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VOZ DO ARCEBISPO
Como a Igreja vê os nudistas
Dom Carlos Alberto E. G. Navarro*
Cada vez mais, no Brasil e no mundo, fala-se dos direitos de os
nudistas terem suas praias, colônias, etc. Autoridades civis, aqui e ali,
ora permitem ora proíbem o naturismo. Como a Igreja vê tal problemática?
O Apóstolo São João distingue três espécies de cobiça ou concupiscência.
A da "carne" tem relação com o 6º mandamento (não pecar
contra a castidade) e o 9º (não desejar a mulher do próximo). Ele
aprendeu de Jesus, que afirmou: "Todo aquele que olha para uma mulher
com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração"
(Mt 5,28). Teologicamente, concupiscência é aquele desejo que se opõe
aos ditames da razão humana. Para São Paulo é a tensão, a revolta que
a "carne" provoca contra o "espírito". Ele não está
condenando o corpo, mas fala das obras de quem se submete ou de quem
resiste à ação do Espírito Santo. Aliás, entre os frutos do Espírito,
ele cita a modéstia, a continência e a castidade (Catecismo da Igreja
Católica, CIC, 1830-1832).
A Bíblia não vê a sexualidade apenas como um fato físico, biológico,
mas também como capacidade de relacionamento, de linguagem e de comunicação.
O corpo é sexuado, porém é vivido interiormente pelo
"sujeito" ou pessoa, que também é espírito. Constatamos
experimentalmente que existe uma forte tensão orientando o desejo para o
corpo do outro sexo, a fim de encontrar prazer. A pessoa, porém, não se
deve deixar reduzir a um mero instrumento. É por tal razão que
escondemos com a roupa o que no corpo atrai mais a atenção do instinto.
Enquanto isto, mostramos e dirigimos para o outro o olhar e o rosto, pelo
qual podemos mais intensamente comunicar a riqueza de nossa interioridade.
Assim, antes de tudo, a pessoa procura revelar ao outro e aos outros o seu
valor, o seu eu mais verdadeiro. (cf. Catecismo para Adultos da Conferência
Episcopal Italiana, nº 1044 - 1045). O pudor e a modéstia são uma
defesa espontânea da pessoa que recusa ser vista e tratada como
"objeto de prazer", em vez de ser respeitada e amada por
"si mesma". (Como estão longe desta verdade muitas das mulheres
que hoje, praticamente, se despem para ir às praias!).
De outro lado, devemos prezar e respeitar a "intimidade".
A criança que vê que se respeita sua justa intimidade entenderá que se
espera dela a mesma atitude em relação aos outros. Ensinar o pudor a
crianças e adolescentes é despertá-los para o respeito à pessoa
humana. Infelizmente, diz o Santo Padre, em algumas Nações existe um
bombardeamento de mensagens de violência e outras que afetam os princípios
morais e tornam impossível uma atmosfera que permita a transmissão de
valores dignos da pessoa humana. Os pais, em primeiro lugar, com os
responsáveis pelos meios de comunicação e as autoridades públicas,
deveriam se unir a fim de que as famílias não sejam abandonadas em setor
tão importante da sua missão educativa.
A pureza se obtém através de luta. E ela exige o pudor, que
preserva a intimidade da pessoa. O pudor protege o "mistério"
das pessoas e do seu amor. Inspira o modo de vestir. Na relação amorosa,
pede que haja a doação e o compromisso definitivo do homem e da mulher
entre si (CIC, nºs. 2521 - 2522). Escondemos em nossa
"intimidade" o valor de nosso salário, de nossa conta bancária,
de outros assuntos materiais de nosso passado e de nossa interioridade.
Por que não fazer o mesmo para preservar o mistério de nossa pessoa e do
amor matrimonial? Por que não guardar a intimidade de nosso corpo? Será
que os nudistas ou naturalistas estão isentos da concupiscência que
atinge a todos os mortais? Será que eles e elas costumam despir a sua
alma diante de todos e contar todas as suas coisas mais íntimas e seus
segredos? Porventura, colocam também "a nu" para todos seus
haveres pessoais, até, quando é o caso, na declaração do seu imposto
de renda e na contabilidade de sua firma? A pureza de coração exige o
pudor, que é modéstia e discrição. É a ela que Jesus se refere ao
exclamar: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a
Deus" (Mt 5,8).
*Arcebispo Metropolitano de
Niterói
Fonte :A Voz do Pastor 16/06/2001
http://www.geocities.com/maediv/Downloads/Semeando/Jun2001.html |
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NUS COM A MÃO NA BÍBLIA
"O
naturismo, quem diria, tem cada vez mais praticantes evangélicos"
por
Marcelo santos*
Não faz muito tempo, os crentes eram reconhecidos pela
indumentária ultra-recatada, como longas saias para
as mulheres e terno fechado para os homens. A moral evangélica,
marcadamente conservadora, sempre vetou a exposição do corpo. A maneira
reservada de se vestir até virou marca registrada dos bíblias. Vieram os
novos tempos, e com eles, novas práticas. O comportamento dos evangélicos
foi mudando tanto que, hoje, já é possível encontrá-los tomando
atitudes inimagináveis, algumas vistas como verdadeiras abominações
pelas igrejas.
Mas daí a encontrar crentes peladões por aí, lépidos e
fagueiros, foi um salto. E um susto. Mas eles existem, acredite se quiser.
São os naturistas evangélicos, gente que gosta de sentir-se bem à
vontade, de preferência, sem roupa nenhuma. Eles não têm nenhum
constrangimento em deixar expostas partes do corpo que, em algumas traduções
bíblicas, são chamadas de vergonhas. E são até capazes de orar, cantar
louvores e meditar na Palavra do jeitinho que vieram ao mundo.
Bizarro e inaceitável até mesmo para grande parte da sociedade em
geral, o nudismo causa ainda mais espanto quando praticado por gente que
garante ter Jesus no coração - e nada sobre a pele. Mesmo sabendo que
causam escândalo entre a absoluta maioria dos evangélicos, há nudistas
crentes que decidiram mesmo vestir - ops, melhor seria dizer despir - a
camisa do naturismo. Caso do arquiteto curitibano Estevão Prestes, de 30
anos, que não tem o menor constrangimento de ficar nuzinho em pêlo, não
apenas sozinho, como diante de outros que compartilham seu modo para lá
de despojado de ser. Ele gosta de ler a Bíblia sentindo o vento no rosto,
no peito e em algo mais, e encontra até justificativa escriturística
para a o que faz: "Na epístola de Tito, lemos que todas as coisas são
puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis",
alega.
Adepto ao naturismo desde 1999, quando foi convidado por um casal
de amigos, Estevão diz que sentiu certo remorso nas primeiras vezes e
chegou a questionar-se sobre o que fazia, sendo crente, ali. Embora a Bíblia
afirme que tudo aquilo que não provém de fé seja pecado, Estevão foi
ficando, até que um dia teve um estalo, tipo o "penso, logo
existo", de Descartes. "Deus, que é onisciente, sabe como eu
sou, me sonda e me conhece. Ele sabe dos propósitos do meu coração."
Desde então, o rapaz acabou assumindo sua conduta num balneário nudista
de Santa Catarina. Ele chega a ser poético ao lembrar do episódio:
"Ali, sobre as pedras da Praia do Pinho, eu me abri para o abraço do
Eterno. Hoje, prefiro orar despido".
A opção acabou custando-lhe a expulsão da Igreja do Evangelho
Quadrangular, da qual era membro. "Fui chamado ao Conselho e
comparado aos demônios. Disseram que eu não era convertido e daí para
baixo." Mas ele faz questão de defender sua posição como evangélico
nudista, e é categórico: "Todo naturista sabe que a malícia não
está na pele à mostra, mas na mente de quem vê".
Por mais esdrúxulo que seja o naturismo praticado por crentes, já
há até points especializados em recebê-los. Pois é o que o visitante
encontra na Praia de Tambaba, em João Pessoa (PB), com suas águas mornas
e sol quase o ano inteiro. Ali, a mistura entre nudismo e fé evangélica
é levada a sério. É que os dirigentes da Sociedade Naturista de Tambaba,
a Sonata, entidade que administra a área, são crentes. Gostam de um bom
papo sobre as coisas de Deus e apreciam a leitura da Palavra. Só que
dispensam um detalhe: a roupa. "Ficar nu não é pecado", recita
Ivana Sheila, dirigente da Sonata. Em Tambaba, como é praxe nas áreas
destinadas ao nudismo, existem rígidas regras de conduta. Evita-se, por
exemplo, o exibicionismo puro e simples e valoriza-se um ambiente
familiar, se é que isso é possível em tais circunstâncias.
Fotografias, flertes e namoros são proibidos. Segundo Ivana, muitos
curiosos chegam na entrada, mas são exortados "Lemos versículos bíblicos
para eles e os aconselhamos a não perturbar os outros".
* Articulista da revista Eclésia |
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BRASIL
Naturismo
atrai evangélicos, que até evangelizam em pelo nas praias
SÂO PAULO, Agosto 27, 2002 (alc).
Há até bem pouco tempo, crente de fibra era reconhecido pela maneira de
se vestir, ele de terno e gravata, ela de vestido ou saia longa. Além de
quebrar outras marcas características, como a aversão à política, à
TV e aos produtos de beleza, hoje já é possível encontrar em praias
brasileiras crentes adeptos do "naturismo gospel". São os
naturistas evangélicos, homens e mulheres, que preferem, no seu tempo de
lazer e na orla, passear pela praia assim como vieram ao mundo: pelados.
"Ficar nu não é pecado", sustenta Ivana Sheila, dirigente da
Sonata, a sociedade dos naturistas da praia de Tambaba, em João Pessoa,
Paraíba. "Ali, a mistura entre nudismo e fé evangélica é levada a
sério", relata o repórter Marcelo Santos, na matéria "Nus com
a mão na Bíblia", publicada na revista Eclésia de agosto. Como em
todas as praias destinadas ao nudismo, Tambaba segue rígidas normas de
conduta.
Ivana e
seu marido, Nelci Rones, nasceram em lares evangélicos e se confessam
convertidos. Rones queixa-se do preconceito com que são encarados pelos
irmãos. "O naturismo, praticado na sua íntegra, não possui nada
que contraria os princípios bíblicos. Nada aqui fere o Senhor, pois tudo
é praticado com absoluta ingenuidade e pureza. Só quem tem olhos
maldosos consegue ver maldade na nudez", argumenta.
O
arquiteto Estevão Prestes, 30 anos, freqüenta a Praia do Pinho, nas
proximidades de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, onde gosta de ler
a Bíblia ao sabor do vento e orar totalmente despido. (Nota: na verdade comecei a freqüentar no Pinho, mas hoje
vou mais a Pedras Altas) Ele é adepto do naturismo desde 1999. Pela sua opção,
acabou expulso da Igreja do Evangelho Quadrangular, na qual foi comparado
aos demônios. Hoje, freqüenta a Igreja Presbiteriana.
"Todo
naturista sabe que a malícia não está na pele que mostra, mas na mente
de quem vê", sustenta.
O casal César e Valdinéia Moraes, de Santa Cruz do Rio Pardo, São
Paulo, membro da Igreja Presbiteriana Independente, freqüenta um point
naturista, a Estância Ramanat, em Belo Horizonte, na companhia dos
filhos
de sete e quatro anos.
Sempre que
pode, o naturista evangélico Carlos Antônio de Morais, ex-membro da
Igreja Batista, evangeliza na praia... completamente nu. Ele é conhecido
em Tambaba como o pastor do grupo. "As pessoas acham estranho eu
falar da Bíblia pelado", relatou ao repórter Marcelo Santos, para
lembrar, em seguida, que o primeiro casal da humanidade - Adão e Eva -
passeavam nus pelo paraíso e não sentiam vergonha.
"Não
se pode mais voltar ao Éden porque o coração do homem não é mais o
mesmo e nunca, até a volta de Jesus, será", retrucou para a
"Eclésia" o pastor Ebenézer Ferreira Silva, da Igreja Batista
Novo Horizonte, de Linhares, no Espírito Santo. Ele foi um dos que se
pronunciou contra a recepção de naturalistas, em 1993, na Praia de Barra
Seca, próximo à cidade.
O
naturismo "é totalmente incompatível com a ideologia cristã",
define. Também o presidente da Associação de Pastores de Linhares,
Jozias Maciel Afonso, condena a prática. "A minha Bíblia diz que o
cristão deve se portar com modéstia e decência. As praias de nudismo
atentam contra o pudor", assinala. Para ele, houve um crescimento
desordenado, sem critérios, do setor evangélico no país, gerando uma
crise. Hoje, "ser crente virou moda", lamenta.
"Nos
dias atuais, muitas pessoas têm trazido idéias que não vêm de Deus,
inclusive para dentro das igrejas. São tentativas de relativizar a
santidade", sentencia o pastor Kenji Kikuchi, líder da Comunidade
Cristã da Barra da Tijuca, no Rio. Ele recorre ao apóstolo Paulo -
"tudo me é lícito, porém nem tudo me convém" - para deduzir
que "o nudismo não convém aos evangélicos".
Segundo a Federação Brasileira de Naturismo, existem no país
seis praias oficiais, reconhecidas por lei, e um número não conhecido de
praias não-oficiais, que abrigam os 250 mil naturistas espalhados pelo país.
A Federação não sabe precisar, no entanto, o número de naturistas
evangélicos existentes. |