Um Século de História
por Paulo Pereira*
Antigo
campo de nudismo na Alemanha |
Os homens e a nudez certamente são velhos conhecidos, até
porque todos nós nascemos nus, como a natureza quer.
É até possível, como sugeriu o escritor francês Jean
Deste, que Deus seja nudista, pai da vida nua... (Le Nudisme - Editions Pierre Horay,
1961).Mas
há quem duvide, quem não veja, quem imagine o ser humano como anjo
vestido.A grande doença
da humanidade ainda é a ignorância.
Por outro lado, devemos considerar que
estar simplesmente
(naturalmente) nu, de corpo despido, não significa necessariamente
ser nudista-naturista, porque adotar uma filosofia de vida é um ato
de consciência e de vontade. Como
eu já afirmei repetidamente, a verdadeira prática nudista começa
na mente, pois é mais importante desnudar-se psicologicamente do
que simplesmente despir-se.
E, para ter uma boa conscientização, é indispensável a
correta informação,
o estudo isento, a pesquisa cuidadosa.O saber não é uma questão de palpites ditados pela preferência
subjetiva de ninguém.Saber
é investigar para conhecer.Mas
é preciso ler e, se possível, o que está escrito oficialmente,
historicamente.
O movimento nudista-naturista está completando um século de
existência, apesar dos fariseus de plantão. Reagindo ao puritanismo exacerbado do século 19, ao excesso
de artificialismos do cotidiano e denunciando todos os preconceitos,
surgiu a proposta, em 1903, do alemão Richard Ungewitter, para uma
vida mais natural e saudável, através da obra pioneira "Os
Homens Deviam Ficar Nus", complementada, em 1904, por outra
ainda mais objetiva, chamada "O Nudismo do Ponto de Vista Histórico,
Moral e Estético ".
Somente cinqüenta anos mais tarde, em 23/08/53, em
Montalivet (França), seria fundada a INF - Federação Naturista
Internacional. A história
não se faz por passes de mágica nem por invencionices. Então, como a Federação Internacional define oficialmente
o Naturismo ? É bom
anotar com atenção a definição oficial adotada em Agde (1974), e
que é a seguinte : "Naturism (Nudism) is a way of life in harmony with nature characterised by the practice of communal nudity,
with the intention of encouraging self-respect, respect for others
and for the environment". Será
que está claro ? Creio
que sim. O
Naturismo-Nudismo é um modo de vida em harmonia com a natureza,
caracterizado pela prática da nudez social (grupal), com a intenção de encorajar o auto-respeito, o respeito
pelos outros e pelo meio-ambiente. A definição oficial não fala em nudez opcional, por
exemplo, ou em hedonismo, além de não excluir ninguém de forma
preconceituosa, colocando os termos "naturismo" e
"nudismo" juntos, sem fazer distinções conceituais.A definição é oficial, conhecida.O resto é, no mínimo, desinformação.
A prática nudista, vale salientar, é colocada pela Federação
Internacional como característica essencial do Naturismo; não se
trata, pois, de um pormenor, de um mero apêndice ou aspecto.O livro de Ungewitter (1904) fala em "nudismo",
conceito histórico-filosófico consagrado por vários autores idôneos,
e, o que é ainda mais importante, formalizado no registro oficial
de pelo menos três federações nacionais filiadas à INF - Federação
Internacional, a saber : ANF - Federação Nudista Australiana, NNF
- Federação Nudista Neozelandesa, e ENS - Federação Nudista
Estoniana. Infelizmente,
como se trata de algo sutil, muita gente desconhece.
Como eu afirmei em "Corpos Nus", ano 2000, tenho
preferência pelo termo "naturismo", mas, por coerência
histórico-filosófica, não alimento qualquer conotação
pejorativa ou preciosa em relação ao termo "nudismo".O gosto pessoal
e até o possível apelo comercial podem explicar, mas não
justificam contrariar, inclusive de forma pueril, o que está
registrado oficialmente, no INF - Hand Book
(Guia Mundial da INF).É simples. Basta lembrar
ainda que o Guia Mundial da INF, anota, no capítulo intitulado
"O que faz a INF", página 32 - edição 2001, o seguinte
aspecto : "It represents the interests of many hundreds of
thousands of members and millions of unorganised but practising
naturists, nudists or sunbathers all over the world".
Devemos
notar que a Federação Internacional diz representar os interesses
de muitas centenas de milhares de seus membros e de milhões de não
filiados praticantes (naturistas, nudistas ou banhistas do sol)
por todo o mundo. Os termos "naturistas" e
"nudistas", mais uma vez, estão juntos.
Durante um século de profícua atividade, o movimento
naturista cresceu e se firmou, sobretudo, pelo respeito e coerência
em relação aos seus princípios básicos. Hoje, o Naturismo movimenta muitos milhares de dólares ao
redor do mundo, incluindo centenas de bons clubes e mais de mil
praias livres. Devemos
agir, mais do que nunca, de forma fraterna, preocupados com a ética,
com a boa informação e com a participação fundamental da família.
Ao comemorar nosso centenário, devo mencionar, como
homenagem, os nomes de Luz Del Fuego ( Dora Vivacqua ), de Osmar
Paranhos e de Daniel de Brito, especialmente, porque sua luta e seus
exemplos dignos certamente ajudaram muito a construir, de forma
nobre, a grande obra naturista brasileira, numa época
tão difícil.
Em tempo: li em "Olho
Nu", de setembro de 2003, uma interessante página escrita pelo
nosso amigo Valdir (Recanto Paraíso), e quero congratular-me com ele por suas palavras oportunas, quando destaca que
"na verdade, nada contra, pois que nós naturistas também
somos nudistas". Peço
permissão para acrescentar alguns detalhes, à guisa também de
possível esclarecimento.A confusão referida, dita temática, mostra-se mais como
fruto de desinformação de alguns, quer dizer; falta pesquisa,
falta consultar o que diz a Federação Internacional, falta ler
mais e melhor. De fato, Valdir tem razão, o termo "naturalista (ismo)"
surge freqüentemente, antes de mais nada pela preguiça de ler. No meu próprio livro "Corpos Nus", ocorreu um erro
da gráfica, na lombada, onde lemos "Um Testemunho
Naturalista" em vez de "Naturista", mas quem leu o
livro com isenção certamente encontrou respostas bem fundamentadas
para muitas questões.Finalmente,
por dever de ofício, como biólogo, gostaria de aduzir que a pele
humana, constituinte maior do sistema tegumentar, cumpre,
sobretudo, funções nobres, como respiração, transpiração,
regulagem térmica, tato, isolamento, etc...Mas não percebo a função de esconder nada, embora eu
entenda a colocação criativa e bem humorada do amigo Valdir. Eu diria, como alternativa, que a nudez, esta sim, é nossa
vestimenta natural...
(Todas
as fotos aqui apresentadas são apenas ilustrativas e colhidas
livremente pela Internet)
*estudioso
do naturismo
ppereiranewosborn@yahoo.co.uk
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