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Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003 | |
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Jornal Olho nu - edição N°37 - outubro de 2003
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TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA... E COM VIOLÊNCIA por Pedro Ribeiro* Bem dizia Nelson Rodrigues em sua célebre frase, que foi título de uma peça de teatro de sua autoria e título de filme baseado em sua obra. Há quase 40 anos quando o texto foi escrito, a sociedade brasileira, originada dos grandes latifúndios do café e do leite, era ultraconservadora em sua essência. Trazia em seu bojo toda a marca da vida interiorana que tinha a Igreja como principal norteadora. Era início da chamada modernidade brasileira, que se agitava com a industrialização promovida anos antes pelo presidente Juscelino Kubitschek. Novas idéias começaram a ser sopradas, trazidas do maior intercâmbio com o exterior. Foi época do fenômeno Dora Vivacqua, a Luz del Fuego, causar escândalo com seu teatro e sua Ilha do Sol.
Nelson Rodrigues retratava no teatro todas as contradições e hipocrisias da vida social da época. Havia um choque muito grande entre o que era tradicional e o que era moderno. O mundo todo se modificava em suas convicções morais e muita coisa foi revista. O mais notório foi a vestimenta da mulher, cujas saias encolheram da altura das canelas até a altura das nádegas. Com o passar dos anos muitos comportamentos novos foram assimilados por nossa sociedade e muito do que era considerado imoral, absurdo ou pecado passou a ser livremente aceito. O Brasil evoluiu muito nesse sentido mas o corpo humano ser aceito em sua totalidade parece que ainda está muito longe de ser concretizado. Embora a visão das canelas, coxas, colo hoje em dia não levem ninguém mais a qualquer tipo de constrangimento, outras partes do corpo continuam sendo tabu e podem ser consideradas atentatórias ao poder público a sua simples exibição. O pior é que as autoridades acreditam piamente nesta premissa, muito mais que a própria sociedade, que é muito mais tolerante.
O caso da repressão violenta acontecida em janeiro deste ano, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na ocasião do Fórum Mundial para a integração dos povos é emblemático. Justamente em um evento que promovia a paz e o respeito aos costumes entre os diversos comportamentos sociais das nações, uma passeata (que mais foi um passeio no início) para protestar contra a proibição de uma indiana tomar banho nua no Acampamento da Juventude, acabou em pancadaria generalizada, com diversas vítimas da insensatez pública feridas (leia matéria completa em OLHO NU nº 29). Por todo mundo tem se espalhado a "moda" de fazer protestos contra determinadas atitudes políticas dos mais diversos escalões. Não resta menor dúvida que esta forma de protesto é inteiramente pacífica e chama atenção para o protestantes e suas causas. Creio que a todos agrade mais esta forma do que que explodir lugares ou atirar e matar à esmo. O Brasil, é lógico, também tem se engajado nesta forma de dizer não. Porém, o tratamento que as polícias dispensam a estes descontentes é inteiramente diferente do tratamento que recebem em outros países e, pior, inteiramente desproporcional ao mal (?) que a exposição de um corpo nu, ou partes do corpo podem causar à sociedade.
Lembre-se do caso Rosimari, a banhista que foi presa violentamente por mais de 20 policiais armados com fuzis e metralhadoras porque se recusou a colocar a parte superior do seu biquíni, quando tomava banho de sol e mar na praia da Reserva, no Rio de Janeiro (!?!), no verão de 2000 (isso mesmo! não foi no início do século XX, foi no seu final!). Tudo isso por causa de um par de seios.(Leia caso completo no site da praia da Reserva).
Neste mês de setembro, durante uma passeata de professores e alunos da rede pública de ensino do estado do Rio de Janeiro (de novo!), um estudante arriou suas calças e mostrou sua bunda para o palácio Guanabara, sede do governo estadual. Sua irreverência ousada custou um confronto violento sem precedentes entre a polícia militar e os manifestantes, que resultou em diversos feridos (leia mais em NU em Notícia). O rapaz de 18 anos foi preso e autuado por atentado violento(?!) ao pudor. Realmente muito exagerada a reação da polícia. Tudo isso por causa de um par de nádegas. Até hoje as autoridades brasileiras, os intérpretes das leis, consideram o corpo humano como fonte de vergonha e devassidão, embora não haja nada disso explicitamente claro no Código Penal, de 1940 (!!). A mostra de um pênis ou de um seio é visto como atitude muito mais violenta do que portar uma arma, um revólver. Policiais, no Rio de Janeiro (de novo!), exibem ostensivamente suas armas pesadas, em suas blitz cotidianas e em patrulhamento nas vias expressas, afrontando a população pacífica e o mesmo fazem os comboios de bandidos que trafegam sem serem importunados em meio às favelas e diversas ruas dos bairros pobres da cidade. Com isso ninguém mais se choca. A promotora de Justiça Alexandra Carvalho, numa entrevista ao jornal O GLOBO, sobre a proibição da presença de menores numa exposição de fotografias no Museu de Arte Moderna do Rio (!?) disse que o nu sem direta conotação sexual não infringe nenhum código. Então como entender a proibição do naturismo na praia do Abricó, no Rio de janeiro e estas atitudes violentas de repressão patrocinadas pelo poder público ? Como entender que ainda hoje perdure este tipo de comportamento, especialmente no Rio de Janeiro, cidade famosa por sua ousadia em mudar os conceitos sociais ?
*Naturista e editor do jornal OLHONU
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