do Prefeito Aloizio Régis, que estava agendado um encontro com o Senador Ney Suassuna (PMDB-PB) no local.

 

A chegada do senador criou um certo rebuliço. Logo a cúpula da FBrN estava reunida com ele, pedindo apoio à aprovação da Lei Gabeira, que está parada no Senado Federal esperando entrar na pauta de votação. O Senador prometeu apoiar e procurar apoio de outros parlamentares. Leia como foi este encontro em NATLuta.

 

Após o almoço, já mais de 3 horas da tarde, fomos finalmente para a praia de Tambaba. Onde às 4 estava programada para ocorrer uma oficina ambiental.

 

foto: Pedro Ribeiro

A beleza do local impressiona. A Sonata conta com fundos arrecadados pelo estacionamento nas proximidades da praia

O caminho poucos metros antes de chegar impressiona pela urbanização. Foi feito calçamento em boa parte da estrada, e construído um estacionamento exclusivo para a praia, cuja renda integralmente é destinada à SONATA.

 

A beleza também impressiona. O contraste entre vegetação exuberante e mar azul é fantástica. Deixado o carro, a trajetória a pé é curta. Atravessamos primeiro uma pequena enseada, onde outrora era chamada área de adaptação. Ou seja, neste trecho poderia ficar nu ou vestido, e não havia restrições a homens solteiros. Porém, os inimigos da praia conseguiram, em gestão municipal anterior, uma lei que proibiu a nudez nesta área. O que se vê então são muitas pessoas não naturistas e crianças curtindo uma praia de forma comum, embora ela não tenha nada de comum, por causa de sua natureza ímpar.

 

Entre nós, quatro homens, passava um certo receio de sermos barrados de entrar, pois na área naturista somente é permitida a entrada de casais. Então todos estavam exibindo ostensivamente o crachá de participante do Encontro. Entramos sem qualquer problema, após atravessarmos o pequeno morro que separa a primeira praia da segunda.

 

O primeiro visual é deslumbrante. Fomos recepcionados por Aninha, que fica na portaria (Leia sua entrevista em NATQuestão). Tiramos as roupas e caminhamos em direção às mesas, cadeiras e cabanas, situadas cerca de 150 metros à frente.

 

Enquanto ando, começo avistar homens usando sungas e outros usando sungas e camisetas. Deixou-me um tanto decepcionado. Eles eram os garçons, que trabalham vestidos (leia sobre esse assunto também em NATQuestão). A praia estava cheia mas não como imaginei. Também pelo horário em que chegamos, era provável que muita gente já tivesse ido embora.

 

foto: Pedro Ribeiro

Esta área outrora era a de adaptação. Hoje em dia é proibido ficar nu aqui. Ela impressiona pela beleza.

A pousada e o bar estão situadas nos fundos dessas mesas, cadeiras e cabanas. Não conseguimos localizar de saída, o local onde seriam realizadas as palestras na praia. Ele ficava em cima de uma das colinas que cercam a praia. Logo depois de me acomodar em uma das cabanas, sem saber muito bem se teria que pagar pelo uso delas, dirigi-me quase que imediato ao ponto reservado às palestras.

 

Após subir o morro deparei-me com grandes cabanas de cobertura de lona, colocadas sobre uma área de mata devastada, o que causou protestos dos próprios naturistas participantes. Havia mais cadeiras que espectadores. A reunião plenária da Federação havia sido cancelada em virtude da demora do almoço, que contou com a presença importante do Senador. A oficina sobre meio ambiente começou sobre o comando do Julindio de Macuxi (leia entrevista em NATPersonagem), que a transferiu para a areia da praia.

 

As atividades da praia foram encerradas à noite com um grupo de forró, que tocou em frente a pousada e fez a galera dançar. A festa chamava-se "Nual", no entanto músicos e quase toda platéia estavam vestidos, alguns dos pés à cabeça. Já era mais de 11 da noite quando voltamos para o ZECAS para finalmente descansar das 48 horas ligadas.

 

foto: Pedro Ribeiro

As tendas montadas sobre terreno devastado por fogo causou protestos e indgnaçào dos naturistas

O segundo dia começou com um delicioso e farto café da manhã servido no ZECAS. Todas as atividades estavam concentradas na praia de Tambaba. A primeira prevista começava às 9 horas, e às oito e meia passava o ônibus da prefeitura para nos buscar.

 

Pela manhã a praia estava bem vazia de naturistas, mas me incomodava ainda ver tamanha quantidade de serventes vestidos.

 

Na Conferência sobre Nudez e Religiosidade, poucos presentes. Entre a primeira e a segunda palestra, foi lançado oficialmente a literatura de cordel sobre Luz del Fuego, de autoria do manauara Jorge Bandeira (leia entrevista com ele em NATEntrevista). Trechos desse livro foram divulgados com exclusividade na edição número 57 do OLHO NU. De repente entra na área uma equipe de Tv, era a RECORD fazendo cobertura do Encontro. Algumas pessoas se sentem incomodadas pela câmera. Mas tudo corre bem. Só que ninguém que integrava a equipe sabia dizer quando as imagens seriam transmitidas, e assim ninguém conhecido conseguiu ver a reportagem. Em seguida a segunda palestra, sobre naturismo e meio-ambiente encerraram as atividades matutinas.

 

À tarde, mais uma vez a reunião plenária da Federação não aconteceu. Mas a oficina com o título "A poética do teatro no meio-ambiente" mobilizou muitos interessados que fizeram exercícios de relaxamento e de improvisação, culminando com apresentação de pequenos esquetes públicos, sob o comando do professor da Universidade Federal da Paraíba, Carlos José.

 

À noite, mais "Nual". Desta vez com mais gente nua, embora os cantores continuassem vestidos.

 

No terceiro dia, 14, a parte da manhã foi dedicada à reunião plenária da Federação Brasileira de Naturismo, na própria pousada ZECAS. E aí que começou alguns imbróglios. Os eventos programados para esta manhã, no Hotel Corais de Carapibus, não aconteceram. Não havia ninguém da organização, nem da prefeitura, no local, para dar continuidade a programação. Resultado, as palestrantes deram com o narizes na porta. Tremenda falta de respeito às duas mestras da Universidade Federal da Paraíba. As duas foram até a Pousada ZECAS onde estava reunida a cúpula da FBrN, e reclamaram, com razão.

 

foto: Pedro Ribeiro

Jorge Bandeira e o professor José Nilton lançam oficialmente o cordel sobre Luz del Fuego

Apesar dessa tremenda saia-justa, as professoras tiveram a gentileza de transmitir aos participantes da mesa um resumo das palestras que teriam proferido. 

 

Desse dia, somente a atividade programada para a tarde, na praia de Tambaba, uma oficina com argila, foi realizada.

 

Acredito que o que causou pouca procura pelas palestras, mesmo aquelas ocorridas na tenda armada na colina da praia, foi justamente a distância da principal atração: a própria praia. Ao lado do restaurante havia uma área coberta, cimentada, com banheiros, e eletricidade para uso de sistema de som, que não foi aproveitada, a não ser para os shows noturnos e uma pequena exposição fotográfica.

 

Faltou racionalidade para perceber isso. Teria evitado o desmatamento obsceno para a montagem das tendas e teria economizado o dinheiro também. A concentração de todas as atividades em um só lugar, com exceção apenas da cerimônia de abertura, teria sido o mais correto. Mas é errando que se aprende. E é tentando que se erra. O melhor de tudo, é que foi feito.

 

Oficialmente estava encerrado o V Encontro Nacional de Naturismo, que ainda perdurou extra-oficialmente com o passeio de catamarã (leia sobre ele clicando aqui), no dia seguinte. À noite ainda houve mais um "Nual"  de vestidos.

 

Parabéns a Tambaba pela ousadia de patrocinar algo assim. Parabéns à Prefeitura do Conde pela ousadia de apoiar o naturismo sem qualquer tipo de subterfúgio, com a cara limpa.

 


Veja o FOTO ÁLBUM com dezenas de fotos do V Encontro Nacional de Naturismo


Primeiras experiências

 

Um evento do porte como o que foi o V Encontro nacional de naturismo também é a oportunidade para muitas pessoas de experimentar o naturismo pela primeira vez. OLHO NU localizou, em Tambaba, um casal de Brasília, que pela primeira vez pisou em uma praia naturista. Mas não foi a primeira experiência com o naturismo em si. Eles são frequentadores do PLANAT e aqui depõem sobre a sensação de estarem numa área pública. Ela é Marna, 26 anos, estudante de fisioterapia, e Frederico, 32, advogado.

 

OLHO NU: Qual é a sensação de frequentar pela primeira vez uma praia de naturismo ? O que vocês acham que é bom ou ruim em relação a um local fechado ?

 

Marna: eu adorei. Não encontrei nenhum ponto negativo. Achei espetacular ter vindo.

 

Frederico: Praia é outra história. Sempre é melhor. Para nós então é muito raro ter a oportunidade de vir. Acho que a primeira idéia que as pessoas associam ao naturismo é com a praia. Pretendemos voltar.

 

ON: Com certeza, Tambaba será a primeira de uma série.

*editor do jornal OLHO NU

pedroribeiro@jornalolhonu.com

Leia também sobre o passeio de catamarã pelo rio Paraíba

Jornal Olho nu - edição N°62 - novembro de 2005 - Ano VI


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